07/10/2016 - 20:00
O que a gestão pública pode aprender com o setor privado?
Ter metas, cumpri-las, ter velocidade na gestão, comprometimento com serviços de qualidade, transparência e pensar grande. A cidade pensa muito pequeno, parece uma província do século XIX. São Paulo é uma cidade do mundo. Temos de pensar grande nas soluções dos problemas sociais, na captação de investimentos nacionais e internacionais para área de tecnologia, serviços, comércio e até pequenas indústrias nas áreas periféricas da cidade. Vamos, inclusive, criar incentivos para que empresas se instalem nessas regiões.
Qual tipo de incentivo?
Redução do Imposto Sobre Serviços (ISS) para dar uma motivação para empresas se instalarem na Zona Leste e na Zona Sul da cidade. Por exemplo: as empresas de Call Center, que são forte geradoras de empregos e demandam uma mão de obra mais simples com salários de R$ 1.000,00 e benefícios.
O incentivo valerá para startups?
Sim. Vamos valorizar muito o empreendedorismo com o programa Empreenda Fácil, em conjunto com o Sebrae, o Instituto Endeavor, as Fatecs, as Etecs e algumas universidades como a Fundação Getulio Vargas, para orientar a criação de empresas. É o chamado berçário de empresas nas periferias e para o público jovem. Quanto mais empregos na periferia, menos deslocamentos na cidade.
Os empresários sempre reclamam da burocracia…
Criaremos o Poupatempo municipal nas 32 prefeituras regionais para facilitar a formalização das empresas. Vamos reduzir o prazo de 45 dias para apenas quatro dias úteis. O padrão da nossa gestão na Prefeitura será o padrão Poupatempo, que é eficiente e muito bem avaliado no Estado de São Paulo.
É possível adotar a meritocracia no serviço público?
Sim, teremos um programa de meritocracia na saúde e na educação, que são áreas sensíveis em que os profissionais se sentem muitas vezes desprestigiados. As condições de salários são razoáveis, a Prefeitura não tem dinheiro para fazer aumento de salários, mas, com meritocracia é possível criar prêmios especiais para aqueles que atingirem metas e objetivos, e tiverem performances extraordinárias de atendimento no serviço público.
Quais são serão as privatizações e as concessões em São Paulo?
Vamos fazer a concessão do estádio do Pacaembu por 10 ou 15 anos. O uso será exclusivo para futebol. Com isso, a Prefeitura economizará R$ 40 milhões em quatro anos. O Parque Anhembi – incluindo o Sambódromo, o Palácio das Convenções e o Pavilhão de Exposições – e autódromo de Interlagos serão privatizados e podem gerar R$ 7 bilhões. Somente com o autódromo, vamos economizar R$ 400 milhões em quatro anos, o custo de um hospital de alta complexidade. Com o Anhembi, economizaremos R$ 200 milhões. Esse dinheiro vai para saúde e educação.
Quais outras áreas?
Vamos concessionar os cemitérios e todo serviço funerário ao setor privado, que fará uma gestão mais eficiente, reduzindo o custo que hoje é alto e não é bem feito. Será mantida a gratuidade para quem não pode pagar. É uma boa oportunidade para os investidores, inclusive os que já administram crematórios e casas funerárias que realizam missas e velórios. As ciclovias serão mantidas pelo setor privado com uma publicidade discreta que não prejudica a Lei Cidade Limpa. Muitas são recém-inauguradas e já estão com buracos.
Na sua trajetória no Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), o sr. angariou muitas amizades e parcerias. O setor privado vai ajudar a administração Doria?
Vários empresários vão analisar as possibilidade de investimentos nos programas de PPPs e parcerias. Vamos usar a capilaridade do LIDE para motivar as empresas que querem investir. Para atrair investimentos, vamos aproveitar o nosso bom relacionamento com o mundo empresarial no Brasil e no exterior.
A sua vitória foi comparada pela imprensa internacional à de Michael Bloomberg, em Nova York, e à de Mauricio Macri, na Argentina…
Eu me identifico muito com o Michael Bloomberg. Ele é uma referência, um empresário que não tinha nenhuma vida orgânica partidária, disputou as eleições, ganhou, foi reeleito, fez três gestões como prefeito de Nova York e saiu consagrado. Foi um transformador. E o Mauricio Macri, que começou como prefeito de Buenos Aires, onde ele fez uma grande gestão e isso criou um caminho para chegar à Presidência da Argentina.
É factível cortar custos na máquina pública?
É possível, sim, com eficiência de gestão e comprometimento de todos. Não é um trabalho pontual, mas uma onda mais ampla de consciência dos 135 mil servidores públicos municipais e dos gestores que terão posição de comando. Inclui economia de energia elétrica, água, combustível, matéria de consumo.
Quem será o secretário de Finanças?
Ainda não está definido. O perfil será técnico e, se possível, com experiência anterior na área de gestão pública.
Qual será a grande missão do secretário? Buscar formas de arrecadar mais?
Sim, melhorar a arrecadação sem aumento de impostos, cobrando os devedores. A Prefeitura tem quase R$ 100 bilhões de recebíveis que ainda não foram pagos. São créditos principalmente de impostos municipais. Se resgatarmos 20% desse volume, já será uma injeção importante de recursos na Prefeitura, cujo orçamento anual é de R$ 54 bilhões para 2017. Além disso, vamos estimular a emissão de nota fiscal para reduzir a sonegação e melhorar a arrecadação, melhorando o programa da Nota Fiscal Paulistana, com prêmio em dinheiro e produtos.
Na campanha, o sr. combateu a indústria das multas. Esse dinheiro não vai fazer falta para os cofres municipais?
Não. Nós temos que compensar isso com eficiência de gestão e outras fontes de geração de receitas. As multas continuarão a ser emitidas, mas não com essa volúpia. Houve um excesso de rigor na aplicação da penalidade com objetivo arrecadatório. Isso é claro.
A renegociação da dívida com o governo federal foi satisfatória?
Foi boa, mas pode ser revista e ampliada. Mas foi um bom gesto do prefeito Fernando Haddad.
Apesar de ser prestado por empresas privadas, o serviço de ônibus recebe críticas dos usuários. Além disso, algumas empresas estão envolvidas em escândalos…
Tem de melhorar a qualidade. Nós vamos ampliar os corredores e faixas exclusivas de ônibus e vamos colocar tecnologia, começando pelos corredores que terão ônibus articulados e biarticulados sejam os únicos (neste momento da entrevista, João Doria Jr. aponta para um ônibus articulado). Os ônibus transportam 70 passageiros, os articulados, 150 e o biarticulado, 250. Todos terão ar condicionado, combustível renovável e wi-fi gratuito.
A Prefeitura pode ajudar na ampliação do Metrô?
Pode ajudar com os terrenos, que são caros.
As suas ideias pró-mercado são elogiadas pelos empresários. Como garantir que a execução desse plano de governo seja bem sucedida?
Não existe herói solitário. Existem ações coletivas. Para transformar uma cidade, é preciso ter um time e o envolvimento de toda a cidade. Vamos motivar e entusiasmar as pessoas para que elas protejam São Paulo e denunciem os vândalos. Precisamos abraçar São Paulo.
Na sua campanha, o sr. adotou o estilo causal, sem gravata. E continua sem utilizá-la. É o figurino do gestor moderno?
É. Na Prefeitura, eu não vou usar gravata, apenas paletó. Eu me sinto bem assim. O estilo mais informal dá mais confiança no cidadão, que se identifica mais com o prefeito.
Leia também: