19/09/2012 - 21:00
Do último andar do Edifício Dacon, um bizarro arranha-céu cilíndrico localizado na zona sul de São Paulo, o administrador mineiro José Francisco Fernandes Ribeiro, presidente do banco Luso Brasileiro, tem uma vista privilegiada das avenidas Faria Lima, Cidade Jardim e Nove de Julho, na área mais nobre da capital paulista. Por essas vias circulam automóveis de luxo, mas o que interessa mesmo a Ribeiro são os ônibus, normais ou articulados, que trafegam incessantemente pelos corredores dessas avenidas. Depois de mais de uma década dedicado aos empréstimos consignados, o Luso Brasileiro mudou radicalmente sua orientação.
José Francisco Ribeiro, presidente do Banco Luso Brasileiro: ”vamos
deixar de trabalhar com o crédito consignado, pois essa
operação não compensa”
Com o recebimento de injeção de capital de cerca de R$ 100 milhões de dois novos sócios, o banco vai financiar a compra de ônibus – tanto urbanos quanto intermunicipais –, tendo em vista um mercado de 350 mil veículos que circulam todos os dias pelas ruas e estradas do País. “Queremos ser o banco do ônibus”, diz Ribeiro. A alteração na estratégia explica-se pelo ambiente cada vez mais inóspito para a operação dos empréstimos consignados, concedidos principalmente a servidores públicos e a aposentados e pensionistas do INSS. Como as parcelas do crédito são descontadas diretamente do salário, o risco de inadimplência é baixo. Nos primeiros tempos, os juros reduzidos afastaram as grandes instituições financeiras, abrindo espaço para bancos de médio e de pequeno porte.
Para poderem trabalhar nesse mercado de massa, a solução era captar clientes por meio de agentes autônomos que operam por comissões. Tudo funcionou bem até o fim da década passada. No entanto, a partir de 2010, a crise do banco PanAmericano, um dos mais ativos no mercado de consignados, provocou um endurecimento na fiscalização por parte do Banco Central (BC). Concomitante a isso, os bancos grandes jogaram a força de suas redes para conquistar esses fregueses. “Tudo isso tornou a vida dos bancos médios muito mais difícil”, diz Erivelto Rodrigues, sócio da consultoria Austin Asis, especializada no setor bancário. O impacto sobre as instituições que atuavam nesse segmento foi pesado.
Os que não tiveram problemas, ao contrário de PanAmericano e o Cruzeiro do Sul, foram obrigados a mudar sua área de atuação ou a buscar associações – caso do BMG, que se associou ao Itaú Unibanco. Nesse sentido, a estratégia do Luso Brasileiro é clara. O banco manterá algumas operações de consignado, mas apenas as vinculadas a funcionários das empresas do grupo. Clientes não deverão faltar. Os fundadores do grupo Tavares de Almeida – produtor das aguardentes Velho Barreiro e Tatuzinho, entre outras – permanecem com 33% da operação (veja quadro). Um dos novos acionistas é o grupo Ruas. Fundado no início dos anos 1960 pelo comerciante português José Ruas Vaz, o grupo controla 16 companhias de transporte coletivo em São Paulo e possui cinco mil ônibus em circulação na capital. Outro sócio é o grupo lusitano Amorim.
Seu principal acionista, o empresário Américo Amorim, controla 90% do mercado mundial de cortiça e tem participações na empresa petrolífera Galp. “Ao todo, esses grupos empregam cerca de 50 mil pessoas no Brasil, e eles são clientes em potencial para os empréstimos consignados”, diz Ribeiro. Os 28 convênios que o banco possui com Estados, prefeituras e autarquias não serão renovados. “Concluímos que essa operação não compensa”, diz o presidente. A alternativa será, literalmente, embarcar nos ônibus. “Além de financiar os clientes da Caio, vamos oferecer crédito para as empresas de transporte que adquirem veículos de outras marcas”, diz Ribeiro. Os recursos virão, em sua maioria, do BNDES. “Nossa meta é que a carteira de empréstimos atinja R$ 2 bilhões em cinco anos.”