No período de fevereiro a abril deste ano, 985 mil brasileiros procuraram emprego, mas não encontraram nenhuma vaga. Parte desse grupo foi demitida recentemente e o restante estava fora do mercado de trabalho por opção própria, mas precisou buscar uma fonte de renda devido ao agravamento da crise econômica. Com isso tudo, segundo pesquisa do IBGE, a taxa de desemprego subiu de 7,1%, no ano passado, para 8%, totalizando oito milhões de desocupados. Esses números foram divulgados na manhã da quarta-feira 3, horas antes da reunião do Banco Central, mas não sensibilizaram nenhum dos nove integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiram, por unanimidade, elevar os juros básicos (Selic) de 13,25% para 13,75%.

Ao promover a sexta alta consecutiva da Selic, o Banco Central, sob a benção da presidente Dilma Rousseff, emite sinais negativos para o setor produtivo. “O que o governo conseguiu até agora foi virar a indústria de ponta-cabeça”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O aperto monetário também vai pressionar as taxas cobradas dos financiamentos no comércio, cujas vendas já estão em retração, e piorar as contas públicas. Se a Selic chegar a 14% neste ano, como preveem os analistas do mercado, o Tesouro Nacional gastará R$ 30,7 bilhões a mais com juros, quase metade de todo o corte no orçamento.

Ao assumir publicamente o compromisso de trazer a inflação de 8% para 4,5% no ano que vem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, está sendo obrigado a exagerar na dose do remédio (juros), colocando o paciente (economia) em risco. O erro, na verdade, está no diagnóstico da doença (inflação). Os preços dispararam neste ano porque o governo decidiu congelar a gasolina, a energia elétrica e o transporte público no período eleitoral. E o Copom, coincidentemente ou não, só resolveu agir no dia 29 de outubro, três dias após a reeleição da presidente Dilma.

Além disso, não há no receituário macroeconômico mundial nenhuma indicação de que a elevação de juros vai resolver a alta de 17% no preço do tomate, registrada no mês passado. O correto seria encerrar o aperto monetário e avaliar os efeitos recessivos do ajuste fiscal, que já estão esfriando a economia e os preços. Exagerar na dose dos juros é tornar essa travessia da crise cada vez mais perigosa.