22/09/2010 - 21:00
A família Fischer, controladora do Grupo Fischer, um conglomerado com faturamento anual de R$ 3 bilhões, sempre teve um faro apurado para os negócios. Na década de 30, o patriarca Carl Fischer (1909-1988), um imigrante alemão que se estabeleceu em Matão (SP), percebeu que poderia ganhar dinheiro exportando frutas para a Europa. Daí nasceu a Citrosuco Paulista, uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo. Não bastasse isso, tornou-se também a maior produtora brasileira de maçã. Os negócios agrícolas, porém, não eram suficientes para as ambições do Fischer e, na década de 70, eles vislumbraram no setor petrolífero a chance de criar um negócio promissor.
Portela, da CBO: ”Existem empresas que estão enviando os barcos para a
China para fazer revisão obrigatória de 30 meses porque faltam peças no Brasil”
Assim surgiu a Companhia Brasileira de Offshore (CBO), dedicada a transporte marítimo para plataformas de petróleo e dona do estaleiro Aliança. Agora, o grupo enxergou mais uma oportunidade de negócio onde todos viam problema: a falta de peças para embarcações. “Sei de empresas que trabalham com embarcações maiores que tiveram de enviar navios para a China para fazer a revisão obrigatória de 30 meses. Esse é um problema sério, pois os barcos que não cumprem esse protocolo são impedidos de navegar”, diz Luiz Maurício Portela, presidente da CBO.
Por isso, o grupo vai investir R$ 1,4 bilhão para dobrar sua frota de 18 barcos e construir a sua própria fábrica de peças para barcos. Ao produzir suas engrenagens, a empresa acabará com a dependência de companhias terceirizadas. Isso proporcionará maior agilidade para atender a encomendas da Petrobras, a sua maior cliente.
“Além da dificuldade de formar pessoal qualificado, também não está sendo fácil atrair profissionais do setor que migraram para outras áreas, como a fabricação de barcos de luxo”, diz Miguel Ferreira, vice-diretor da escola de engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Frota renovada: a CBO vai construir 19 novos barcos para atender os pedidos da Petrobras
Os recursos para a nova empreitada foram captados junto ao BNDES, por meio do Fundo de Marinha Mercante. Cerca de 95% do dinheiro será usado na produção de 19 embarcações, todas já contratadas pela Petrobras. “A estatal brasileira representa cerca de 75% do nosso faturamento geral.
É a nossa maior cliente”, afirma Portela. A CBO atende ainda potências como as americanas Shell e Devon Energy. São contratos que variam de seis meses a mais de oito anos e rendem entre US$ 12 mil e US$ 40 mil de “aluguel” por dia à CBO. Esses barcos, com cerca de 80 metros de comprimento, são usados para transportar todos os equipamentos de apoio usados em plataformas petrolíferas, desde materiais de segurança até tubulações usadas na extração do petróleo.
A nova fábrica de peças, cravada em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, deverá ficar pronta no início de 2011. Já as embarcações deverão zarpar até 2016.Ambos os projetos terão um impacto direto no negócio da empresa. Estima-se que o faturamento salte de US$ 150 milhões para US$ 250 milhões.
Esse, aliás, é um cálculo conservador. Pelas contas do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), a expectativa é de que o segmento movimente R$ 5,5 bilhões neste ano. Nos próximos seis anos, então, deverão ser investidos US$ 12 bilhões na construção de grandes barcos.
E isso, segundo os especialistas, deve ser apenas o começo: “Quando a exploração do pré-sal começar a gerar encomendas, a tendência é que esse número cresça de forma exponencial”, aposta Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. É nisso que o grupo Fischer aposta.