O legendário Leonel Brizola, ícone do trabalhismo brasileiro, tinha apenas 24 anos quando se elegeu deputado federal pela primeira vez, pelo finado PTB. Carlos Daudt Brizola, neto do líder trabalhista que fundou o PDT em 1980 – e onde a presidenta Dilma Rousseff militou por 20 anos – , também começou cedo, ao eleger-se vereador pelo município de Porto Alegre com 26 anos, em 2006. Na semana passada, Brizola Neto, como é mais conhecido, superou o avô, que jamais chegou a ocupar um cargo no primeiro escalão no governo federal, ao tornar-se o ministro mais jovem da Esplanada, assumindo, aos 33 anos, a pasta do Trabalho e Emprego. 

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Brizola Neto (à esq.) e o avô, fundador do PDT: a tradição da família fez com que seu nome

fosse bem-aceito pelos sindicalistas.

 

Deputado federal em segundo mandato pelo PDT do Rio de Janeiro, foi uma escolha pessoal da presidenta, mas, de certa forma, recoloca o partido na coligação do governo. Um dos desafios do novo ministro é recompor a relação com os empresários, que deixaram o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) depois que o ex-ministro Carlos Lupi tentou reduzir a importância das entidades patronais no Fundo. Responsável pelo pagamento de seguro-desemprego e abono salarial, o FAT tem exercido, nos últimos anos, um papel importante no estímulo aos investimentos privados no País, ao reforçar o caixa do BNDES, para financiamento às empresas. Neste ano, dos R$ 41,5 bilhões do FAT, R$ 15 bilhões serão destinados ao banco estatal. 

 

Outro desafio é unir os sindicatos e as centrais de trabalhadores em torno do ministério e agregar a bancada do PDT para votar em bloco com o governo. Brizola Neto tem pouca experiência na área – ocupou por três meses a Secretaria de Estado de Trabalho e Renda no Rio de Janeiro, Estado que foi governado duas vezes por Leonel Brizola –, mas a tradição do partido e da família fez com que seu nome fosse bem-aceito pelas centrais sindicais. Em breve discurso durante a sua posse, na quinta-feira 3, a presidenta Dilma fez questão de compará-lo a outro antepassado ilustre do ministro, seu tio-avô, João Goulart, o Jango, presidente entre 1961 e 1964, quando foi deposto pelo regime militar. 

 

Uma década antes, Jango também fora ministro do Trabalho durante o governo de Getúlio Vargas (1951-1954), com apenas 34 anos. “Foi Jango quem deu à pasta do Trabalho grande peso político”, disse Dilma. “Nomear Brizola Neto reforça, em meu governo, o reconhecimento da importância histórica do trabalhismo na formação do nosso País.” Ainda como deputado, o novo ministro já falava também a língua dos sindicatos. Brizola Neto defendia, por exemplo, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Um projeto sobre o assunto já foi aprovado nas comissões da Câmara. Agora, como ministro, vai aguardar a determinação da presidenta Dilma para se manifestar sobre o assunto. No discurso de posse, ele não adiantou os planos para o ministério, mas destacou o bom momento do País. 

 

“O pleno emprego seria um privilégio apenas do Primeiro Mundo, mas essa já é uma realidade que acontece no Brasil”, disse o ministro. O índice de desemprego de 6,2% em março, medido pelo IBGE, o menor da série histórica para um mês de março, garante um cenário de tranquilidade para o novo titular da pasta de Trabalho. “A taxa deve continuar em queda, com aumento de vagas com carteira assinada”, diz Clemente Lúcio, diretor do Dieese. Mais emprego ajuda a elevar a renda do trabalhador. No ano passado, 87% dos reajustes negociados entre empresas e empregados tiveram correção acima da inflação. Neste ano, o Dieese prevê que a trajetória declinante dos preços ajude a manter esses números. 

 

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