30/01/2013 - 21:00
De um lado, um mundo de mudanças aceleradas e imprevisíveis. Do outro, empresas que crescem e precisam lidar com interlocutores variados, como acionistas, conselheiros, clientes, fornecedores e a comunidade. No centro de tudo isso há executivos do primeiro escalão que, muitas vezes, precisam de ajuda para sobreviver a esse ambiente de ar rarefeito. É aí que surge a figura do coach, um profissional capaz de amplificar as habilidades de um líder. Apesar da tradução literal para o inglês, o coach de um executivo é mais que um treinador. Segundo a International Coaching Federation (IFC), coaching é uma parceria com os clientes em um processo criativo e de reflexões que os leve a maximizar seu potencial profissional e pessoal.
Vicky Bloch: um processo eficaz de coaching leva pelo menos oito meses
“Vale a pena lembrar que a posição de CEO é muito solitária”, afirma Luiz Carlos Cabrera, um dos coaches mais prestigiados do País. “Às vezes, ele precisa de um interlocutor qualificado para expressar suas dúvidas e incertezas.” De acordo com ele, o executivo que teve uma carreira muito rápida numa empresa dinâmica e enfrenta grandes desafios precisa de um coach. Calcula-se que existam cerca de 40 mil coaches no mundo. No Brasil, não há estatísticas precisas, mas estima-se que por aqui entre mil e 1,5 mil profissionais exerçam essa função. Quantidade, no entanto, que está longe de ser sinal de qualidade.
“Hoje em dia qualquer coisa é coaching”, diz Vicky Bloch, que atua na área desde a década de 1980 no Brasil e hoje é dona de uma espécie de butique para altos executivos e CEOs. “Basta fazer um teste com dois feedbacks e pronto.” Segundo ela, um processo eficaz de coaching não leva menos do que oito meses. Em seu método, a primeira fase consiste em ampliar o autoconhecimento do executivo, levando-o a muita reflexão. Depois, é preciso realizar entrevistas com colegas, funcionários e com o próprio chefe do executivo. O trabalho termina com um plano de ação, que será acompanhado por Vicky.
Claudio Galeazzzi: “O coach é uma figura isenta com quem
você pode trocar ideias”
“No final, volto a falar com os entrevistados para saber se as mudanças no executivo ocorreram ou não”, diz Vicky. Uma das principais missões de um coach é levar o seu “aluno” ao autoconhecimento. “Com ele, conseguimos também a característica mais essencial para o sucesso: a autoconfiança”, afirma Robert Wong, da Robert Wong Consultoria Executiva, empresa voltada para headhunting e coaching, e ex-presidente da Korn/Ferry para o Brasil e América Latina. Segundo Wong, o coach participa do projeto de vida do executivo. “Mas a viagem é só dele, pois precisa mergulhar dentro de si, ouvir a voz interna”, diz Wong. “Meu papel é levá-lo até esse lugar. O resto é com ele.”
Uma das orientações de Wong, que por sua origem chinesa, tem uma visão oriental sobre o comportamento humano, é saber se distanciar do conflito. “Seja um observador na hora do problema”, diz Wong. “Saia de si e olhe de longe, como se não estivesse envolvido, pois esse distanciamento traz a lucidez necessária.” Wong atende executivos badalados, como Claudio Galeazzi, conhecido por reestruturar empresas como Cecrisa, Lojas Americanas e Pão de Açúcar. “A figura do coach é extremamente importante para um executivo, pois é alguém totalmente isento, que não está envolvido emocionalmente e com quem você pode trocar ideias”, afirma Galeazzi, atualmente sócio do BTG Pactual, e contratado para um turnaround na fabricante de calçados Vulcabras/Azaleia.
Robert Wong: um bom coach participa do projeto de vida do executivo
Segundo o próprio Galeazzi, mais de uma vez, antes de tomar decisões importantes, procurou um coach para ouvir sugestões e críticas. O trabalho do coaching não se resume apenas ao período de vida ativa do executivo na companhia. Pode ser também uma excelente ferramenta de passagem para a aposentadoria. Foi o que ocorreu com Alexandre Silva ao se aposentar após seis anos como presidente da General Electric (GE) no Brasil em 2007, aos 62 anos. Quando faltava um ano para Silva colocar o pijama, ele percebeu que não tinha se preparado. Ele conta sua história no livro “Coaching executivo – uma questão de atitude”, escrito por Vicky Bloch, João Mendes e Luiz Visconte.
“Minha coach passou a me orientar em tudo. Não fazia mais nada sem ela”, diz a ele, em seu depoimento. “Ela me alertou, por exemplo, que, nos primeiros seis meses após minha saída, muita gente ligaria para me oferecer loucuras e querendo usar meu nome ou meu dinheiro para investir em negócios. Eu fui aprendendo a viver o processo e acabei orientando várias pessoas que passaram pela mesma situação.” Atualmente, Alexandre Silva é presidente do conselho de administração da Embraer e tem assento em vários outros conselhos de empresas como TAM, Fibria e CSN. No seu tempo livre, pratica mergulho em Ilhabela.