22/08/2012 - 21:00
O economista americano Nouriel Roubini, conhecido como o “senhor apocalipse” por suas projeções pessimistas, previu em meados dos anos de 1990 que a internacionalização de empresas asiáticas, principalmente sul-coreanas e chinesas, destruiria os parques industriais de nações mais frágeis e os mercados em expansão. No caso do Brasil, que durante décadas contou apenas com o fluxo de investimentos das companhias japonesas, ele errou feio. Vistas inicialmente com receio pelo consumidor, que duvidavam, sobretudo, de sua qualidade, as marcas orientais assumiram, cada uma a seu modo e a seu tempo, posições de destaque em vários setores da economia.
As novas líderes: as gigantes sul-coreanas de eletrônicos, como a LG, desbancaram
marcas veterenas e assumiram a liderança do setor.
Nas vitrines de eletroeletrônicos, Samsung e a LG – as atuais líder e vice-líder em vendas de televisores e monitores no País – ocuparam espaços que antes eram dominadas por marcas veteranas no varejo nacional, como a holandesa Philips, a americana Philco ou mesmo da japonesa Sony, instalada com fábrica no Brasil desde 1972. “A expansão das marcas asiáticas redesenhou a geografia do consumo no País”, define o economista da Fundação Getúlio Vargas, Walter Khouri. Isso não aconteceu por acaso, na opinião dos executivos de empresas dessa segunda onda de migração oriental. “Nos transformamos na mais moderna empresa do setor no mundo e colocamos toda nossa experiência no Brasil”, diz Benjamin Sicsú, vice-presidente de negócios da subsidiária brasileira da Samsung, que faturou US$ 6 bilhões no ano passado.
Hyundai vem com tudo: o HB20 marcará a estreia da montadora no segmento de carros compactos.
O segmento de eletrônicos é um exemplo clássico de ocupação de espaços pelas coreanas, mas está longe de ser o único. O mercado automobilístico nunca recebeu tantas montadoras de lá como nas últimas duas décadas. Hoje, a Hyundai e a Kia brigam de igual para igual, nos quesitos de qualidades e reputação, com as tradicionais japonesas Toyota e Honda, assim como as recém-chegadas chinesas Chery e JAC, que disputam mercado com fabricantes francesas e americanas. “O Brasil é um mercado que vale a pena investir porque a demanda e a economia estão em crescimento”, disse o sul-coreano Chang Kyun Han, presidente mundial da Hyundai, no início das obras da fábrica de US$ 600 milhões, em Piracicaba (SP), onde será produzido o compacto HB20, para concorrer como o também oriental Etios, da Toyota, com inauguração prevista para o último trimestre deste ano.
Os números comprovam a revoada de capitais da Ásia no País. De janeiro a julho, o investimento estrangeiro direto (IED) da Coreia do Sul mais que triplicou no Brasil em relação ao registrado no mesmo período do ano passado – de US$ 194 milhões para US$ 608 milhões, um aumento de 213,4%. O tigre asiático ficou entre os dez países que mais apostaram no País. Segundo estudo da Fundação Vanzolini-SP, a Coreia do Sul deve superar o Japão como o maior player asiático no setor automobilístico até 2017, com investimentos de mais de R$ 30 bilhões em construção de fábricas e ampliação das que já existem no Brasil. Um setor que tem atraído os asiáticos é o de máquinas e equipamentos, principalmente voltados à construção civil. Segundo a Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema), 60% das vendas mundiais de equipamentos para construção civil acontecerão na China, Índia e Brasil até 2015, motivo que leva algumas corporações asiáticas a traçar planos para fincar suas bandeiras em solo brasileiro.
A diversificação: estratégia da Samsung no mundo
foi replicada com sucesso no País, como mostrou
a edição 25, de 1998.
“Optamos por focar no atendimento para ganhar um mercado que, no Brasil, estava muito concentrado”, afirma Felipe Cavaliere, presidente da BMC, subsidiária da divisão de máquinas do grupo Hyundai. A previsão para este ano é de que a BMC comercialize cerca de 3,3 mil equipamentos, com uma receita de R$ 1,4 bilhão. A chinesa Sany é outro exemplo do interesse dos novatos no setor de máquinas pesadas, até então dominadas por gigantes como a sueca Volvo, a americana Caterpillar e a alemã Liebher. A empresa fabrica, desde o ano passado, escavadeiras e guindastes em São José dos Campos (SP). Com a expansão dos negócios do País, a Sany pretende aumentar a nacionalização de sua produção, que agora gira torno de 850 unidades por ano. Motivo da pressa: antecipar-se à chegada de concorrente e conterrânea Liu Gong, anunciada recentemente.