As histórias dos homens mais ricos do mundo guardam, via de regra, um ponto em comum. Bill Gates, fundador da Microsoft, Amancio Ortega, dono da grife Zara, e tantos outros bilionários fizeram fama e fortuna com empresas que eles criaram e ajudaram a transformar em gigantes do mundo corporativo. O americano Eric Schmidt é um dos raros contrapontos a esse roteiro. Aos 60 anos, ele construiu boa parte de seu patrimônio de US$ 10,9 bilhões sem fundar uma única empresa e é um dos poucos do mundo a ficar bilionário apenas como executivo.

Seu grande feito? Em dez anos como CEO do Google, Schmidt ajudou a transformar a empresa fundada por Larry Page e Sergey Brin em uma gigante, avaliada em US$ 512 bilhões e atrás apenas da Apple no setor de tecnologia. Com isso, observou sua conta bancária engordar com ações, bônus e compensações. Dono de uma fortuna de US$ 25,2 bilhões, o ex-CEO da Microsoft, Steve Ballmer, é um dos poucos paralelos a essa trajetória. Contudo, há diferenças entre os dois executivos.

“À parte de suas qualidades, a ascensão de Ballmer se deve à sua relação com Gates, de quem era colega em Harvard”, diz Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint Technologies Associates. Formado em engenharia elétrica e PhD em ciência da computação, Schmidt, por sua vez, já tinha histórico como executivo e desenvolvedor de softwares em empresas como a Sun Microsystems e a Novell, onde foi CEO, de 1997 a 2001, antes de assumir o Google.

“Ele foi contratado para que uma empresa comandada por garotos tivesse a ‘supervisão de um adulto’”, afirma Kay. Em resumo, ele foi uma espécie de tutor dos garotos do Google até 2011, quando Page assumiu o comando. “O Google precisava de alguém que soubesse liderar grandes times em companhias abertas”, diz Vivek Wadhwa, membro eminente da Singularity University e da Stanford University. Schmidt manteve o cargo de chairman do Google (que passou a se chamar Alphabet). Mas isso não significa que desconfie da capacidade de seu sucessor.

“O Larry está pronto para liderar”, disse ele. Fora do dia a dia da operação, Schmidt encontra tempo para se dedicar a outros projetos. Em 2006, fundou a Schmidt Family Foundation, que financia projetos de sustentabilidade. Três anos depois, criou o Innovation Endeavors, fundo que já investiu no Uber. Como investidor-anjo, também fez aportes em 17 startups. Outra tacada veio em abril. Por meio da Hillspire, firma de investimentos da sua família, comprou 20% da D. E. Shaw, gestora de fundos de hedge. Quem sabe, agora, ele construa o seu próprio império.