Em que país do mundo o presidente apareceria na televisão para vender fogões, geladeiras e máquinas de lavar? Em nenhum tido como sério, provavelmente. Mas isso tem acontecido na Venezuela, de Hugo Chávez. Vestido com o tradicional blusão com as cores da bandeira do país, e em plena corrida eleitoral, ele decidiu atuar como garoto-propaganda de eletrodomésticos e, em tom populista, até criou duas novas categorias de preços: o socialista, de produtos mais baratos produzidos na China e vendidos em lojas subsidiadas pelo governo, e o capitalista, classificação para todas as outras marcas.

 

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Garoto-propaganda: o “comandante” Chávez definiu uma nova categoria de preço: a socialista 

 

“Não compre esse capitalista. O pobre ar-condicionado não tem culpa. É produto do trabalho do homem que transformaram em mercadoria”, disse o presidente. O show circense causou impacto. Em uma semana, segundo o instituto Hinterlaces, a aprovação popular subiu de 39% para 46%.

 

O stand up comedy de Chávez na televisão pode parecer engraçado, mas tem sido uma piada de mau gosto para a economia do país. A Venezuela é a única nação da América Latina em recessão. O desemprego atingiu 32% em agosto, segundo a Comissão Econômica para América Latina (Cepal), embora a estatística oficial indique 8,2%, e o PIB encolheu 5,8% no primeiro semestre, enquanto a América Latina cresceu quase 10% no mesmo período – desempenho que inspirou a capa da revista The Economist da última semana. 

 

No picadeiro do comandante Chávez, a inflação acumulou 19,9% entre janeiro e agosto, e deve fechar acima de 35% neste ano. A produção de petróleo – principal fonte de riqueza local e que livra o país de ser uma Bolívia piorada – caiu 5% neste ano em razão dos problemas estruturais.

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Não bastasse o colapso econômico, Chávez tem atacado a liberdade de imprensa e os diretos individuais, garantidos pela Constituição venezuelana. Mas ele não parece estar preocupado com isso. Pouco tempo atrás, mandou exumar o corpo de Simón Bolívar, o herói da independência, para provar que ele foi assassinado. 

Mandou também estatizar redes de supermercados e siderúrgicas. Nem os hotéis escaparam. Quem hoje decidir se hospedar em algum hotel Hilton na Venezuela, estará, na verdade, em uma unidade do Hotel Bolivariano Hugo Chávez.