Quando o empresário e showman Donald Trump anunciou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Republicano, em junho, ninguém o levou muito a sério. Após meses à frente nas pesquisas, no entanto, Trump, de azarão folclórico, se transformou em um problema para os caciques republicanos, que tinham esperanças de ver suas novas lideranças, como o ex-governador da Flórida Jeb Bush, irmão do ex-presidente George W. Bush, dominando as atenções da mídia e dos eleitores.

As últimas pesquisas mostram que o ex-apresentador do programa “O Aprendiz”, até hoje um dos maiores sucessos da tevê americana, segue na frente, com 35% das intenções de voto. Na semana passada, os opositores do “topetudo” candidato convocaram a cavalaria. Um tradicional grupo de republicanos, denominados “Club for Growth” (Clube para o Crescimento) prometeu investir pesado em propaganda anti-Trump. A primeira rodada de gastos publicitários se dará em Iowa, Estado no qual o megaempreiteiro conta com um grande número de apoiadores, onde seriam gastos US$ 1 milhão em anúncios.

“Estamos comprometidos em ir até o fim”, afirmou David M. McIntosh, presidente do clube, em uma conferência. “Continuaremos até que as pessoas percebam que Donald Trump não é um conservador.” O foco dos anúncios estará, em um primeiro momento, nas controvertidas opiniões de Trump. Segundo o grupo, ele já apoiou causas democratas, como aumento de impostos e um sistema de saúde universal. “Donald Trump é o pior candidato republicano em assuntos econômicos”, afirmou McIntosh. “É impressionante que ele esteja concorrendo pelo partido.”

O Club for Growth defende ideais neoliberais, como a redução do tamanho do Estado, o livre mercado e o corte de impostos. O grupo foi formado em 1999 e, em 2012, investiu mais de US$ 20 milhões em doações para candidatos nas eleições. Entre seus fundadores está o economista Stephen Moore, autor de diversos livros sobre economia e ex-membro do conselho editorial do diário nova-iorquino Wall Street Journal. Essa é a primeira grande ofensiva organizada contra o empresário. Pelo Twitter, Trump respondeu dizendo ter pouco respeito pelo grupo de McIntosh.

“Eles me pediram US$ 1 milhão, eu disse não”, afirmou. “Agora, estão gastando com lobistas e propaganda.” Seus problemas, no entanto, não se resumem à ofensiva. Passada a exposição midiática causada pelas declarações racistas e preconceituosas do candidato, que chegou a chamar os mexicanos de estupradores e prometeu construir um muro para impedi-los de entrar nos Estados Unidos, as atenções começam a se voltar para assuntos mais sérios, e outros candidatos ganham destaque. Nos últimos meses, por exemplo, houve uma fulminante ascensão nas pesquisas de outro “estranho no ninho” da política americana, o neurocirurgião Ben Carson.

Famoso por ter realizado a primeira cirurgia de separação de gêmeos siameses unidos pelo cérebro, nos anos 1980, Carson vem disputando com Trump a atenção de eleitores cansados dos políticos tradicionais. Negro, de fala pausada e com uma história de ter superado as dificuldades de uma infância pobre para se tornar um médico de renome, Carson é a antítese do playboy, branco, bonachão e agressivo Trump. Em poucos meses, sua taxa de intenção de votos subiu de menos de 5% para 12%. No campo das ideias, Trump também não está se dando bem.

Na quarta-feira 16, o empresário ficou em segundo plano durante o debate entre candidatos republicanos, promovido pela rede de tevê CNN. Quem roubou a cena foi a única mulher presente, Carly Fiorina, ex-presidente da empresa de tecnologia HP. Assim como Carson, Fiorina teve um rápido crescimento nas pesquisas, o que a credenciou para o debate. Segundo analistas, ela foi a única a não fugir de nenhuma pergunta, discorrendo com desenvoltura sobre assuntos espinhosos, como as recentes ações militares da Rússia em território sírio e o acordo nuclear dos Estados Unidos com o Irã.

“Fui para o debate sabendo que metade dos espectadores nunca tinha ouvido falar do meu nome ou sabia que eu estava concorrendo”, afirmou Carly, à rede de tevê americana MSNBC. No confronto com Trump, a candidata se saiu melhor. O empresário, com seu típico jeito boquirroto, criticara sua aparência, em uma entrevista recente para a revista Rolling Stone. Delicadamente, Carly respondeu com um comentário que chama atenção para o sexismo de suas declarações. “As mulheres de todo o país ouviram de forma muito clara o que ele quis dizer”, afirmou Carly. À Trump, restou, mais uma vez, tentar se explicar.