No começo de abril do ano passado, quando os fabricantes de chocolates já se debruçavam sobre o planejamento da Páscoa de 2014, não era possível ter uma previsão confiável sobre o ambiente econômico neste ano. Nenhum analista era capaz de cravar se o Brasil teria um “pibinho” ou um “pibão” pela frente. Em meio a um cenário nebuloso, inclusive do ponto de vista internacional, havia apenas uma certeza: a de que o calendário jogaria a favor do setor. O fato de o domingo de Páscoa cair no dia 20 de abril, longe dos meses iniciais do ano, é um garantia de vendas aquecidas. 

 

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“Até março, ainda há muitos gastos, como IPVA, IPTU e despesas escolares”, diz Ubiracy Fonseca, vice-presidente da área de chocolates da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). “Com a Páscoa na segunda quinzena de abril, o orçamento doméstico fica menos pressionado, favorecendo o nosso setor.” Embora o período de vendas de ovos de Páscoa se concentre em apenas 40 dias, o feriado religioso representa 25% do faturamento anual dos fabricantes de chocolates, uma das vedetes da poderosa indústria de alimentos, que movimentou R$ 290 bilhões no ano passado. 

 

O setor de chocolates, sozinho, faturou R$ 9 bilhões, segundo pesquisa da IPC Marketing Editora. Portanto, ganhar mercado nessa época é uma obsessão para as principais empresas – e pode significar a diferença entre ter um ano promissor ou desastroso. A Lacta, marca brasileira do grupo americano Mondelez, lidera há 17 anos o ranking dos ovos mais vendidos, com o tradicional Sonho de Valsa. Para não perder o posto, contratou oito mil promotores de vendas que serão espalhados nas principais redes varejistas do País. “O baixo desemprego e a renda em alta animam os consumidores”, diz Maykon Vieira, gerente de marketing da Mondelez Brasil, que concentra a produção em Curitiba. 

 

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Anderson Freire, executivo da Arcor no Brasil: ”Contratamos mais

de duas mil pessoas para crescer 30% nesta Páscoa”

 

A ascensão de milhões de consumidores à chamada nova classe média fez com que a produção de chocolate quase dobrasse no Brasil entre 2006 e 2011, atingindo o pico de 817 toneladas (veja gráfico ao final da reportagem). Com isso, o País tornou-se o terceiro maior mercado consumidor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. Segundo a Abicab, o consumo per capita anual do brasileiro passou de 300 gramas para 2,8 quilos nesse período. “Ainda assim, estamos distantes dos europeus, que comem até dez quilos por ano”, diz Fonseca, que prevê um “crescimento significativo” do setor neste ano, “bem superior ao PIB”. 

 

As projeções da entidade, no entanto, ainda não estão concluídas. De olho nesse potencial, a suíça Nestlé aumentou em mais de cinco mil funcionários a sua equipe na fábrica instalada na capital paulista e nos pontos de venda. “Estamos vendo 2014 com muito otimismo”, diz Ricardo Bassani, gerente de marketing da Nestlé. Há, no entanto, alguns ingredientes econômicos que podem apertar as margens de lucro do setor, como a alta do dólar e de alguns insumos. No ano passado, o preço internacional do cacau subiu 3,3% em média e 10,2% no mercado interno. Apenas uma parte do cacau é produzida na Bahia e o restante vem de países como Costa do Marfim, Gana e Equador. 

 

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Liderança: a Lacta, do grupo americano Mondelez, investe em mão de obra

para ampliar a produção de ovos de Páscoa. A tradicional marca Sonho de Valsa

é a campeâ de vendas há 17 anos

 

Por isso, segundo os fabricantes, os ovos de chocolate estão até 10% mais caros na Páscoa deste ano. Para a fabricante argentina Arcor, no entanto, o mercado brasileiro continua sendo um mar de oportunidades. “Contratamos mais de duas mil pessoas para crescer 30% nesta Páscoa”, diz Anderson Freire, gerente da Arcor no Brasil, que aposta principalmente no público infantil. A fábrica da empresa fica em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Na hora de projetar o cenário para 2014, os fabricantes incluíram até um “efeito Copa do Mundo” nas suas contas. 

 

Diante de um clima festivo e de confraternização, há a expectativa de que a demanda por doces aumente inclusive em mercados menos promissores, como o da região Nordeste – por questões culturais e climáticas, os nordestinos consomem um terço menos chocolate do que a média dos brasileiros. Com cinco fábricas e 1.570 lojas espalhadas em todos os Estados, a Cacau Show prevê crescer em 24% o volume de vendas neste ano. Para quem está desanimado com a possibilidade de um ano morno, do ponto de vista econômico, o empresário Alexandre Costa, que criou a Cacau Show há 25 anos, dá o recado: “Você pode ser vítima ou protagonista. A gente prefere inovar, contratar pessoas, abrir lojas e ir para frente.” Como se diz no futebol, o negócio é dar um verdadeiro “chocolate” nos pessimistas de plantão.

 

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