22/12/2010 - 21:00
Manhã do dia 30 de novembro. A candidata do PT, Dilma Rousseff, encerra o segundo turno da campanha à Presidência com uma carreata pelas rodovias de Minas Gerais e, preocupada com o péssimo desempenho do peemedebista Hélio Costa ao governo do Estado, confidencia a insegurança ao amigo de escola Fernando Pimentel: “Vamos ganhar? Está equilibrado?” O interlocutor perdeu o posto de coordenador da campanha em junho, quando estourou o escândalo dos dossiês preparados por ele contra tucanos, mas continuou a gozar da confiança de Dilma. A fragilidade demonstrada pela candidata naquele momento é para poucos e, no mundo político, tem em Pimentel uma exclusividade.
Fernando Pimentel: homem de confiança de Dilma Rousseff, ele terá no MDIC o desafio
de aumentar a competitividade dos exportadores brasileiros no mercado internacional
Construída desde os tempos de militância estudantil contra a ditadura, a relação de confiança entre a presidente eleita e o ex-prefeito de Belo Horizonte não tem paralelo no alto escalão do próximo governo e garantiu a Pimentel um convite para chefiar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em 2011.
Alvo de reclamações nos últimos anos pela passividade na resposta a um real valorizado que prejudica a competitividade das empresas brasileiras, o ministério será pressionado a agir de forma mais agressiva na busca de novos mercados externos e a reduzir impostos para diminuir o custo do produto brasileiro em relação aos concorrentes.
Economista formado pela PUC-MG e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais, Fernando Pimentel é fundador do PT em Minas e começou sua carreira na administração pública como chefe da Secretaria de Fazenda do então prefeito Patrus Ananias, no início da década de 1990.
Eleito vice-prefeito na chapa de Célio de Castro, em 2000, Pimentel assumiria a Prefeitura no fim de 2001, graças ao licenciamento do titular por motivo de saúde, e acabaria se reelegendo com 70% dos votos, em 2004.
O economista foi eleito o oitavo melhor prefeito do mundo pelo site britânico Word Mayor, em 2005, e encerrou o segundo mandato em 2008 com índice de aprovação superior a 90%. Pimentel conseguiu inclusive fazer seu sucessor, Márcio Lacerda, numa polêmica aliança com o tucano Aécio Neves.
Mas a popularidade na capital não foi suficiente para elegê-lo senador no pleito deste ano – com menos de um quarto dos votos, perdeu para Itamar Franco e Aécio Neves.
Companheiros de campanha: Fernando Pimentel perdeu o posto de coordenador da campanha de Dilma em junho,
no escândalo dos dossiês contra tucanos, mas manteve a confiança da presidente eleita
A amizade com Dilma vem do tempo em que ambos estudaram no colégio estadual central, de Belo Horizonte, nos anos 60, e militaram no Colina (Comando de Libertação Nacional). Ele costuma relatar como “chocante” sua primeira impressão da atuação política da então líder estudantil Dilma Rousseff.
Pimentel ficou impressionado por se tratar de uma mulher, de classe média. Nos anos 70, os dois dividiram o banco dos réus num julgamento militar, depois que Pimentel ficou três anos preso.
Pimentel assume o Ministério do Desenvolvimento com a incumbência de implementar a segunda fase da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP 2), que prevê a redução dos gargalos na logística e a desoneração tributária das exportações em algumas cadeias produtivas.
A criação do Ministério da Micro e Pequena Empresa, prometido por Dilma na campanha, deve lhe permitir concentrar esforços para solucionar problemas maiores, como os causados pelo câmbio.
A atual gestão do ministério, do ministro Miguel Jorge, tem recebido mais críticas que elogios dos industriais decepcionados com a lentidão do governo em elaborar medidas para proteger o setor da concorrência dos importados.
No balanço de fim de ano da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na terça-feira 14, o presidente Robson Andrade criticou a ausência de uma política comercial mais agressiva no mercado internacional e mencionou “preocupação com a desindustrialização e com a possibilidade de alguns setores desaparecerem”.
Na avaliação dele, mantida a atual política, o saldo da balança comercial cai para apenas US$ 4 bilhões em 2011 e será negativo em 2012. Andrade evitou críticas diretas ao ministro Miguel Jorge, mas exaltou as qualidades do economista Pimentel, um gestor com vasta experiência.
“É uma pessoa muito bem preparada, muito capaz, tem formação e experiência de gestão pública em uma das maiores capitais do Brasil”, disse à DINHEIRO. Ele também confia que a futura presidente dará uma atenção especial ao setor. “A presidente tem uma visão desenvolvimentista e atribuiu importância à equipe econômica e ao ministro do Desenvolvimento”, afirmou.
De pensamento econômico comparado ao do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Pimentel chegou a ter seu nome ventilado para ocupar o Ministério da Fazenda no segundo mandato de Lula.
Quando perguntado sobre sua indicação para o Desenvolvimento, Pimentel limitou-se a dizer que recebeu um convite genérico. “Esse tipo de especulação sempre surge porque sou economista e tenho boa relação com os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior”, desconversou.
“Mais do que um político, ele sempre foi considerado um técnico de muita capacidade no partido”, diz o deputado federal Miguel Corrêa Jr., que foi líder de governo na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte durante a gestão de Pimentel.
Corrêa Jr. lembra que sempre que o prefeito precisava resolver problemas em Brasília, ia direto ao gabinete da ministra da Casa Civil – e mesmo quando a viagem não justificava uma visita a Dilma, Pimentel dava um jeito de passar em seu gabinete. As visitas devem se tornar mais frequentes nos próximos quatro anos.
Colaborou Guilherme Queiroz