O engenheiro gaúcho Rogério Figurelli é um treinador diferente. Seus atletas não suam, não frequentam baladas nem exigem salários astronômicos. Figurelli desenvolve e treina robôs, como são chamados os programas de computador que fazem negócios nos mercados financeiros. Engenheiro elétrico, Figurelli, 45 anos,  foi o brasileiro que obteve a melhor colocação no último Campeonato Internacional de Negociações Automatizadas (Automated Trading Championship), promovido pela empresa russa MetaQuotes. Ficou em segundo lugar entre os latino-americanos, atrás de um programador argentino, Damian Avila. “Minha meta é superá-lo no ano que vem”, afirma Figurelli.

No concurso, cada participante desenvolve um programa para administrar US$ 10 mil virtuais, no mercado de câmbio, por três meses. O robô-programa trabalha sozinho, tomando decisões de compra e venda. Em 2010, o software de Figurelli obteve um rendimento de 36% e ficou na 52ª posição. Precoce, começou a cursar engenharia elétrica em 1983, aos 16 anos, e comprou seu primeiro computador um ano depois. O equipamento, um Sinclair que se conectava à tevê, foi contrabandeado por um comissário da Varig. Figurelli foi um dos primeiros brasileiros a ter uma conexão de internet. “Consegui um link caríssimo e lento de 9 Kbps”, conta. Hoje, a conexão mais simples é 30 vezes mais rápida.

 

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“O câmbio é altamente volátil e permite simulação em tempo real”

Rogério Figurelli, programador

 

Leitor voraz, ele comprou, em 2005,  um livro sobre o mercado internacional de moedas, o forex. É o maior mercado financeiro do mundo, com um giro estimado em pelo menos US$ 1 trilhão por dia. “É um ambiente altamente volátil, automatizado, que permite simulação em tempo real com as moedas. É ótimo para desenvolver sistemas”, afirma. No Brasil, não há corretoras autorizadas a operar com o forex, por isso o investidor precisa se servir de intermediários em outros países por meio de computadores ligados à internet. 

 

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É nesse meio que os robôs competem. Um bom programa é capaz de monitorar e analisar milhões de dados em tempo real e descobrir correlações lucrativas que não são percebidas pelo homem. Isso não significa, porém, que a inteligência humana não tenha mais lugar. “O robô tem a vantagem do lado matemático, da disciplina, da frieza, mas só um ser humano pode ajustar o sistema para aproveitar as oportunidades”, diz Figurelli.