28/03/2014 - 21:00
Confira estes dados. O mercado de smartphones cresceu 42% no ano passado, chegando a quase 1 bilhão de unidades vendidas, segundo a consultoria americana Gartner. Os tablets tiveram um desempenho ainda mais excepcional em 2013. A expansão foi de 50%, quando foram vendidos 179,5 milhões de equipamentos. Os computadores, incluídos desktops e notebooks, amargaram queda de 12%, de acordo com a Gartner. Quem está na área de computadores em geral passa por maus bocados. Não é o caso da fabricante catarinense de notebooks Avell. A empresa, sediada em Joinville, faturou R$ 29 milhões no ano passado.
Na batalha: Emerson Salomão, da Avell, apostou no mercado de notebooks para games ao perceber que a concorrência cresceria
É pouco perto das gigantes globais ou mesmo da Positivo, de Curitiba, cuja receita líquida passa os R$ 2,5 bilhões. Mas o resultado representa um crescimento de 93%. Como a Avell consegue crescer em um mercado que a cada dia perde mais espaço para os tablets? O segredo desse desempenho é sua aposta no nicho de equipamentos de alto desempenho, para jogadores de videogame. O interesse por essas máquinas é tanto que a Avell projeta um novo salto em sua receita em 2014, que deve alcançar R$ 40 milhões. Isso graças à abertura de uma loja própria em São Paulo e a um choque frontal com a mãe dos tabus dos negócios brasileiros: vender produtos de tecnologia nos EUA.
“Os americanos têm demandas que ninguém atende”, afirma o paranaense Emerson Salomão, 40 anos, presidente e fundador da Avell. Será um passo e tanto para um empresário que antes se preocupava com salsicha e pão. Explica-se: de origem humilde, Salomão começou a ganhar a vida aos 18 anos à frente de um carrinho de cachorro-quente. Instalou-se diante do campus da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Joinville, e conquistou a clientela do restaurante da faculdade, que reclamou. Para evitar problemas, mudou de ocupação. Salomão se empregou como vendedor de uma loja de calçados na chamada Manchester Catarinense. Mais tarde, trabalhou como marceneiro com seu sogro. “Para ganhar um extra, comecei a vender peças de informática em 1995”, diz Salomão, que nessa época começou a estudar processamento de dados.
Dessa forma, Salomão plantou o embrião da empresa que mudaria sua vida. Em 1997, com a mulher grávida, resolveu largar a marcenaria e a faculdade para se dedicar à Notebook Century, uma revenda multimarca. O empreendimento crescia em ritmo moderado até que Salomão viu uma ameaça, em 2004. “As grandes marcas iriam oferecer diretamente seus notebooks”, diz ele. “Precisávamos de uma marca própria.” Assim nasceu a Avell, especializada em máquinas potentes. A mudança foi acertada. Esse tipo de equipamento atende os jogadores de videogame, que gastaram US$ 2,6 bilhões no Brasil em 2012. De acordo com a empresa de pesquisa Newzoo, existem no País mais de 40 milhões de jogadores.
Esse público, equivalente a um quinto da população, levou a consultoria alemã GFK a qualificar o País como a “galinha dos ovos dourados” dos games. O ex-vendedor de cachorro-quente resolveu entender a fundo seu público. “Sempre que sobra um tempo, jogo Battlefield e Call of Duty”, afirma. Salomão entendeu que ter uma máquina possante faz toda a diferença. Tanto que em suas lojas adotou o conceito consagrado pela Apple Store de deixar os equipamentos à mostra para testes. A diferença com a Apple é que os pontos de venda não ficam em ruas comerciais. Salomão prefere prédios nos quais apenas os jogadores sabem o endereço.
A meta é abrir no segundo semestre deste ano uma loja em São Paulo e, em 2015, no Rio de Janeiro. Hoje, a Avell tem presença em Joinville, Curitiba e Florianópolis. Uma estratégia diferente será adotada nos EUA. Com investimento de US$ 1 milhão, lá organizará uma linha de montagem e os computadores serão oferecidos por e-commerce, a partir de maio. A filial americana será uma joint venture com a empresa de logística Best Solution, do brasileiro Neldo Santos, baseada em Miami. Salomão aposta no atendimento para se destacar. “Daremos três anos de garantia. O mercado de lá pede por isso.” Trata-se de um raro caso de latino que vai aos EUA para competir num mercado de alto valor agregado. Afinal, o tempo do cachorro-quente passou para Salomão.