12/07/2013 - 21:00
O Homem-Aranha, herói dos quadrinhos e do cinema, sempre soube que a teia de aracnídeos é um material poderoso, graças à sua resistência, leveza e flexibilidade. É por isso que o personagem usa esse fio para se pendurar no alto de prédios e correr atrás de malfeitores. Trata-se de uma matéria-prima dos sonhos para um incontável número de empresas do setor industrial. E é exatamente nisso que aposta o biocientista e empresário Kazuhide Sekiyama, fundador e CEO da Spiber, do Japão. Na semana passada, ele apresentou ao mercado um fio sintético com as mesmas características da teia de aranha.
O produto foi saudado como uma espécie de Santo Graal da biotecnologia. “A seda da aranha é o material mais resistente da natureza”, disse Sekiyama, em conferência realizada em Tóquio. “Agora estamos colocando esse presente da natureza a serviço da indústria.” A criação da Spiber se diferencia das demais porque é vista, a princípio, como a primeira a se provar viável economicamente. Otimista, Sekiyama anunciou que, até 2015, terá capacidade para fabricar uma tonelada da fibra em sua unidade industrial.
Moda high tech: Sekiyama, CEO da Spiber, apresenta vestido
de fibra que imita a teia de aranha
Segundo ele próprio, seu grande mérito teria sido a descoberta da rota usada pelas aranhas para a produção dos fios. A técnica utiliza a bioengenharia para criar bactérias com DNA capaz de sintetizar a proteína que, em uma etapa posterior, é convertida em pó. Um grama do material é suficiente para produzir nove mil quilômetros de fio. Com isso, Spiber também entrou no radar de empresas como a fabricante de autopeças Kojima Industry, que doou os US$ 7,6 milhões necessários para a construção da planta-piloto em Tsuruoka, cidade da região noroeste do país. O projeto foi concebido em meio a uma noite de bebedeira com seus colegas da Universidade Keio, de Tóquio.
Para colocá-lo em prática, ele recebeu US$ 7,9 milhões de órgãos governamentais. Mas nem todo mundo está se deixando levar pela empolgação de Sekiyama. “O homem conseguiu criar o aço e o kevlar, mas nunca algo ao mesmo tempo tão resistente e flexível”, diz Elibio Rech Filho, coordenador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Na tentativa de popularizar sua invenção, Sekiyama se associou a um grupo de estilistas japoneses para criar um vestido de luxo com o material. Também se tornou figurinha carimbada em fóruns mundiais de inovação. Bom de marketing, o biocientista japonês já mostrou que é.