30/05/2014 - 20:00
Em vez de números e contratos, a disputa entre Brasil e Croácia na partida inaugural da Copa do Mundo, no dia 12 de junho, na Arena Corinthians, em São Paulo, será o principal assunto entre os executivos da Lorenzetti e cinco distribuidores internacionais que vêm assistir ao jogo in loco, no Itaquerão. No dia seguinte, os clientes da Costa Rica, do Paraguai, do México, da Argentina e da Colômbia, trazidos pela fabricante de duchas e chuveiros elétricos, serão convidados a conhecer a fábrica da empresa, no bairro paulistano da Mooca, e seus planos de novos negócios para esses países.
Quebrando a velha máxima de que prazer e negócios não se misturam, a Lorenzetti será uma das 650 empresas nacionais a usar o maior torneio de futebol do mundo para se aproximar dos fornecedores, tornar suas marcas mais lembradas e, claro, fechar negócios. Durante o torneio, cerca de 2,3 mil empresários de 104 países irão acompanhar a brazuca e as seleções, com um olho, e, com o outro, as oportunidades para ganhar dinheiro com o Brasil. Empresas como Lorenzetti, Mormaii, Garoto, GE e Plasútil, entre outras, estão aproveitando essa chance para estreitar o relacionamento com os clientes e, assim, ampliar as vendas de seus produtos lá fora.
A ideia é usar o futebol como chamariz para atrair empresários que normalmente não se disporiam a se deslocar até o Brasil apenas para conhecer as linhas de produção ou fechar um contrato. Numa ação semelhante, na Copa das Confederações, no ano passado, a Lorenzetti colheu bons resultados, elevando em 15% as exportações da empresa para Costa Rica e Paraguai, de onde vieram os executivos convidados. “Eles ficaram impressionados, o que gerou abertura para negócios e impulsionou as vendas”, conta o diretor-presidente da Lorenzetti, Eduardo Coli. Para a Copa do Mundo, ele espera resultados ainda melhores, mas prefere não arriscar números.
A Mormaii, grife catarinense de roupas e equipamentos de surfe, também repetiu o convite a um representante paraguaio, que no passado assistiu a uma partida da Copa das Confederações e, em seguida, abriu uma segunda loja no País, dobrando as vendas. Agora, o objetivo é abrir uma linha de produção no país vizinho, com o licenciamento da marca. “Teremos três dias para conversar sobre a empresa e explicar por que o Brasil está tão popular no exterior”, diz Jacqueline Mendonça, gerente de comércio exterior da Mormaii, que desta vez também vai ciceronear o distribuidor do México, onde a empresa quer entrar.
A meta é gerar pelo menos US$ 500 mil em vendas com os dois países em 2015. Como nos casos da Mormaii e da Lorenzetti, 47% dos empresários e executivos convidados para a Copa já estão na América do Sul, onde a indústria nacional é mais competitiva e existem mais chances de ampliação de vendas. A Plasútil, fabricante de utensílios de plásticos com sede em Bauru, no interior de São Paulo, também aposta nos vizinhos para fazer frente aos chineses e manter suas exportações. A empresa convidou distribuidores da Costa Rica, Colômbia e Uruguai, destino de 25% de suas vendas ao exterior, para jogos das oitavas e semifinal da competição.
“Queremos fidelizar”, diz Everson Targas, diretor de exportação. Depois dos jogos, os convidados serão levados à fábrica para conhecer a nova linha de móveis de plástico, novo mercado da empresa. “Estreitar laços é extremamente importante, porque 80% das vendas são feitas através de relacionamento”, conta Targas. Para isso, as companhias contam com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), que, por determinação do presidente Maurício Borges, definiu um plano para atrair estrangeiros, oferecendo os ingressos e o custeio das despesas de representação dos executivos nos dias de jogos. A atração de novos negócios durante a Copa não tem como alvo apenas os parceiros estrangeiros.
No país do futebol, um convite para assistir a um jogo do Mundial também é muito valorizado pelos brasileiros. O Rio de Janeiro, palco da partida de encerramento, quer usar os dias em que não haverá jogos para atrair investimentos para a cidade. A Agência de Promoção de Investimentos, da Prefeitura carioca, vai reunir autoridades, empresas, fornecedores e investidores durante seis dias na Rio Conference, mostrando as oportunidades nos setores de petróleo e gás, tecnologia, audiovisual, saúde e infraestrutura. Entre o Maracanã e o Corcovado, os organizadores esperam convencer de que há mais do que turismo e futebol na cidade maravilhosa.