20/04/2011 - 21:00
Os investidores independentes já podem concorrer com os tubarões das finanças de maneira menos desigual. As informações sobre os movimentos sutis e frequentemente sigilosos das profundezas do mercado, algo essencial para o sucesso dos investimentos, deixaram de ser acessíveis apenas para os especialistas. Hoje, os pequenos investidores podem usar as mesmas ferramentas dos profissionais dos grandes fundos e das instituições financeiras.
Um exemplo é o software Shark Broker (traduzido ao pé da letra como Corretor Tubarão) da corretora Banif, que rastreia tendências de mercado em tempo real. O programa é utilizado como complemento ao home broker, a plataforma de compra e venda de ações pela internet.
O cliente escolhe alguns parâmetros, como alterações no volume de negócios ou mudanças relevantes nos preços médios, e pode ser avisado se as transações com um determinado papel superarem, por exemplo, 150% do volume no mês anterior. Um aumento tão significativo pode indicar que algum tubarão está abocanhando fatias das ações, de olho em uma aquisição, por exemplo. Mesmo que não esteja acompanhando o papel, o investidor será avisado e pode correr para alcançar a notícia.
Atenção profunda: Bruno di Giorgio (à esq.) e Cláudio Brito, do Banif – ferramentas para monitorar o mercado
O Shark Broker permite monitorar vários indicadores e sugerir a compra ou a venda de ações. “Estamos trazendo para o investidor uma ferramenta que os grandes fundos e instituições financeiras já utilizam, que é a utilização de robôs”, diz Bruno Di Giorgio, superintendente de marketing da Banif.
Ele diz que as ferramentas acabam atraindo os investidores mais experientes, mas ela não é útil apenas para eles. O investidor e administrador de empresas Luís Cláudio Pena Ferreira é a prova. Ele investe em ações por meio da corretora há um ano e resolveu utilizar o Shark Broker quando o produto foi lançado.
Seguindo as dicas de outros investidores e dos economistas da corretora, que acompanham as discussões pela internet, Luís configurou seu programa e começou a receber os alertas. “Não tenho tempo para seguir todos os movimentos do mercado, então o programa me alerta sobre ações que podem render”, diz ele. “Aos poucos estou saindo das blue chips e começando a acompanhar outros papéis, como Cemig e Itaú”, diz.
Cautela: Eid, da FGV – não há um padrão no mercado de ações
A corretora estuda duas atualizações que devem ser oferecidas nos próximos meses e vão permitir ao usuário acompanhar índices mais sofisticados, como o estocástico e o de força relativa. Esses índices comparam os preços atuais das ações com suas máximas ou mínimas, mostrando o que é mais provável, uma alta ou uma baixa. “Nossa ideia é incrementar o programa de acordo com a demanda, acrescentando novos indicadores”, diz Cláudio Brito, gerente de tecnologia da Banif.
Essas ferramentas também estão disponíveis para quem opera opções. Um exemplo é o FlexScan, um programa que analisa o mercado de opções em tempo real e sugere negócios de acordo com os parâmetros escolhidos. A corretora ICAP Brasil integrou o software ao seu home broker e o oferece gratuitamente aos clientes.
Cuidados: Levy, da ICAP – investidor não precisa ser especialista, mas tem de conhecer o mercado
Assim como o Shark Broker, o FlexScan permite que o usuário defina os indicadores que quer acompanhar. Por isso, é preciso conhecer o mercado de opções. “Não precisa ser especialista, basta ter noções básicas das operações e dos riscos”, diz Paulo Levy, diretor da ICAP.
“As corretoras utilizam programas como esses para descobrir oportunidades de negócio e as oferecem para os clientes”, diz Levy. Os novos recursos garantem mais autonomia ao investidor e falta pouco para a automação completa, em que o usuário define os parâmetros e o programa rastreia as opções. A diferença é que a compra e a venda são realizadas pelo próprio programa se os parâmetros forem atingidos. Levy diz que a ICAP Brasil deve oferecer esse produto aos usuários ainda este ano.
Vale a pena? Há quem não concorde com a eficácia dos programas. Para o professor e coordenador do Centro de Estu-dos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), William Eid Junior, os programas são cantos de sereia. “Não há padrão no mercado de ações”, diz. Na avaliação de Eid, a automatização da compra e venda de ações foi inclusive uma das grandes responsáveis pela crise de 1987.
Na época, havia menos investidores independentes e os programas de computador eram a novidade do mercado. “Um dia a bolsa de Nova York acordou de mau humor e todos os computadores começaram a vender ações, e as vendas só pararam quando a queda chegou a 20%.”
Outros especialistas advertem contra a voracidade não dos tubarões, mas das corretoras. “Elas lucram quando os clientes operam mais e não quando eles ficam mais ricos”, diz um experiente profissional de mercado. Ele diz que as análises fundamentalistas, que acompanham a economia mundial e a situação de milhares de empresas, são muito caras, enquanto as análises gráficas têm custo zero e podem atrair novos clientes.
Elas ainda não são capazes de identificar todas as variáveis que podem influenciar no mercado, como nos casos de fusões, acidentes e outros imprevistos. Os computadores medem apenas o comportamento passado do mercado e indicam possíveis tendências. Portanto, o investidor que quiser mergulhar com os tubarões deve utilizar as novas máquinas com sabedoria e lembrar que mesmo o melhor navio precisa de um bom capitão.