“Eu nunca tinha pisado aqui até ontem”, disse o executivo Roberto Lima, enquanto se preparava para fazer a sessão de fotos que ilustra esta reportagem, na quarta-feira 27, dia em que foi anunciado chairman da rede de agências da Publicis Worldwide no Brasil e membro do seu comitê executivo global. Ex-CEO da Vivo e com passagens por Saint Gobain, Rhodia, Accor e Citibank, Lima vai estrear no mercado publicitário. “Vou trabalhar para que as agências no Brasil incorporem a cultura do grupo”, disse o executivo, que também faz parte dos conselhos de administração do Pão de Açúcar, da Telefônica, da Natura, da Rodobens Negócios Imobiliários, da francesa Edenred e da sul-africana MIH Naspers. 

 

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Time reforçado: Sadoun (à esq.) e Lima serão os líderes de nove agências no Brasil

 

“Preciso garantir que a entrega dos serviços no Brasil seja do mesmo nível praticado pela organização no Exterior.” Lima será responsável por uma das galáxias mais importantes dentro do universo de agências ligadas à holding resultante da fusão, em julho deste ano, entre o grupo francês Publicis Groupe e o americano Omnicom – a união deu origem à empresa líder da publicidade mundial, com faturamento de mais de US$ 20 bilhões. A Publicis Worldwide é uma das mais importantes bandeiras desse gigante da propaganda. As negociações para trazer o executivo brasileiro começaram há três meses. 

 

“Roberto sabe como gerenciar uma organização ambiciosa e é um executivo internacional”, disse Arthur Sadoun, que assumiu em outubro o cargo de CEO da Publicis Worldwide. “A rede Publicis é formada por uma soma de excelentes pequenas empresas, mas é importante ter alguém observando de cima, para dar uma perspectiva global aos negócios.” O fato de Lima ter proximidade com a cultura francesa também ajudou na escolha. Além de ter atuado nas gigantes do país europeu Rhodia, Accor e Saint Gobain, ele fez curso de especialização em finanças e planejamento estratégico na Hautes Études Comerciales, uma das principais instituições de ensino superior em gestão da França, localizada no subúrbio de Paris.

 

A rede sob o comando de Lima compreenderá nove agências, divididas em dois braços (leia quadro ao final da reportagem). O primeiro deles terá como CEO Julio Ribeiro, um dos mais importantes publicitários brasileiros das últimas quatro décadas, que cuidará das agências Talent e QG. O outro inclui todas as agências que levam a marca Publicis no nome, mais as agências especializadas em internet Razorfish e Digitas. O comando dessa divisão continua nas mãos de Orlando Marques. Todas as empresas sob a batuta de Lima respondem por mais de R$ 1 bilhão em compra de espaço publicitário por ano. Elas também são responsáveis por algumas das mais importantes contas do País, como Ipiranga, Natura, Bradesco, P&G, General Motors e Nestlé.

 

O próprio Sadoun, que veio ao Brasil para anunciar a mudança no grupo, acompanhará de perto os negócios. “Estarei aqui a cada dois meses”, diz. O publicitário francês, que é uma celebridade do mercado em seu país, já trabalhou para a Omnicom, mas agora afasta qualquer relação com esse lado do grupo. Sua principal preocupação está em negar os rumores de que o conglomerado Publicis Omnicom pretende promover a fusão entre algumas das mais de 20 empresas que possui no Brasil. “Eu venho da publicidade, não de finanças, e sei que as fusões nesse setor acabam com marcas e fazem perder clientes”, diz Sadoun.

 

O executivo francês também mostra irritação com sugestões de que o grupo pode ter influências excessivas nas operações no Brasil. “Odeio quando pessoas de fora querem ensinar o que fazer no nosso próprio país”, afirma. “Qualquer mudança que possa acontecer aqui virá de uma estratégia brasileira, não de Paris.” Mas essa independência dependerá bastante do desempenho do time de Lima, no momento em que o mercado publicitário abandona as taxas de crescimento acima de 10% para se mover a taxas modestas. Segundo o projeto Inter-Meios, que realiza pesquisas sobre o setor, o investimento em publicidade no Brasil cresceu 3,11% no primeiro semestre de 2013, em comparação ao mesmo período de 2012.

 

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