22/02/2016 - 18:11
Carly Fiorina é uma executiva de sucesso. Em 1999, aos 45 anos, ela foi nomeada CEO da HP, fabricante de computadores. Não é fácil para uma mulher chegar ao topo de uma das 500 maiores companhias do mundo. Atualmente, são apenas 23 nesse patamar, segundo a revista Fortune. Naquela época, era ainda mais difícil. A executiva texana, que começou a carreira como secretária, foi uma pioneira e contribuiu muito para o debate sobre a necessidade de maior diversidade nas corporações. Fora do mundo corporativo, Carly tentava quebrar outra barreira.
Ela era candidata pelo Partido Republicano à sucessão presidencial nos Estados Unidos. Até o final do ano passado, seu nome aparecia bem colocado na disputa das prévias republicanas, que vão escolher um representante do partido nas eleições de novembro. Seu desempenho nos debates era bom, ainda que tenha escorregado em algumas questões. Na segunda semana de fevereiro, no entanto, Carly desistiu da disputa. “Embora esteja suspendendo minha candidatura, vou continuar a lutar pelos cidadãos deste país que se recusam a aceitar um ‘status quo’ que não mais funciona para eles”, afirmou a executiva.
Deixar o mundo corporativo para se aventurar na política parece ser ainda mais difícil do que uma mulher chegar ao topo de uma grande multinacional. Nos Estados Unidos, e também no Brasil, são raríssimos os casos. Na maior economia do mundo, e berço do capitalismo, por exemplo, apenas dois presidentes tinham o empresariado como atividade principal antes de chegarem à Casa Branca: George Bush, o pai, e George W. Bush, o filho. Warren Harding, que ocupou o posto de entre 1921 e 1923, também pode ser considerado um empresário, pois era dono de jornais.
O interessante é que a lista conta com um ator, Ronald Reagan, e até um jogador de futebol americano, o popular Gerald Ford, famoso por perdoar Richard Nixon e pelos tombos que costumava protagonizar em eventos públicos. Um ranking elaborado pela Associação Americana de Ciência Política, no entanto, coloca os empresários presidentes entre os piores da história americana. Harding é último. Bush pai aparece na 17ª colocação e Bush filho na 35º, entre 44 presidentes. No Brasil, o cenário é ainda mais desfavorável aos empresários. Nenhum dos 42 presidentes, desde o Marechal Deodoro da Fonseca, tinha como profissão a atividade empresarial.
A lista é composta, majoritariamente, por advogados e militares, com três jornalistas, um médico, um sociólogo, um metalúrgico e uma economista, Dilma Rousseff. Não foi por falta de tentativa. Grandes nomes do mundo dos negócios como Silvio Santos – que chegou a ser pré-candidato à presidência em 1989 – e Antônio Ermírio de Moraes, se arriscaram na burocracia política. Paulo Skaf , da Fiesp, foi candidato ao governo de São Paulo. Quem chegou mais longe o fundador da Coteminas, José Alencar, vice-presidente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Quer ser político? Deixe de ser empresário. Quer ser empresário? Não faça negócios com políticos. Essa mistura geralmente não dá coisa boa”, afirmou, em seu blog, o empresário Flavio Augusto, fundador da rede de escolas de inglês WiseUp.
Há quem pense o contrário. “A administração pública pode se beneficiar da visão empresarial”, disse à DINHEIRO o executivo Roger Ingold, ex-presidente da consultoria Accenture no Brasil. Existem, de fato, alguns bons exemplos. Michael Bloomberg, magnata do setor de mídia, chegou à prefeitura de Nova York e fez uma administração extremamente popular. Na Argentina, o empresário Mauricio Macri foi eleito presidente no ano passado, está promovendo um verdadeiro choque de gestão no país e vem agradando a população.
Já na terra do Tio Sam, com a saída de Carly Fiorina, o mundo empresarial passou a ser representado, na corrida presidencial, pelo polêmico Donald Trump. Favorito na disputa pela vaga republicana, Trump – que já foi à bancarrota várias vezes – faz questão de ressaltar seu lado empreendedor. “Infelizmente, políticos só falam, mas não agem”, afirmou o boquirroto empresário, em um de seus discursos. “Eles não vão te levar para a ‘terra prometida’, isso eu garanto.” A questão é se a visão empresarial, que coloca a eficiência e a lógica econômica em primeiro lugar, é a resposta para governos melhores. Ao que parece, este não é o fator mais determinante.