Carlos Slim Helu disputa com Bill Gates e Warren Buffett o posto de homem mais rico do mundo, graças ao controle acionário da Telmex e da América Móvil. Privatizadas em 1990, as empresas dominam a telefonia fixa e celular no México. Slim é um velho conhecido do Brasil. Sua atuação é discreta, mas ele está presente no dia a dia de milhões de clientes da Claro, da Embratel e da Net. Agora, o “engenheiro”, como é conhecido, dá mais um passo para aumentar seus negócios por aqui. Na noite do dia 14 de março, seu conglomerado financeiro, o Inbursa, anunciou a compra das atividades brasileiras do banco sul-africano Standard Bank por US$ 45 milhões. 

 

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Slim: pressões do governo mexicano estimulam

os investimentos em outros países

 

O que esperar da vinda de Slim? Consultado, o Inbursa traz apenas a resposta protocolar. Em comunicado, o banco informou que o Standard “oferece uma plataforma adequada para desenvolver o negócio a partir de sua fase inicial, ligado aos princípios, critérios e à experiência do grupo”. De acordo com Marco Antonio Slim Domit, segundo dos seis filhos do bilionário e executivo responsável pelo grupo financeiro, a ideia é usar o Standard como base, seguindo a filosofia do Inbursa. Para entender o que isso significa, é preciso analisar as diferenças entre o Inbursa e seus concorrentes. 

 

Avaliado em cerca de US$ 9,7 bilhões, o banco é um negócio pequeno não só para o mercado mexicano, mas também para os padrões de Slim, cuja fortuna está avaliada em US$ 63 bilhões. Possui 320 agências, menos de um quarto da rede do líder Banorte, que tem 1.288 pontos de venda. Em janeiro, os ativos do Inbursa eram de US$ 16,9 bilhões, uma fração de gigantes como Banamex, controlado pelo Citibank. Contudo, o Inbursa tem algumas particularidades. A primeira é a diversificação. Ao contrário dos concorrentes, ele é uma das poucas instituições que atuam em seguros, gestão de fundos, administração de cartões e corretagem de ações. 

 

O Inbursa também se caracteriza por uma maior integração de suas atividades com outros negócios – os de Slim, claro. Pequenos empresários que são clientes da Telmex podem tomar empréstimos e pagá-los por suas contas telefônicas. Cada um dos pontos de venda dos negócios de Slim, sejam restaurantes ou lojas de telefonia, conta com caixas automáticos do Inbursa. A segunda é uma postura bem mais cautelosa do que a da concorrência, o que fez com que o banco atravessasse as crises de 1995 e 2008 sem apresentar grandes solavancos. Agora, o engenheiro começa a tatear o mercado brasileiro, com sua tradicional cautela. 

 

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Loja da Claro: peça estratégica no crescimento dos pagamentos móveis

 

“O dinheiro que sai da empresa se evapora”, reza o sexto de seus dez mandamentos, recitados como um mantra por sua organização. Sua vinda ao Brasil pode ser explicada pelas mudanças em casa. O mercado mexicano está ficando mais inóspito. “Ao compararmos os resultados da América Móvil no México com os da Claro no Brasil, notamos que a rentabilidade da Claro é muito menor”, disse Will Landers, gestor-sênior de fundos para a América Latina da empresa americana BlackRock, em uma entrevista no início de 2014. Segundo ele, a explicação é simples: “Ao contrário da Claro, a América Móvil não tem concorrência.”

 

Não tinha. Ao longo de 2013, o novo governo mexicano, que tomou posse no fim de 2012, promoveu reformas nas áreas fiscal, trabalhista, política e energética. O setor de telecomunicações não passou ileso e a orientação é romper o monopólio do qual Slim tem desfrutado nos últimos 24 anos. Por isso, a ordem é diversificar. O Brasil, mais estável que os vizinhos, parece a melhor alternativa. “A Argentina é um país magnífico”, disse Slim em uma entrevista em meados de fevereiro. “É previsível. Você sabe que nunca vai conseguir tirar nenhum dólar de lá.” As ambições de Slim por aqui são grandes. 

 

“O futuro dos negócios bancários no Brasil são os pagamentos móveis, e Slim controla a única operadora de telefonia celular que não tem ações em bolsa e pode subsidiar outras atividades sem ter de se preocupar com acionistas minoritários”, diz um banqueiro. Apesar de cultivar o folclore de ser avesso à tecnologia – ele dirige o mesmo carro há dez anos e jura que não sabe usar um smartphone –, Slim vem seguindo de perto a modernização das transações financeiras por equipamentos móveis no mercado mexicano. A aposta é que será questão de tempo para que essa estratégia comece a ser testada por aqui.

 

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