12/02/2016 - 20:00
De segunda a sexta-feira, a rotina do co-fundador e CEO da Easy Taxi, o brasileiro Dennis Wang, tem sido parecida. Ele acorda por volta das 6h, corre com amigos na região do Parque do Ibirapuera e se prepara para ir ao trabalho. Morador do bairro da Vila Nova Conceição, na zona Sul de São Paulo, Wang precisa percorrer 13 quilômetros até a sede da companhia, na Vila Leopoldina. O modal escolhido, claro, não poderia ser outro além do táxi. “Mesmo gastando R$ 75 de táxi por dia para ir e voltar ao escritório, ainda economizo em comparação com um carro próprio”, diz Wang.
Caso tomasse algum carro preto da concorrente UberX, modalidade mais barata da startup americana de transporte que vem causando polêmica por onde passa, a economia do presidente da Easy Taxi poderia chegar a 30%, e Wang ainda ganharia uma garrafinha de água mineral e algumas balas. A Easy e a 99, as duas maiores empresas de aplicativo de táxi do País, embora não admitam publicamente, estão sofrendo com a concorrência da Uber. Afinal, os consumidores têm à disposição um serviço de boa qualidade, pagando valores similares ou menores aos dos táxis.
Cada uma das duas empresas conta com cerca de 100 mil de taxistas cadastrados e, juntas, fazem cerca de 45 milhões de corridas por ano no País. A Uber, com 10 mil motoristas parceiros, faz por volta de 10 milhões de viagens, segundo a consultoria 7 Park Data. “A Uber mudou a experiência de se locomover nas grandes cidades”, diz Rodrigo Tafner, coordenador da faculdade ESPM-SP e especialista em marketing digital. Para se defenderem, as concorrentes vêm apostando em inovações, parcerias com empresas e até em treinamento, além de cobrarem dos motoristas uma taxa menor do que a metade dos 20% praticado pela Uber.
Tanto a Easy quanto a 99, agora, permitem tomar táxis disponíveis nas ruas e pagar por meio do aplicativo, algo que não acontecia até o começo deste ano. Antes, só era possível pedir um carro aleatório e torcer para que ele estivesse por perto. “Apenas 10% das corridas dos táxis são por meio de aplicativos”, afirma Wang. Outra modalidade que já chama a atenção das empresas é o táxi preto, serviço premium criado pela Prefeitura de São Paulo. A 99, por exemplo, criou a 99Top, linha de alto padrão, com mimos similares aos da Uber, como água, balas e chocolates. A novidade terá a primeira experiência na cidade de São Paulo nas próximas semanas.
“Treinamos mais de mil motoristas e queremos estimular um serviço mais profissional”, afirma Pedro Somma, diretor de relações institucionais da empresa. Os esforços das companhias, mesmo diante de uma concorrência que taxistas consideram desleal, vêm animando os investidores. As duas startups estão entre as que mais tiveram aportes no País. Em 2014, a Easy Taxi recebeu R$ 40 milhões do fundo americano Rocket Internet. No ano passado, foi a vez da 99 receber R$ 130 mi-lhões de fundos, como o Tiger, dos EUA. Para 2016, mais aportes são esperados. “Buscamos mais dinheiro para investir em marketing”, diz Wang, da Easy Taxi.
A companhia, de fato, precisa correr contra o tempo. Pioneira no mercado brasileiro, ela dividiu seu foco com a expansão para outras regiões como a América Latina e o Oriente Médio, e, no meio do ano passado, perdeu a liderança no mercado brasileiro para a concorrente. Para alcançar o primeiro lugar, a 99 investiu nas mais diversas formas de propaganda. Desde um tradicional comercial na novela das 21h até o patrocínio a nove clubes de futebol, incluindo Corinthians e Botafogo, campeões da primeira e da segunda divisões do País, respectivamente. “Brincamos que fomos os grandes vencedores do futebol brasileiro em 2015”, diz Somma.
Para se diferenciar da concorrência, a Easy Taxi, por sua vez, espera lançar, até o fim do ano, um sistema de caronas utilizando táxis. A ideia é possibilitar que passageiros com destinos próximos possam dividir a corrida. Além disso, colocou 2016 como meta para alcançar o ponto de equilíbrio nas finanças. “Queremos ser uma empresa rentável, não apenas grande”, diz Wang. Somma, da 99, só pensa em ganhar mercado. Já a Uber anunciou que planeja colocar mais 50 mil carros em circulação no Brasil, mesmo ainda não estando regulamentada. A guerra pelo transporte urbano, pelo jeito, ainda está longe do fim.