Há menos de um mês, o Japão perdeu, oficialmente, o posto da segunda maior economia do mundo para a China. A queda das exportações e do consumo interno,  desencadeada pela recessão de 2008/2009, comprometeu novamente o desempenho do país, estagnado há mais de 20 anos em razão de pressões deflacionárias e do alto déficit governamental.

O que não se esperava era que um terremoto de 8,8 pontos na escala Richter, o maior em 300 anos no Japão e o sétimo em nível mundial, seguido por ondas gigantes, pudesse devastar ainda mais a já combalida economia do país. 

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Enquanto contavam os mortos (mais de 300 às 13 horas da sexta-feira 11), os tremores do terremoto japonês se espalharam pelo mundo. O preço do barril do petróleo chegou a cair 3,6%, para US$ 99,01. 

As ações das principais empresas de resseguro do mundo, negociadas em Frankfurt, na Alemanha, registravam grandes quedas. Os papéis da Munich Re acumulavam perdas de 4,54%, os da Swiss Re, 4,92%, e da Scor SE, 7,8%. Em Londres, as ações da Amlin desvalorizavam-se 5,23%. 

A estimativa é de que a indústria de seguros terá de pagar aproximadamente US$ 10 bilhões em prêmios decorrentes da tragédia, segundo James Schuck, analista do banco de investimento Jefferies International. 

Esse valor tornaria o desastre o segundo mais custoso de todos os tempos, atrás apenas do terremoto de Northridge, nos Estados Unidos, em 1994, que custou  US$ 15,3 bilhões para as seguradoras.

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Cenário de destruição: incêndio na refinaria de petróleo Cosmo, na cidade de Ichihara,
e o caos no Aeroporto de Sendai, na região mais afetada pelo tremor no Nordeste do Japão
 

Internamente, o abalo, que aconteceu as 14h46 (às 2h46, horário de Brasília), 30 minutos antes do fechamento da Bolsa de Tóquio, foi rapidamente sentido. O índice Nikkey  fechou em queda de 1,73%, o menor nível em cinco semanas. As principais empresas afetadas foram as montadoras de automóveis, as fabricantes de  eletrônicos e as  refinarias. 

A Toyota, líder do setor automobilístico do país, paralisou a produção de uma fábrica de autopeças e em duas montadoras. A Nissan, a segunda do ranking, interrompeu as operações em quatro plantas industriais. 

A refinaria de petróleo Cosmo, na cidade de Chiba, perto de Tóquio, pegou fogo, com chamas que atingiam até 30 metros de altura. Os sistemas de telefonia e de transporte pararam. Empresas brasileiras com presença no Japão, como Petrobras, Vale e Banco do Brasil, não relataram grandes danos às suas operações (veja quadro). 

A Petrobras, por exemplo, que mantém dois escritórios em Tóquio, informou que os funcionários foram evacuados e alocados em locais seguros. Além disso, distante do epicentro do terremoto, a refinaria que a estatal possui em Okinawa, na região sul do Japão, continua operando normalmente. 

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Já o Banco do Brasil, que tem presença em sete cidades japonesas – Tóquio, Hamamatsu, Ibaraki, Nagoya, Gunma, Nagano e Gifu –, ainda não sabia até o início da tarde da sexta-feira 11 se as instalações ou funcionários haviam sido afetados. 

A diretoria do banco, em Brasília, conseguiu entrar em contato apenas com o gerente da agência de Tóquio. Segundo a embaixada do Brasil, não houve registros de mortes entre os 350 mil brasileiros que vivem no Japão.

Ainda é cedo para avaliar as perdas econômicas. No entanto, as comparações com o tremor de Kobe, que aconteceu em janeiro de 1995, em que morreram 6.400 pessoas, na catástrofe mais mortífera do pós-guerra no Japão, são inevitáveis. 

Na época os prejuízos foram avaliados em US$ 100 bilhões (US$ 147 bilhões em valores atualizados). A produção industrial caiu 2,6% no mês da tragédia, mas se recuperou nos dois meses seguintes, crescendo 2,2% em fevereiro e 1% em março.