Ao longo de 2014, o principal índice da bolsa flutuou ao sabor das ondas da economia mundial. Até meados de março, o Ibovespa andou de lado. A partir daí, a maré mudou e o indicador subiu até os 61.288 pontos em agosto – maior ganho mensal desde 2012. No entanto, vieram as notícias sobre a desaceleração da economia, o descontrole fiscal, a inflação persistentemente acima do centro da meta, ao qual somou-se, para completar o tsunami financeiro, o rebaixamento da perspectiva da nota de crédito do País pela agência americana de classificação de risco Moody’s.

Nesse momento, começou uma onda de vendas. A ressaca piorou com os escândalos da Petrobras e o Ibovespa encerrou o dia 16 de dezembro a 47.007 pontos, patamar mais baixo até então. Não é de surpreender que nesse cenário volátil tenha havido apenas uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2014. Somente a empresa de produtos veterinários OuroFino fez sua estreia no pregão, enquanto outras cinco companhias saíram de cena, como a Autometal. As perspectivas para 2015 tampouco são animadoras. Apesar de o mercado ter se mostrado animado com a equipe que vai conduzir a política econômica a partir de 2015, os desafios ainda são enormes.

A expectativa é que o desemprego aumente, a inflação continue pressionada por causa do repasse de preços administrados e do câmbio, e os juros também devem ser elevados, segundo Bruno Horovitz, responsável pela distribuição da gestora Icatu Vanguarda. Mesmo com tantas intempéries, há quem tenha conseguido surfar nessa onda. É o caso da empresa de varejo online B2W, que subiu 120,2% até outubro. “A companhia está no caminho certo para seguir ganhando fatia de mercado e reduzir a queima de caixa ao longo dos próximos trimestres”, afirma Lenon Borges, analista da Ativa Investimentos.


R$ 418 milhões - 
Foi o valor levantado pela ourofino na 
única oferta inicial de ações do ano

“No entanto, mantemos nossa recomendação neutra à espera de evidências de uma melhora operacional mais consistente.” Outra companhia que teve bom desempenho no ano foi a gigante de educação Kroton, com alta de 118,4%, seguida pela companhia de assistências especializadas Tempo Assist, que subiu 115,5%. Quando se analisam os indicadores que ganharam da inflação, o que teve melhor desempenho foi o Índice BDR, incentivado pela alta das ações americanas. O Índice Setor Consumo também se destacou, devido à alta de papéis dos setores de varejo e educação, segundo Carlos Müller, analista da Geral Investimentos.

“BRF e Kroton respondem por cerca de 30% do índice e, como tiveram desempenho muito bom, compensaram outras operações de varejo.” O avanço dos bancos, da Cielo e da BB Seguridade também impactou positivamente o índice financeiro. “É um dos setores em que mais acreditamos para 2015”, diz. Apesar de o mercado já ter escolhido as suas ações preferidas, é esperada mais uma onda de volatilidade para o ano que vem, segundo Marcos Alcântara Machado, gestor da Claritas.

Para o especialista, a obtenção de um bom desempenho deverá envolver a adoção de estratégias de compra e venda de ações, conhecidas como long & short. Bem diferente da alternativa adotada por Eduardo Castro, superintendente-executivo de gestão de fundos do Santander, ao longo de 2014, de buscar ativos menos voláteis. “Eu acho que de forma geral o grande desafio de 2014 foi conviver com um nível de volatilidade atípica, em que o cenário macroeconômico teve mais peso que os fundamentos das empresas.” Para 2015, Castro espera que seja um ano melhor já que os gestores terão mais oportunidades de gerar estratégias baseadas mais em fundamentos.

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Confira o Especial “Onde investir em 2015”

Um ano desafiador
Equilíbrio à prova
Papéis de fôlego
Encarando a queda
Na corda bamba
No ar rarefeito
Salto no escuro
Juros em alta
Manobras radicais
Em boa companhia
Escalada de lucros
O mapa da selva