Deixando de lado as paixões ideológicas, é possível constatar que os períodos que antecederam as posses de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tiveram a esperança como um sentimento reinante. No fim de 1994, já com o Plano Real nas ruas, o recém-eleito presidente tucano nutria na população a expectativa de que o combate à inflação não iria novamente naufragar. No fim de 2002, o recém-eleito presidente petista representava a chegada inédita de um metalúrgico ao poder, simbolizando o sonho de que os mais pobres receberiam uma atenção especial do governo.

No fim de 2010, a primeira mulher a subir a rampa do Palácio do Planalto transmitia sinais alvissareiros de um governo competente e ético, que combateria a corrupção e as ineficiências da máquina pública. Agora, com Michel Temer, a esperança se renova ou a crise política pode estragar tudo? Nos dois primeiros casos, FHC e Lula conseguiram atender às expectativas do eleitorado e foram reeleitos com folga. O tucano venceu no primeiro turno e o petista obteve ampla votação no segundo turno.

Já Dilma, que herdou um País com crescimento anual de 7,6%, derrubou o PIB, perdeu o controle da inflação e destruiu as contas públicas. Decorrência direta da piora econômica, a perda de popularidade quase inviabilizou a sua reeleição. O caos econômico, somado à crise política, sepultou o segundo mandato em menos de dois anos. Para os seus aliados, o afastamento é um golpe. Para a maioria da população, um processo de impeachment por crime de responsabilidade, que está previsto na Constituição Federal.

É nesse ambiente político conturbado que Temer assume o comando do País. Não é possível comparar o atual momento com os períodos que antecederam as posses de FHC, Lula e Dilma. O mais correto é olharmos para 1992, quando Itamar Franco herdou a cadeira de Fernando Collor de Mello, alvo de um impeachment apoiado inclusive pelo PT. Assim como Temer, o então vice-presidente Itamar era uma figura pouco conhecida da população. Esse “desconhecimento” popular traz vantagens e desvantagens.

Do lado negativo, a falta de um respaldo mais direto das urnas – embora o vice-presidente tenha sido eleito na chapa – reduz a sua margem para erros. A população, em tese, tende a ser menos tolerante com o desconhecido. Por outro lado, esse “descolamento” do povo pode significar, num primeiro momento, uma grande chance de implementar reformas impopulares, mas absolutamente necessárias, como a da previdência. São ajustes espinhosos que dificilmente seriam abertamente debatidos em períodos eleitorais.

São temas desagradáveis que, numa reação automática dos eleitores, significariam perda de votos para o seu porta-voz. Temer não precisa se preocupar, por ora, com a sua popularidade. Ele está diante de uma oportunidade de ouro de virar o jogo da economia. É nesse aspecto que a esperança se renova. No entanto, o presidente terá pouco tempo para atender às expectativas da população e repetir o êxito de Itamar, FHC e Lula. Ou fracassará como Dilma.