04/09/2015 - 20:00
A foto trágica e chocante que estampa essa reportagem nos remete a um drama permanente da humanidade. Populações em fuga, famílias em busca de um futuro. Em certo sentido, somos quase todos frutos de viagens que tiveram um final feliz. Infelizmente, esse não foi o destino do menino Aylan Kurdi, de três anos, que morreu afogado e apareceu na praia de Ali Hoca, em Bodrum, na Turquia. A imagem correu o mundo e causou indignação nas redes sociais, na semana passada. Cada vida perdida nessa crise migratória que a Europa enfrenta atualmente leva consigo um pedaço do futuro não só das famílias vitimadas, mas dos próprios países que deveriam recebê-la.
Tome-se, por exemplo, a história do Brasil. Sociólogos, antropólogos e historiadores são unânimes em afirmar que só houve uma consolidação social e econômica da sociedade brasileira graças à acolhida e ao trabalho dos refugiados que aqui chegaram. Famílias como Matarazzo, Diniz, Gerdau, Klein, Hering, Renner, Jafet, Zarzur e Maeda, entre tantas outras, são exemplos de imigrantes que chegaram sem nada e construíram impérios empresariais. É impossível pensar na industrialização sem o sucesso dos estrangeiros que aqui aportaram.
A Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo, fundada pelo agricultor e mascate Francesco Matarazzo, por exemplo, mostram o vigor da imigração italiana ao consolidar no país o maior complexo industrial da América Latina. Matarazzo emigrou ao Brasil em 1881 em busca de fortuna. Com algum capital, abriu em Sorocaba (SP) um comércio de secos e molhados. Poucos anos depois, investiu na produção e comércio de banha de porco. Em 1890, ao mudar-se para São Paulo, fundou com os irmãos Giuseppe e Luigi, a Matarazzo & Irmãos. Em algumas décadas, formou um conglomerado que chegou a contabilizar 365 empresas, como portos, estaleiros, metalúrgicas, papeleiras e fábricas de alimentos. À sua época, era o homem mais rico do Brasil, com dinheiro mais do que suficiente para adquirir por alguns milhões de dólares, o título de conde, concedido pelo rei Vitor Emanuel III, da Itália, em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Hoje, esse patrimônio seria equivalente a mais de US$ 20 bilhões. Mas esse gigante desapareceu em meio a um irrefreável processo de endividamento, acelerado nos anos 1970 e que levou o grupo à falência.
O varejo brasileiro também não seria o mesmo sem os Klein e os Diniz, sobrenomes ligados à rede de eletroeletrônicos Casas Bahia e ao supermercado Pão de Açúcar, respectivamente. Samuel Klein, que morreu em 2014 aos 91 anos, nasceu em Lublin, na Polônia. Era o terceiro de nove irmãos de uma família judia. Enfrentou os horrores da Segunda Guerra Mundial, tendo sido prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz, em 1944. Chegou ao Brasil em 1952, vindo da Bolívia. Cinco anos depois, comprou um pequeno comércio que daria origem a Casas Bahia, em São Caetano do Sul, na região do ABC paulista. É considerado por muitos o rei do varejo, pois foi o primeiro a vislumbrar o poder de compra dos mais pobres, fornecendo crédito aos que não conseguiam comprovar renda.
Já o português Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, construiu o Pão de Açúcar a partir de uma doceria, fundada em 1948, na capital paulista. Hoje, é a maior rede varejista brasileira com receita líquida de R$ 65,5 bilhões, tendo incorporado, inclusive, a Casas Bahia, dos Klein. A família Diniz, no entanto, não está mais no negócio, que foi comprado pelo grupo francês Casino. Abilio, por sua vez, aos 78 anos, continua mostrando o seu vigor no mundo empresarial. Depois de passar o negócio familiar para o Casino, em 2013, investiu na BRF, assumindo, inclusive, a presidência do conselho de administração, ao mesmo em que comprou 10% do capital da subsidiária brasileira do Carrefour, rival do Pão de Açúcar.
Os alemães também têm forte participação na industrialização brasileira. A Cia. Hering, fundada em 1880, na catarinense Blumenau, pelos irmãos Bruno e Hermann Hering, é sinônimo de camisetas e malhas. Também centenária, a Gerdau surgiu como uma fábrica de pregos, em Porto Alegre, fundada por João Gerdau e seu filho Hugo. Hoje, é uma das maiores indústrias siderúrgicas do Brasil e seu principal acionista, Jorge Gerdau Johannpeter, é um dos empresários mais respeitados do Brasil.
A história desses empreendedores, originários das mais diferentes procedências geográficas, nos ajuda a refletir sobre o drama dos refugiados que estão chegando à Europa em busca de uma vida melhor. É nossa hora de amparar. Vá ao Facebook ou ao Twitter, use a hashtag #somostodosimigrantes e conte a origem da sua família. E, principalmente, lembre-se que o mundo se constrói com tolerância e braços abertos.
Polônia. Era o terceiro de nove irmãos de uma família judia. Enfrentou os horrores da Segunda Guerra Mundial, tendo sido prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz, em 1944. Chegou ao Brasil em 1952, vindo da Bolívia. Cinco anos depois, comprou um pequeno comércio que daria origem a Casas Bahia, em São Caetano do Sul, na região do ABC paulista. É considerado por muitos o rei do varejo, pois foi o primeiro a vislumbrar o poder de compra dos mais pobres, fornecendo crédito aos que não conseguiam comprovar renda.
Já o português Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, construiu o Pão de Açúcar a partir de uma doceria, fundada em 1948, na capital paulista. Hoje, é a maior rede varejista brasileira, com receita líquida de R$ 65,5 bilhões, tendo incorporado, inclusive, a Casas Bahia, dos Klein. O negócio foi comprado pelo grupo francês Casino, em 2013.
Os alemães também têm forte participação na industrialização brasileira. A Cia. Hering, fundada em 1880, na catarinense Blumenau, pelos irmãos Bruno e Hermann Hering, é sinônimo de camisetas e malhas. Também centenária, a Gerdau surgiu como uma fábrica de pregos, em Porto Alegre, fundada por João Gerdau e seu filho Hugo. Hoje, é uma das maiores indústrias siderúrgicas do Brasil.
A história desses e outros empreendedores de sucesso convida à reflexão sobre o drama dos refugiados na Europa. É hora de ampará-los. Vá ao Facebook ou ao Twitter, use a hashtag #somostodosimigrantes e conte a origem da sua família. Afinal, o mundo se constrói com tolerância e braços abertos.