Há pouco mais de quatro anos, quando mudou a legislação que rege o setor de petróleo, o governo anunciou que criaria uma empresa para cuidar dos contratos de exploração na camada do pré-sal, que funcionam no sistema de partilha – ou seja, os lucros da operação são divididos com o governo, depois do pagamento das despesas de extração. A nova estatal foi apelidada de Petro-sal e foi vista com má vontade pelo mercado, que temia que se transformasse num cabide de empregos ou de indicações políticas. Na segunda-feira 14, uma semana antes do leilão do Campo de Libra, quando o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou a equipe que vai dirigir a Pré-Sal Petróleo S.A., a PPSA, a reação foi de alívio. 

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Pedrosa, da PPSA: ”Vamos maximizar os lucros da Petrobras e de seus parceiros”

 

 

A receptividade do mercado já havia sido “testada” na semana anterior, quando os nomes vazaram e o ministro não ouviu reclamações. Todos os indicados são técnicos tarimbados da área de petróleo, fizeram carreiras na Petrobras e ultimamente atuavam em empresas menores do setor privado.   O destaque fica por conta do presidente da PPSA, o engenheiro mecânico Oswaldo Pedrosa Júnior, 63 anos, formado pela Universidade Federal Fluminense. Com doutorado na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, Pedrosa Júnior é aposentado da Petrobras, onde ingressou em 1973. 

 

 

 

Durante 25 anos, trabalhou no Centro de Pesquisa (Cenpes) da estatal e chegou a chefiar a atual presidente, Graça Foster, que participou da sua indicação à presidenta Dilma Rousseff. Em 1998, quando a Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi criada, Pedrosa se tornou o superintendente de Desenvolvimento da Produção, posto que ocupou até 2003. Nos últimos dez anos, exerceu funções técnicas em empresas privadas, como a Quantra, a Aurizônia e a Potióleo, todas do segmento de óleo e gás. Também atuou na petroleira HRT, onde era gerente-executivo do campo de Polvo, na região de Macaé, no Rio de Janeiro, no qual a empresa tem 60% de participação. 

 

 

 

Pedrosa é elogiado por quem trabalhou com ele pelo seu conhecimento técnico. Sempre esteve em cargos de média gerência e nunca havia ocupado um posto de direção. Quando deixou a Petrobras, também atuou em entidades do setor, como a Organização Nacional do Petróleo (Onip), que reúne fornecedores de equipamentos para a cadeia do petróleo, e a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), onde defendeu a maior participação das empresas de pequeno porte no mercado, com regras específicas para facilitar a disputa. 

 

 

 

O pleito foi atendido pelo governo, com a realização de leilões com a participação dessas empresas. Os outros diretores da PPSA têm perfil semelhante ao de Pedrosa, com longas passagens pela Petrobras antes de ingressar no setor privado. Entre eles, está o engenheiro civil Edson Yoshihito Nakagawa, que deixa a GE para assumir a diretoria técnica e de fiscalização. O geólogo Renato Marcos Darros de Matos assumirá a diretoria de gestão de contratos e o administrador de empresas Antonio Cláudio Pereira da Silva será o diretor de administração, controle e finanças. O secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Martins Almeida, completa o time como presidente do Conselho de Administração.

 

 

 

O critério técnico da diretoria da PPSA foi uma exigência da presidenta Dilma. Segundo o ministro Lobão, os nomes surgiram a partir de uma extensa lista de profissionais qualificados. “É uma sinalização para o mercado do que queremos com essa empresa”, disse o ministro, que na segunda-feira à tarde acompanhou Pedrosa em uma audiência com a presidenta no Palácio do Planalto. Para Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), crítico contumaz da atuação do governo na área de energia, o nível técnico da diretoria tranquilizou o mercado, que temia indicações políticas. 

 

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Ele elogiou a capacidade de Pedrosa, com quem trabalhou na ANP no fim dos anos 90, mas não deixou de lamentar o fato de todos os escolhidos terem feito carreira na Petrobras. “Fica uma coisa ligada demais à empresa”, afirma. A estatal recém-criada terá pouco mais de 100 funcionários e um orçamento de R$ 15 milhões para este ano. A função da PPSA, na avaliação do ministro Lobão, é defender os interesses da União no novo mercado de petróleo, que será inaugurado com o leilão do Campo de Libra nesta semana. Pedrosa garante que haverá uma convergência natural de interesses entre a PPSA e as empresas que vão operar os campos do pré-sal. 

 

 

 

Pelo sistema de partilha, a Petrobras e suas sócias dividem com a União o resultado da venda do produto, descontadas as despesas. O que a PPSA vai fazer é acompanhar essa contabilidade. “Temos a função de fiscalizar o operador do pré-sal para garantir que os principais objetivos sejam alcançados”, diz Pedrosa. O consórcio que arrematar Libra terá de bancar os gastos iniciais de operação, que serão contabilizados como “custo em óleo” e descontados do que é devido ao governo depois que o petróleo começar a jorrar. “O objetivo é buscar a maximização dos resultados, tanto para a Petrobras e seus parceiros, quanto para a União”, afirmou o novo CEO do pré-sal.