05/07/2016 - 18:45
No meio corporativo, a história é bem conhecida. Fundada em Marselha há cinco décadas, a francesa Sodexo chegou ao Brasil, em 1977, e se consolidou como a maior empresa no mercado brasileiro de terceirização de serviços e vales-benefícios para empregados. Esse caminho contou com uma estratégia que privilegiou as aquisições para pular etapas na conquista de novos mercados. Em 2008, por exemplo, a companhia deu um grande salto ao adquirir por R$ 1 bilhão a VR, conhecida por seus cartões de alimentação. E, depois, começou a diversificar a sua atuação ao comprar, em 2011, por R$ 1,2 bilhão, a Puras, que oferece alimentação em refeitório de empresas. O problema é que o modelo de crescimento baseado em aquisições parece ter se esgotado. “Sempre procuramos a empresa mais certa para nós”, afirmou à DINHEIRO o CEO global da Sodexo, Michel Landel, comandante de uma operação com faturamento anual de € 19,8 bilhões e 420 mil empregados em todo o mundo, o que a torna a 19o maior empregadora privada do planeta. “É preciso ter valores similares aos nossos, porque o nosso negócio é dependente de pessoas e queremos manter os funcionários da empresa comprada.” A candidata também precisa ter uma estrutura bem estabelecida, o que é difícil num mercado altamente pulverizado, como é o de terceirização no País.
Por isso, a companhia tem apostado em novas ideias, promovendo a diversificação de seus negócios, sem precisar comprar nenhuma concorrente. Nos últimos cinco anos, a companhia investiu no fortalecimento de suas atividades para grandes empresas, ao integrar ao portfólio que inclui uma centena de serviços, incluindo limpeza, segurança, jardinagem, hotelaria para hospitais, manutenção predial e até instalação de ar-condicionado.
A aposta no mercado brasileiro se deve ao tamanho do País nas operações do grupo. A empresa possui 35 mil empregados aqui e um faturamento que supera os R$ 2,5 bilhões. “O Brasil é chave para as nossas operações. É uma das dez maiores economias do mundo, com uma grande população educada, com capacidade de inovação e um dos cinco maiores mercados para nós”, diz o CEO. “Queremos consolidar nossa posição aqui para estarmos prontos quando a economia reacelerar. Não estamos preocupados com o futuro do País.” Para crescer, Landel aposta na estratégia de grandes corporações concentrarem serviços terceirizados em poucos e grandes fornecedores. “É uma tendência global a de apenas um provedor oferecer todos os tipos de serviços”, diz.
É dessa forma que a Sodexo tem avançado em clientes do porte de Femsa, Santander, Bayer e na operação brasileira da UnitedHealth, dona da Amil. “Nessa última, começamos oferecendo limpeza e já chegamos a outros serviços de administração”, diz o Juan Urruticoechea, CEO no Brasil da Sodexo On Site, a divisão de serviços gerais, e que vai assumir o comando mundial de recursos humanos nos próximos meses. Mais do que isso, a Sodexo busca contratos globais, como já possui com P&G, Unilever, Colgate e GlaxoSmithKline. Um deles até teve início no Brasil. Por meio de um contrato com a companhia aérea TAM, a Sodexo convenceu a chilena Latam a integrar as operações terceirizadas para suas operações em toda América Latina e na Europa. “A economia mundial não está mais tão boa quanto na década passada, o mundo está mudando e não há estabilidade em lugar nenhum, então as empresas precisam ter mais eficiência”, diz Landel. “Ajudamos as empresas a simplificarem e unificarem as suas atuações.” Dessa forma, a estimativa do CEO é que a Sodexo possa crescer numa média entre 4% e 7% anualmente até o fim da década. No último ano fiscal, a expansão foi de 10% no mundo. Na área de serviços gerais, a empresa vê potencial global de negócios totalizando € 700 milhões.
Mas um desafio pode vir até mesmo da legislação brasileira. A lei da terceirização que está atualmente em apreciação pelo Senado tem um ponto que prejudica os planos de concentração de operações terceirizadas. “O projeto é muito bom, mas ele obriga as empresas a serem especializadas em apenas uma atividade. Ou seja, é preciso ter uma empresa para fazer manutenção hidráulica, outra para limpeza ou para portaria”, diz Vander Morales, presidente da Fenaserhtt, a federação nacional que representa as empresas de trabalho temporário e terceirizado. “Isso obrigará as prestadoras a abrirem empresas diferentes para cada serviço e aumentam os custos de quem deseja terceirizar diversas atividades.” Ao que parece, o apetite da Sodexo pelo mercado brasileiro dependerá mais do que apenas lidar com a crise econômica e com a dificuldade de aquisições.