Os fãs de filmes de ação com agentes secretos já estão acostumados com tecnologias que se confundem com a roupa dos personagens, de James Bond até o divertido e atrapalhado Agente 86, com seu indefectível sapatofone – o nome do acessório é autoexplicativo de sua função. No entanto, a ficção está virando realidade. Empresas como Google, Samsung e Sony estão investindo pesado no que tem sido considerado por analistas a próxima grande onda tecnológica. São os “wearable devices” (ou, simplesmente, tecnologias que podem ser vestidas), que geraram receitas de US$ 8,5 bilhões em 2012, de acordo com estimativas da consultoria IHS. 

 

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Em 2018, esse valor deve quase quadruplicar para US$ 32,1 bilhões (leia gráfico). “Eles já estão nos mais diversos segmentos, o que os torna relevantes para cada vez mais consumidores”, afirma Shane Walker, diretor da IHS. O mais aguardado de todos os “wearable devices” são os óculos do Google, batizados de Glass. Sergey Brin, um dos fundadores da companhia de Mountain View, está pessoalmente envolvido em seu desenvolvimento, um indicativo da importância do projeto. O acessório fashion terá uma tela acoplada às lentes. Ele poderá gravar vídeos e tirar fotos com resolução de cinco megapixels, além de realizar tarefas básicas de um smartphone, como checar e-mails, enviar mensagens, fazer chamadas telefônicas e, claro, realizar buscas 

na internet. 

 

 

Previsto para ser lançado em 2014, seu preço deverá ficar entre US$ 600 e US$ 800. O Google, porém, é apenas a ponta do iceberg desse novo mercado digital. Relógios, pulseiras e chips em tênis já podem ser encontrados à venda. A coreana Samsung e a japonesa Sony, por exemplo, já competem na categoria que foi batizada de relógios inteligentes. A Apple também deve entrar nessa disputa. Há grande expectativa pelo lançamento de seu iWatch. A empresa comandada por Tim Cook já registrou patentes do produto em diversos países pelo mundo. Até a Intel quer uma fatia dos “wearable devices”. A fabricante de chips americana anunciou, em meados de setembro, uma nova linha de processadores Quark, que têm um quinto do tamanho do Atom, seu menor processador. 

 

 

“A próxima onda da computação ainda está sendo definida”, disse Brian Krzanich, CEO da Intel. Sua preocupação faz sentido. Dominante em computadores, a Intel ficou para trás na era dos smartphones e tablets e não quer perder essa nova febre tecnológica. Como é ainda incipiente e sem uma empresa grandalhona que o domine, o mercado de “wearable devices” está lotado de companhias iniciantes. É o caso da Bionym, pequena empresa canadense de inovação em tecnologia. Com apenas US$ 1,4 milhão, a Bionym criou uma pulseira que identifica a frequência cardíaca do usuário, servindo para destravar desde smartphones até carros, substituindo as tradicionais senhas. 

 

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“Ela trará uma maior sensação de segurança sobre nossas informações”, afirma Kurt Barlett, diretor de marketing da Bionym. O desafio, neste estágio inicial, é fazer com que essas tecnologias possam ser vestidas de forma discreta, sem chamar muita atenção, o que está longe de acontecer com o bandeiroso Google Glass. “É uma questão de adaptação”, diz Sérgio Cavalcante, superintendente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). “Quando surgiu o relógio de pulso substituindo o de bolso, também houve um estranhamento.” Num futuro próximo, será normal pessoas andarem nas ruas com óculos que são uma miniatura da tela de um computador?