O ano de 2011 foi espinhoso para os gestores de fundos multimercados. Dois eventos atrapalharam as estratégias desses profissionais. O primeiro foi a forte desvalorização das ações, que afetou drasticamente algumas carteiras. O segundo foi o movimento do Banco Central (BC) no início de agosto, baixando os juros preventivamente por causa da percepção de uma piora no cenário internacional. A redução das taxas se provaria acertada no decorrer do ano, mas causou choro e ranger de dentes entre os profissionais que administram recursos. Como resultado desses dois eventos, muitos gestores viram a deterioração das relações entre risco e retorno de seus fundos, medidas por um indicador tradicional no mercado financeiro, o Índice de Sharpe. 

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Assim, só obtiveram um bom resultado os profissionais com o toque especial de um mestre-cuca, que souberam driblar os riscos e as surpresas no decorrer do ano. Um bom exemplo é o de Luiz Paulo Mesquita, gestor do fundo Venturestar, da gestora independente paulista de mesmo nome. O fundo apresentou a melhor relação entre risco e retorno dos fundos multimercados macro. A estratégia dos produtos desse tipo é fazer apostas no movimento dos juros e das moedas com base nas perspectivas para a economia. Mesquita diz ter percebido, ainda no primeiro semestre do ano passado, que algo estava mudando no cenário. “Notamos uma queda de juros em todo o mundo e concluímos que esse movimento iria chegar ao Brasil, apesar de a inflação não dar sinais de que ia retroceder no curto prazo”, diz Mesquita. 

Assim, a sua estratégia de gestão passou a preferir dois tipos de ativos: os títulos de renda fixa corrigidos por índices de preços e as ações de empresas que estavam protegidas ou ganhavam com a aceleração da inflação. Tudo isso sem descuidar da proteção contra os solavancos do mercado. “Optamos por usar muitos derivativos para proteger o fundo, por isso conseguimos manter um boa relação risco-retorno ao longo do ano”, diz ele. Outro que garantiu um bom desempenho a seus investidores foi o Votorantim Absolut Credit, gerido pela empresa de administração de recursos do Banco Votorantim. O Absolut Credit apresentou a melhor relação entre risco e retorno para os fundos multigestor. Esses produtos analisam as carteiras à disposição dos investidores e destinam recursos aos melhores do mercado. 

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Em geral, os multigestores permitem a clientes com menos dinheiro degustar os experimentos dos chefs mais renomados. No caso do Absolut Credit, sua estratégia é aplicar em crédito. “Procuramos fundos de direitos creditórios que apresentem boa rentabilidade e cuja volatilidade seja baixa”, diz Reinaldo Lacerda, superintendente de produtos da empresa de gestão do Votorantim. A opção de abrir mão de parte da rentabilidade para privilegiar o baixo risco compensou. “Percebemos que o mercado ficaria muito volátil no decorrer de 2011”, diz ele. Para Lacerda, não haverá grandes mudanças de estratégia durante o primeiro semestre de 2012. “Vamos continuar vivenciando um cenário em que a busca pela segurança vai oferecer mais vantagens do que a procura pela rentabilidade.”

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Para os especialistas, 2012 será um divisor de águas para os multimercados. Até 2011, boa parte desse segmento da indústria foi muito parecida com as cadeias de fast-food. Os produtos são muito semelhantes, em geral carteiras voltadas a estratégias ativas de investimento no mercado de taxa de juros e com doses maiores ou menores da pimenta dos derivativos. Isso vai mudar, exigindo mais criatividade dos gestores e uma reeducação alimentar dos investidores. “O gestor que pretender apresentar um desempenho acima da média terá fundos mais voláteis do que hoje”, diz Estevão Freitas de Souza, gestor do fundo quantitativo Quest, premiado como o melhor na categoria Multimercados Trading. A partir de agora, porém, a queda das taxas de juros deverá forçar uma diferenciação entre os gestores capazes de surpreender o paladar dos clientes e aqueles que não vão além de uma culinária honesta, mas menos criativa.

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