Em um lacônico comunicado no dia 21 de maio, o banco Santander indicou qual pode ser sua nova estratégia para reverter os números fracos da operação brasileira. O banco informou que está estudando oportunidades no empréstimo consignado, concedido com a garantia de aposentadorias do INSS ou de salários de servidores públicos e de trabalhadores da iniciativa privada, geralmente com taxas mais baixas, de aproximadamente 3,5% ao mês. Dias antes, circularam rumores de que os espanhóis estariam em negociações para adquirir o controle do mineiro Bonsucesso, da tradicional família de banqueiros Pentagna Guimarães.

De pequeno porte, ele se dedica quase exclusivamente ao consignado, tendo emprestado R$ 528 milhões nessa categoria no ano passado. O Bonsucesso desmentiu os rumores e o Santander não comentou o assunto. Se fechar o negócio, o Santander estará seguindo um roteiro inaugurado pelo Bradesco em 2002 e repisado pelo Itaú em 2012: comprar um pequeno banco especializado em crédito consignado, municiá-lo com capital e capacidade de distribuição e disputar um mercado que cresce constantemente. A carteira total de consignados no Brasil cresceu 15,5% em 2013, para R$ 229,5 bilhões. A instituição que mais emprestou foi o Banco do Brasil, com R$ 61,9 bilhões.

Na lanterninha está o Santander, que viu sua carteira recuar 7,13%, para R$ 13,7 bilhões. A fatia dos grandes avançou 17,7% em 2013, acima da média. Os consignados surgiram na década de 1990, concedidos por bancos pequenos como Cruzeiro do Sul e BMG, mas passaram a ser a menina dos olhos dos grandalhões. Como as prestações são descontadas dos vencimentos, o risco de inadimplência é menor. Segundo Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, os brasileiros já estão endividados demais, o que leva os bancos a privilegiar empréstimos que sejam seguros e fáceis de processar. “A indústria do consignado está se desenvolvendo e ainda possui grande potencial de crescimento”, afirma Setubal.

Não será a primeira tentativa do Santander de crescer nesse mercado. Os espanhóis chegaram a fazer uma proposta pelo Cruzeiro do Sul durante o período em que o finado banco da família Índio da Costa estava sob intervenção do Banco Central, mas não chegaram a um acordo. Agora, se comprar outro banco com o mesmo perfil, o Santander terá instrumentos para enfrentar a concorrência. Entre os que realizaram movimentações recentes está o Itaú, que, no fim de abril, unificou sua carteira com a do BMG, controlado por outro ramo da família Pentagna Guimarães, com quem havia fechado uma parceria em 2012. Marcelo Kopel, diretor de controladoria do Itaú, prevê que, com a operação, o volume de consignados do banco cresça 50% neste ano.

“Esperamos ter emprestado mais de R$ 20 bilhões no fim de 2014”, diz Kopel. No caso do Bradesco, que comprou o cearense BMC em 2002, a aposta é diversificar a clientela. “Hoje, 85% dos nossos empréstimos consignados são concedidos a servidores públicos e a pensionistas do INSS, mas nosso objetivo é elevar a participação dos funcionários de empresas privadas”, diz Altair Antônio de Souza, diretor-executivo do Bradesco. Motivos não faltam. Segundo Souza, o desemprego baixo e a ampliação de convênios entre o banco e empresas poderão aumentar a fatia de empresas privadas na carteira nos próximos anos. “Como um todo, nossa meta este ano é crescer 30% no consignado, olhando também para os novos aposentados, que são importantes clientes da modalidade”, afirma.

Os bancos públicos também cobiçam esse negócio. Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do BB, diz esperar um crescimento de 12% este ano. “Nossa estratégia é crescer no consignado, já que ele representa uma modalidade muito bem-vinda em nosso processo de redução da inadimplência.” Casalatina reconhece a importância do Santander nesse segmento, mesmo ainda sem uma estratégia clara. “É bom lembrar que, caso o Santander se associe a algum banco, ele não será um novato, pois já possui uma carteira de R$ 12 bilhões que não pode ser menosprezada.”

De acordo com o executivo, o fortalecimento do Santander no segmento seria a continuidade de um esforço dos bancos de concentrar suas carteiras em linhas de menor risco. Outro estatal, a Caixa, deve continuar apostando no consignado, que representa 58% da carteira total e respondeu pela maior parte de seu lucro de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre. Lore Manica, superintendente nacional de pessoa física do banco, explica que, embora a estratégia da Caixa seja tornar sua carteira menos dependente do consignado, isso não significa uma redução na oferta. “Ao contrário, ela vai continuar crescendo, mas a diferença é que também pretendemos crescer em outros créditos e distribuir melhor nossos volumes”, diz Manica.