Google e Apple viveram entre tapas e beijos no ano passado. Na mais recente atualização do iOS, o sistema operacional do iPhone e do iPad, o YouTube e o Google Maps perderam a condição de aplicativos pré-instalados no smartphone mais badalado do mundo. Mas a empresa comandada pelo CEO Tim Cook se deu mal. O iOS Maps é um serviço inferior, o que causou uma adesão em massa ao aplicativo do Google Maps desenvolvido para iPhone e iPad – a versão do programa para produtos Apple foi lançada em dezembro. Esse é apenas um exemplo que demonstra como o Google se tornou um dos mais populares criadores de aplicativos para o iPhone. 

 

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A estratégia da companhia é desenvolver recursos que estejam disponíveis para quem não tenha um celular Android, o seu sistema operacional. O resultado disso é que o dono do buscador mais popular da internet ajuda a concorrente Apple a ficar cada vez mais atraente para os consumidores. Em contrapartida, beneficia-se do imenso mercado representado pelos usuários de iPhone. A consequência dessa batalha toda foi a formação de um setor – o de sistemas operacionais de celulares – dominado por dois grandes competidores: Google e Apple. Atualmente, os sistemas das duas empresas, somados, detêm 86,3% do mercado global de smartphones, de acordo com dados mais recentes da consultoria americana Gartner. Mas essa história pode mudar. 

 

Ao menos é o que desejam grandes empresas de tecnologia e telecomunicações, como BlackBerry, Samsung, Microsoft, Intel e Telefônica, que já se articulam para conquistar fatias importantes desse negócio. Além deles, competidores menores, como a inglesa Canonical, a finlandesa Jolla e a Mozilla Foundation devem lançar seus sistemas operacionais neste ano, acirrando a competição. O primeiro movimento dessa briga em 2013 foi dado pela BlackBerry, que até a semana retrasada se chamava RIM. Atual terceira colocada no segmento de sistemas operacionais, com 5,3% de participação, a fabricante acaba de lançar uma atualização de seu programa. 

 

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Integrado: a Microsoft, de Steve Ballmer, aposta na força da marca nos PCs

para criar soluções integradas no celular

 

O novo sistema operacional BlackBerry 10 vai além de apenas oferecer um design mais moderno para os aparelhos da empresa. Para emplacar, a ferramenta também aposta na segurança do serviço e no conceito de Byod – sigla em inglês para “traga seu próprio dispositivo”, segundo o qual os funcionários de uma companhia conectam na rede corporativa seus dispositivos particulares. Na semana do lançamento do BlackBerry 10, realizado no dia 30 de janeiro, o mercado torceu o nariz. Na segunda-feira 4, porém, a consultoria financeira Bernstein Research, de Nova York, se desmanchou em elogios pelo novo produto. 

 

“Mesmo com as perspectivas incertas para o longo prazo, acreditamos que tudo esteja no lugar certo para o BlackBerry 10 fazer uma grande estreia”, disse o analista Pierre Ferragu em um memorando. Avaliações como essas, somadas a uma recepção positiva por parte dos sites especializados, fizeram a ação da BlackBerry subir mais de 20% desde o lançamento. Assim como a BlackBerry tenta se colocar entre os protagonistas, a Microsoft também luta para conquistar seu espaço no setor de smartphones, que deve atingir o valor de US$ 1 bilhão em 2016, de acordo com o centro de estudos IMS Research. A criadora do Windows tenta usar seu domínio na área de computadores pessoais para obter sinergia com seu sistema móvel Windows Phone 8, lançado no final de 2012. 

 

“A Microsoft tem uma visão abrangente dos smartphones”, afirma Celso Winik, gerente-geral de Windows Phone no Brasil. “A ideia é unir todas as peças do nosso portfólio, como Windows 8 para computadores, Xbox 360, Skype e Office, entre outros”, afirma. Uma ajuda para a empresa fundada por Bill Gates ganhar terreno deve vir de um aliado de longa data: a Intel. A líder mundial em chips para PCs pretende contratar engenheiros especializados em Windows Phone, um indicativo de sua disposição para desenvolver produtos para o sistema da parceria. A Intel, porém, não coloca todas as fichas na Microsoft. A empresa também desenvolve com a Samsung o Tizen, um software baseado em Linux. 

 

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De cara nova: o CEO da BlackBerry, Thorsten Heins, apresentou um sistema

com novo design para ganhar mercado

 

A intenção da Samsung é diminuir sua dependência em relação ao Android. As primeiras demonstrações do Tizen em smartphones são aguardadas para a Mobile World Congress, feira de celulares, marcada para o fim deste mês na Espanha. Foi justamente nesse evento que, em 2012, foi mostrado pela primeira vez o Firefox OS, sistema operacional da Mozilla Foundation, dona do navegador homônimo. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Telefônica. O laboratório de testes do programa será o Brasil. Até o terceiro trimestre deste ano, celulares inteligentes com Firefox devem chegar ao País. “Ainda há muito espaço para os smartphones crescerem no Brasil”, diz Pablo Larriex, diretor do Centro de Inovação da Telefônica. 

 

Alguns aparelhos equipados com o sistema foram distribuídos para desenvolvedores brasileiros, que poderão explorar uma interface bastante peculiar em relação à dupla Android/iOS. O grande diferencial dessa plataforma é a integração com o HTML 5, linguagem de internet que permite que sites atuem como aplicativos instalados. Além dessas empresas, correm por fora na disputa alguns pequenos competidores. Um deles é a inglesa Canonical. Conhecida por desenvolver projetos relacionados ao sistema operacional de computadores Ubuntu, a companhia deve lançar neste mês um protótipo da versão móvel desse programa baseado em Linux. 

 

Outro que busca um lugar ao sol é o Sailfish, da finlandesa Jolla. O fato de a companhia ser do país de origem da Nokia não é mera coincidência. Depois que a fabricante de celulares abandonou o seu software próprio MeeGo para fazer do Windows Phone o seu principal sistema para smartphones, os funcionários que trabalharam no projeto se rebelaram e criaram a Jolla. A companhia aposta em recursos para múltiplas tarefas simultâneas como diferencial. Em meio a essa avalanche de sistemas, a dúvida é como o usuário assimilará tantas opções. “Tantas ferramentas ao mesmo tempo podem acabar confundindo o consumidor” afirma Bruno Freitas, da consultoria IDC. 

 

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