Na última edição, a reportagem de capa da DINHEIRO saiu em defesa de empresários e trabalhadores numa batalha contra a alta dos juros. Os analistas e os especuladores do mercado financeiro já davam como certo o aperto monetário, embora muitos economistas apresentavam argumentos sólidos contra a medida. Com uma rara demonstração de bom senso, seis diretores do Comitê de Política Monetária (Copom), incluindo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, votaram pela manutenção da Selic em 14,25%, na quarta-feira 20, enquanto dois diretores defenderam uma alta de meio ponto percentual.

Apesar da decisão correta, Tombini encerrou a semana com a imagem e a credibilidade arranhadas por conta de uma nota divulgada na véspera da reunião do BC. Tradicionalmente, os diretores respeitam “o período de silêncio” nos dias que antecedem os encontros do Copom. Tombini quebrou a regra informal e emitiu, na terça-feira 19, um comunicado comentado as “significativas revisões” das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil, com retração de 3,5% neste ano (ante uma queda de 1%) e crescimento zero em 2017 (ante alta de 2,3%).

A reação no mercado financeiro foi imediata e ninguém mais acreditava numa alta de meio ponto percentual da Selic. O erro maior, segundo os economistas, foi a equipe do BC ter sinalizado anteriormente que a elevação dos juros seria necessária quando, na prática, a recessão econômica já era uma realidade. O último recado havia sido dado através da carta que Tombini enviou ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para justificar o estouro da meta de inflação no ano passado.

“O BC usou o FMI como uma espécie de pretexto para fazer com que o mercado revisse suas projeções”, afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, que também defendia a manutenção dos juros. “Mas o tiro saiu pela culatra.”No mercado financeiro, há um consenso de que o BC cedeu às pressões do Palácio do Planalto, que não queria o aperto monetário. A presidente Dilma Rousseff nega qualquer interferência, mas o histórico da gestão Tombini permite essas ilações. Em 2014, por exemplo, antes das eleições, o Copom não elevou os juros apesar da tendência de alta da inflação.

Três dias após a reeleição de Dilma, os diretores mudaram de ideia e subiram a Selic. Agora, apesar da decisão correta de não aprofundar a crise, o balanço final para o BC foi negativo, com elevação das expectativas inflacionárias. “O Banco Central acertou do ponto de vista técnico, mas errou ao gerar esse ruído todo”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. “Neste momento, não há muito o que fazer. Será necessário aguardar que a recessão faça o serviço sujo de derrubar a inflação.”