Desde o mês de agosto, a ordem na Máquina de Vendas, terceira maior varejista de eletrodomésticos do Brasil formada pelas redes Insinuante, Ricardo Eletro, Salfer, City Lar e Eletro Shopping, é cortar custos. Documentos só podem ser impressos em preto e branco e os dois lados da folha devem ser usados, obrigatoriamente. Ao mesmo tempo, gastos dos funcionários com celulares corporativos foram limitados e há uma pessoa dedicada exclusivamente a controlar essa despesa. A austeridade não está apenas na área operacional, tendo chegado ao alto escalão.

Os dois jatinhos da empresa estão à venda, por exemplo. A partir de agora, quem quiser fazer voos privativos deve contratar uma companhia de aviação executiva ou comprar sua própria aeronave. Essas medidas de controle levam a assinatura de Richard Saunders, sócio minoritário do grupo, fundador da rede pernambucana Eletro Shopping, que assumiu o comando da Máquina de Vendas em agosto. “Sou muito focado em gastos, chega até ser exagerado”, afirmou o empresário, em entrevista à DINHEIRO por telefone, enquanto fazia conexão no Panamá em um voo comercial vindo dos Estados Unidos.

É justamente esse perfil de administrador firme que levou Saunders a ser eleito pelos quatro sócios, por unanimidade, como o novo presidente. O novo comandante assume as funções que eram de Ricardo Nunes, da Ricardo Eletro, que passa a ocupar a vice-presidência do conselho. Saunders, 42 anos, terá ao seu lado, como copresidente, o executivo Pedro Magalhães, atual CEO da Máquina de Vendas. Para quem comanda uma operação que fatura R$ 1 bilhão em 145 lojas, menos de 15% das unidades de um grupo de quase R$ 10 bilhões de receita, Saunders é a prova acabada de que tamanho, nesse caso, não é documento. Suas habilidades na administração se refletem nos resultados da Eletro Shopping, fundada por ele há 20 anos, em Recife.

A margem operacional da varejista pernambucana, de cerca de 10%, é quase duas vezes maior do que a obtida pela Ricardo Eletro, por exemplo, e dez vezes maior do que a registrada pelo grupo. “É uma das mais altas de todo o varejo”, afirma Magalhães. “Ele não é bom apenas em custos, mas na operação como um todo.” Entre os desafios de Saunders está a integração das cinco bandeiras que formam a Máquina de Vendas. Quatro anos após sua criação, resultante da união entre a mineira Ricardo Eletro e a baiana Insinuante, ainda são poucos os departamentos que operam com sinergias. “Vamos olhar para o grande como se fosse uma operação pequena, pois é preciso ver o negócio de forma mais simples”, diz o novo presidente.

“Mas com os devidos ajustes, é claro.” Para ele, só a real integração das companhias deve resultar em grandes cortes de custos. Dois departamentos que já estão sendo analisados são o de logística e o de estoque. De acordo com Magalhães, a empresa conta atualmente com 18 centros de distribuição, mas é capaz de operar com apenas 14 ou 12. A tesoura já fez estragos nos gastos com publicidade, com a dispensa de uma das agências de propaganda que atendiam a Máquina de Vendas. A expectativa é de elevar as margens de rentabilidade do grupo, hoje em 1,2% da receita, que chegou a R$ 9,2 bilhões em 2013, para 2% em 2015, o que deve promover um salto no lucro de R$ 88 milhões, no ano passado, para algo em torno de R$ 200 milhões.

“Estamos em uma nova fase da empresa”, diz Magalhães. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, Eduardo Terra, a operação começou a demandar por sinergia há algum tempo. “O tamanho e os desafios eram cada vez maiores, o que pedia integração das operações”, afirma Terra. “Eles estavam perdendo as vantagens de escala que tinham obtido ao se unir.” A dúvida do mercado é se o legado marqueteiro e agressivo de Nunes para os negócios continuará. Se depender de Saunders, a Máquina de Vendas será ainda mais feroz com a concorrência. O período de reformulação da operação também será importante para o próximo passo da varejista: a abertura de capital, programada para 2017.