Em novembro de 2011, o empresário libanês naturalizado brasileiro Fares Nassar, CEO e um dos controladores da Sunrise Telecomunicações, operadora de tevê paga criada em 2000 e que opera em 12 municípios do interior de São Paulo, rumou para Nova York. A meta era apresentar o plano de negócios da Sunrise ao maior número possível de investidores convencendo-os a apostar na empresa. Em suas conversas, Nassar enfatizava que a pequena operadora poderia funcionar como porta de entrada para quem estivesse disposto a participar da nova abertura do setor de telecomunicações, através dos leilões da licença de 4G (quarta geração), marcados para 12 de junho. O road show atraiu a atenção de ninguém menos que o megainvestidor húngaro-americano George Soros. 

 

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Tacadas certeiras: por meio da gestora de fundos Quantum Partners,

Soros administra um patrimônio estimado em US$ 25 bilhões.

 

Um dos gestores de sua Quantum Strategic Partners, que assistiu a uma das palestras de Nassar, resolveu indicar o negócio ao chefe. Daí, para investir na Sunrise foi um pulo. Na quinta-feira 31, a Anatel, agência que regula o setor de telecomunicações no Brasil, deu o sinal verde para a entrada do megainvestidor na empresa de Nassar. Soros pretende injetar no negócio até US$ 500 milhões. “A liberação dos recursos dependerá da performance da empresa”, disse à DINHEIRO Nassar. “As metas incluem a ampliação do alcance das áreas de atuação, além do resultado da operação.” O negócio marca a redescoberta do Brasil pelo megainvestidor, onde começou a investir na década de 1990, principalmente no setor imobiliário e no mercado de ações. 

 

Nos últimos tempos, Soros vinha tirando o pé do acelerador. Sua última tacada expressiva por aqui foi a entrada da Adecoagro, braço argentino do investidor, na compra de fazendas e usinas de etanol, em 2004. Soros, agora, se credencia para atuar em uma área cuja demanda deverá se manter aquecida por um longo período. A expectativa do governo é de que as empresas invistam, pelo menos, R$ 25 bilhões por ano, até o fim da década. Uma parte expressiva será usada no ambicioso programa de popularização da banda larga móvel, por meio da tecnologia 4G. “Apesar de a demanda crescer a taxas expressivas, ainda existe muito espaço para avançar”, afirma Nassar. Os dados de estudo realizado pela Teleco, especializada em telecomunicações, confirmam essa tese. Há 53 milhões de acessos de banda larga móvel no País. 


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Até o fim do ano, serão 73 milhões. Em 2014, durante a Copa do Mundo, a estimativa são 123 milhões de acessos. Com a tecnologia 4G, as empresas poderão dar conta da demanda crescente de transmissão de arquivos cada vez mais robustos, como filmes e games. Além disso, ajudarão o Brasil a cumprir os acordos firmados com a Fifa, relacionados à infraestrutura de comunicação para a Copa do Mundo. O governo teme que a rede atual não dê conta do tráfego extra gerado pelo evento. Tanto na transmissão das partidas quanto no trabalho dos jornalistas credenciados para cobrir o evento. “A postura do governo é uma estratégia de marketing para vender o Brasil, como um País moderno”, diz o analista Eduardo Tude, presidente da Teleco. 

 

“O sistema atual é suficiente para dar conta do recado.” Apesar de 97 países já terem aderido ao 4G, os principais mercados são Estados Unidos e Canadá, onde existem 5,3 milhões de acessos em 4G, 71% do total registrado no mundo, em 2011. As operadoras brasileiras não falam abertamente. Contudo, é evidente o descontentamento com a pressa do governo. Elas argumentam que ainda não tiveram tempo sequer de recuperar os investimentos feitos na tecnologia 3G. Procuradas pela DINHEIRO, apenas a direção da GVT assumiu que pretende participar do leilão de licenças 4G. Talvez tenha sido para tirá-las da zona de conforto que a Anatel aprovou, em apenas seis dias, a alteração societária da Sunrise. “O Brasil continua atraente para as operadoras globais de telefonia”, afirma José Roberto Mavignier, diretor da consultoria Frost&Sullivan. 

 

Enquanto todos escondem o jogo, a pequena Sunrise, agora vitaminada com a entrada de Soros, não apenas confirma sua participação no leilão, como promete uma atuação agressiva. “Nossa intenção é disputar as licenças em todo o País”, afirma Nassar. Atualmente, a Sunrise possui autorização para oferecer serviço de tevê por assinatura em cidades importantes do interior paulista, entre elas Campinas, Ribeirão Preto e São José dos Campos, polos econômicos expressivos, com renda per capita acima da média nacional. Esse foi um dos argumentos que contribuíram para seduzir Soros. A empresa também está autorizada a atuar como prestadora de serviços de TI para o mercado corporativo. Apesar disso, seu crescimento estava prejudicado devido à falta de competitividade de seu sistema MMDS (com antenas do tipo microondas). Agora, com os dólares de Soros, isso pode mudar. Ah, se pode.

 

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