O engenheiro aeronáutico Neel Kashkari  diz não se assustar diante de tarefas difíceis. O filho de imigrantes indianos tornou-se uma figura conhecida nos Estados Unidos ao assumir a chefia do programa de US$ 700 bilhões de socorro aos bancos desenhado pelo Departamento do Tesouro, em 2008, mesmo ano em que foi escolhido como um dos homens mais sexies do mundo, pela revista People. À frente do polêmico programa, que lidou com a maior crise do sistema financeiro americano desde a Grande Depressão, Kashkari  se esforçou para demonstrar que não era apenas mais um rostinho bonito no mundo dos negócios. Em jornadas de 18 horas, o executivo enfrentava longas conferências telefônicas com banqueiros em pânico, horas de discussões com bancos centrais em busca de soluções para as instituições quebradas e depoimentos a congressistas hostis. 

Quando deixou o cargo, depois de oito meses, estava esgotado e havia engordado quase dez quilos. Foi se  “desintoxicar” das tensões de Washington num refúgio perto da natureza, um chalé no norte da Califórnia. Sua noção de descanso é peculiar, como se pode ver na foto que ilustra esta reportagem, tirada durante seu período de férias, no qual aparece rachando lenha. Revigorado, Kashkari tem pela frente outra missão não menos espinhosa. A Pimco, maior administradora de fundos de renda fixa do mundo, com US$ 1,3 trilhão sob gestão, onde ele trabalha há dois anos, acaba de nomeá-lo chefe de sua nova divisão de renda variável. O objetivo do CEO da empresa, Mohamed El-Erian, uma das vozes mais influentes no cenário financeiro mundial, é transformar a gestora sediada na Califórnia. Dedicada à renda fixa desde sua fundação, em 1971, a Pimco quer estabelecer sua reputação na gestão de fundos de ações. E a tarefa de conseguir bons retornos em plena crise financeira está a cargo de Kashkari.  

 

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Missão espinhosa: depois de extravasar o estresse acumulado no Tesouro, Kashkari enfrenta seu maior desafio profissional

 

O executivo afirma que conseguirá atingir a meta com a correta escolha de ações em diversos países. Numa entrevista concedida à revista Bloomberg Business Week no escritório da Pimco, na área da Times Square, em Nova York, Kashkari prometeu lançar fundos de ações muito diferentes da média do mercado americano. “Não vamos lançar um fundo de ações antigo, para investir em grandes empresas americanas, ou recomendar às pessoas que comprem o índice Standard & Poor’s”, afirmou. Segundo ele, os fundos de ações da Pimco devem usar aplicações em moedas como maneira de limitar perdas. Um exemplo citado pelo executivo é a compra de ações do banco russo Sberbank e da seguradora de Hong Kong AIA, casada com a aquisição de algumas moedas ocidentais que a gestora acredita se moverem na direção oposta à das bolsas. A alta das moedas compensa eventual queda no preço das ações. Só o tempo dirá se a estratégia criada pela Pimco trará realmente bons retornos em plena crise. 

 

Até agora, os resultados de seus primeiros fundos de ações, que já captaram US$ 4,5 bilhões, não são nada excitantes. O Equities Pathfinder, criado em abril do ano passado, perdeu 2,6% em 12 meses até outubro, comparado a uma desvalorização de 3,3% de carteiras semelhantes.Estabelecer-se na seara das bolsas tornou-se mais urgente com o fracasso da estratégia da gestora em juros em 2011. Seu fundo mais tradicional, o Total Return, com patrimônio de US$ 242 bilhões, acumula um dos piores resultados da indústria. A culpa foi da aposta – errada – de que os preços dos bônus do governo americano cairiam. O autor da ideia, o famoso Bill Gross, fundador da Pimco, pediu desculpas aos investidores numa carta intitulada “Mea Culpa”. Resta saber se Kashkari terá força suficiente para dar umas machadadas e quebrar mais essa barreira.