Anotem esta data: 22 de junho de 2012. Para muita gente, pode ser um dia típico de início de inverno no Brasil. Para o empresário Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar, o maior grupo varejista do País, ela está rabiscada em seu calendário há muito tempo. É nesse dia que o grupo francês Casino, comandado por Jean-Charles Naouri, poderá exercer opção de compra de uma ação de Diniz e, assim, assumir o comando da Wilkes, a holding que detém o controle do Pão de Açúcar. Ao que tudo indica, isso, de fato, acontecerá. Diniz está a pouco mais de seis meses de sair derrotado dessa batalha, iniciada em junho deste ano, com uma polêmica proposta de fusão do Pão de Açúcar com o também francês Carrefour, dirigido mundialmente pelo sueco Lars Olofsson. O acordo, na época, foi rechaçado por Naouri.

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Naouri (à esq.) e Diniz protagonizaram uma das maiores batalhas societárias de 2011.
Agora, eles tentam retomar a relação de confiança.

Diniz ainda não jogou a toalha nessa disputa com o seu sócio estrangeiro. Nos últimos meses, mudou de estratégia. Nada de declarações que possam ser entendidas por Naouri como sinais de que a guerra possa ser retomada. “As feridas foram abertas e agora estão sendo cicatrizadas”, diz uma fonte próxima a Diniz. “Mas ainda estão doloridas, quando se passa as mãos.” No momento, um interlocutor de cada lado negocia uma saída para essa delicada relação societária. Diniz é representado por Pérsio de Souza, dono da butique de fusões e aquisições Estáter.  Naouri nomeou Ricardo Lacerda, fundador do banco de investimento BR Partners, como seu interlocutor.  As conversas entre ambos têm sido mantidas em sigilo. “As reuniões estão sendo feitas a pedido de Diniz”, diz uma fonte próxima ao Casino. “Estamos esperando para ouvir suas propostas.”  

Nessa aproximação, Diniz quer retomar o relacionamento de confiança que mantinha com o sócio francês até o primeiro semestre do ano passado. O interlocutor do empresário brasileiro, no entanto, terá de superar um oceano de mágoas que separa a relação entre ambos atualmente. O linha-dura Naouri manteve-se até então irredutível em suas posições e, sempre que possível, reafirma que assumirá o controle do Pão de Açúcar. Fontes próximas a Diniz alegam que para o brasileiro manter o controle nunca foi o objetivo final. “Mesmo com o controle do Casino, Diniz será presidente do conselho e influenciará nas decisões de gestão”, diz uma dessas fontes. Na mesa de negociação, no entanto, estará um tema caro a Diniz e que foi um dos argumentos em favor da união com o Carrefour: a estratégia de crescimento do Pão de Açúcar daqui para a frente. Com um faturamento que deve ficar em torno de R$ 50 bilhões em 2011, o grupo detém uma folgada liderança no setor de varejo de alimentos e de eletrônicos no Brasil. 

 

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Olofsson, do Carrefour: sem fusão, chefão do grupo varejista francês investe em novos formatos de loja no Brasil

 

O Carrefour e o americano Walmart estão a uma distância segura, longe de ameaçar a hegemonia da empresa fundada por Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio, em 1948. “É isso o que Naouri precisa responder”, diz a fonte ligada a Diniz. O desfecho para essa novela empresarial ainda é indefinido. Analistas ouvidos pela DINHEIRO, porém, dizem que, mesmo sob o controle do Casino, a figura de Diniz seria um fator importante nessa transição. “Ele profissionalizou a companhia, mas os valores da empresa são os seus”, diz Márcio Roldão, sócio da consultoria de gestão empresarial Avention. Para quem conhece bem Diniz, ele só não ficará no grupo se for relegado a uma posição decorativa. “Ele não tem vocação para ser a rainha da Inglaterra”, diz o ex-presidente de uma rede varejista que quase foi comprada pelo Pão de Açúcar. “Nesse caso, pode partir para um voo solo.” Procurados, Diniz e Naouri não quiseram se pronunciar.

 

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