Enquanto os torcedores do Chapecó pranteiam os mortos do seu time, Ivan Pozzo enfrenta um dos maiores desafios para qualquer executivo. O novo presidente da Associação Chapecoense de Futebol sucedeu Sandro Luiz Pallaoro, que morreu na tragédia, e agora tem a tarefa de reconstruir uma equipe vencedora a partir dos destroços. A tarefa à frente de Pozzo é comparável à dos executivos da corretora Cantor Fitzgerald. Seus cerca de 1.800 funcionários, os computadores com décadas de informações sobre o mercado e o histórico de negociações de quase mil clientes estavam todos no mesmo lugar: dois andares de um dos edifícios do World Trade Center, derrubados no dia 11 de setembro de 2001.

Dois aviões praticamente apagaram a memória da corretora em 2001. Na terça-feira 29, um avião fez o mesmo com a equipe esportiva catarinense. A tragédia vai render uma das maiores indenizações da história do esporte. O valor final ainda não está definido. Estimativas informais do mercado considerando-se apenas jogadores e equipe técnica do Chapecoense apontam que a indenização pode chegar a 14 salários, conforme prevê a Lei Pelé, com um teto de R$ 1,2 milhão por segurado. Itaú Seguros e Porto Seguro dividem a apólice. Os vencimentos variavam muito, mas considerando-se salários e direitos de imagem, oscilavam entre R$ 20 mil e R$ 100 mil por mês para os titulares.

De acordo com o advogado James Healy-Pratt, da Stewarts Law, especializado em acidentes aéreos, a apólice principal para acidentes da empresa aérea boliviana Lamia é de US$ 25 milhões (R$ 85 milhões). No entanto, em casos como esse, as indenizações costumam superar US$ 250 milhões. Healy-Pratt, que atuou nas ações movidas pelas famílias brasileiras no acidente da Gol, em 2006, e na queda do avião da Air France, em 2009, afirmou à BBC que a Lamia contratou a apólice junto à corretora Aon e tem como principal resseguradora a Tokio Marine Kiln.

O imbróglio passa ainda pela Convenção de Montreal, tratado internacional firmado em 1999, que afirma que as empresas aéreas são as responsáveis presumidas legais por acidentes aéreos. Cabe a elas o pagamento de indenizações – que partem de US$ 170 mil para a família de cada vítima. A Bolívia, assim como o Brasil e 140 países, é signatária do acordo. O desafio da Chapecoense é imenso. Seu principal ativo, a equipe, desapareceu. Não apenas os titulares e os reservas, mas também a memória estratégica e tática de um time que vinha vencendo há quatro anos. Além dos integrantes do clube, vinte jornalistas e oito tripulantes do avião também morreram no acidente.

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Indenização milionária

O quanto cada vítima pode receber das seguradoras

– Indenização da CBF (Lei Pelé): até R$ 1,2 milhão

– Indenização aérea (convenção de Montreal): até US$ 170 mil

– Indenização da empresa: até US$ 250 milhões (total)

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• A força da Chape
• A mobilização empresarial e dos clubes
• Bola fora