Em 2003, o empresário argentino Nicolás Tejerina, hoje com 39 anos, aproveitou o tempo de voo entre Buenos Aires e Espanha para decorar os argumentos que iria apresentar aos executivos do grupo espanhol Terra, da Telefónica. Seu objetivo era comprar o combalido e deficitário portal de recursos humanos Bumeran.com, do qual havia participado do processo de criação, em 1999. Quando se sentou à mesa, contudo, foi surpreendido pela proposta dos espanhóis. Com apenas um euro, ele poderia ficar com o controle do site. Desde que, é claro, ficasse com a dívida de US$ 500 mil. Havia, no entanto, um problema inusitado. Ele não tinha o tal euro no bolso no momento da reunião. “Os executivos do Terra tiveram que me dar a moeda, para podermos fechar negócio”, diz Tejerina.

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Dez anos depois, aquela moeda emprestada foi a melhor aplicação que Tejerina poderia ter feito. Hoje, o empresário argentino é dono do grupo Navent, maior rede de sites de empregos e imóveis da América Latina, com um faturamento de US$ 60 milhões. Ele está presente em oito países, conta com 26 escritórios na região e emprega 450 funcionários. Grandes fundos de private equity apostaram na Navent. O fundo de internet Tiger Global Management, por exemplo, já fez aportes de US$ 70 milhões. Em novembro do ano passado, o Riverwood Capital injetou US$ 30 milhões. Parte do dinheiro foi usada para consolidar sua presença no Brasil, adquirindo a totalidade das ações do site de imóveis Imovelweb, de quem já era sócio – com 10% de participação comprada em 2010. 

 

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“Hoje, uma pequena parcela de imobiliárias e imóveis está presente e disponível na internet”, afirmou Tejerina. “Nós vamos crescer junto com esse segmento.” A operação do Imovelweb no Brasil, comandada pelo diretor de operações Paulo Samia, será guia para os outros cinco mercados onde a Navent tem portais de imóveis. A empresa espera desenvolver suas tecnologias e implementar suas novas ferramentas primeiro no País. A escolha do Brasil como “laboratório” é simples: ele está avançado em relação aos outros mercados da América Latina. “O Brasil está um passo à frente”, diz Tejerina. “Sei o que vai acontecer daqui a alguns anos nos outros mercados, observando o que acontece hoje aqui no Brasil.” O plano é transformar o Imovelweb em uma espécie de central de dados sobre os bairros. 

 

 

 

Além das informações-padrão, como fotos e vídeos da casa, a companhia oferece mapa da criminalidade e desenvolvimento da redondeza. “Hoje 75% das buscas por imóveis começam na internet”, afirma Samia. A mobilidade também será explorada pela Navent. Uma das tecnologias em que a empresa trabalha é a de mapeamento de ofertas, usando o recurso de localização dos dispositivos móveis. “Com um tablet ou smartphone, o usuário saberá as casas à venda no local em que estiver”, diz Tejerina. A aposta no setor é pesada. A empresa pretende crescer dois dígitos nos próximos anos, um aumento quase todo baseado no segmento imobiliário. Os portais de empregos, que são a origem da Navent, continuarão como base da empresa.

 

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Laboratório: a Imovelweb, comandada por Samia, será a plataforma

que liderará as inovações da Navent em imóveis

 

Especialmente pela relação afetiva que Tejerina tem com esse setor. Ainda jovem, o argentino trabalhou em algumas empresas locais de tecnologia e foi para os Estados Unidos. Lá, observou o sucesso de empresas como o HotJobs.com. Voltou ao seu país determinado a investir em internet. Teve uma ideia de um site de viagens que falhou e, então, participou da criação do Bumeran, que depois foi comprado pelo Terra, em 2000. Quando os espanhóis deixaram a empresa, em 2003, Tejerina era um dos poucos que acreditavam que a operação poderia dar certo. “Tínhamos um negócio que estava fora de seu tempo”, afirma ele. “Nossa receita estava na casa dos US$ 500 mil, mas nossos gastos estavam na casa do US$ 1 milhão”. 

 

 

 

O capital para o crescimento viria só quatro anos depois, quando a situação de penúria já havia sido superada e a empresa faturava US$ 7 milhões. Foi nessa época que o fundo Tiger Global Management entrou na companhia. O dinheiro permitiu que Tejerina abrisse os olhos para outras oportunidades, como as existentes no setor de imóveis. A experiência com a bolha da internet, contudo, serviu de lição. Hoje, o argentino está com olhos abertos para a possibilidade de outra bolha: a do mercado imobiliário brasileiro. “Acredito que hoje não seja um perigo iminente.  A qualidade do crédito e a demanda dizem isso”, apos­ta Tejerina. “Mas estoy ligado”.

 

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