Pouco mais de 800 quilômetros separam Alta Floresta de Cuiabá, a capital do Mato Grosso. O roteiro para chegar ao município inclui estradas de terra e a passagem por reservas indígenas, entre outras peculiaridades. O percurso até Tefé, no interior do Amazonas, é também uma aventura. As únicas vias de acesso são os voos semanais ou as viagens de barco e de lanchas, que saem de Manaus, a 523 quilômetros, e podem levar até dois dias. Exemplos dos desafios de infraestrutura do Brasil, Alta Floresta e Tefé abrigam uma pequena fração dos 1,7 mil contratos atendidos pela Simpress, companhia brasileira de serviços de terceirização de impressão e gestão de documentos.

Diariamente, seus 1,5 mil técnicos percorrem o País levando na bagagem toners e toda sorte de componentes de impressoras. O trabalho ajuda a explicar a jornada bem-sucedida da empresa. Fundada em 2001, a Simpress desbancou rivais estrangeiros e assumiu a liderança do setor de terceirização de impressão. Após fechar 2014 com um faturamento de R$ 485 milhões, a companhia quer chegar ainda mais longe. O novo destino? A lista das maiores empresas do Brasil. A Simpress ganhou um novo combustível para atingir esse objetivo. No início de 2015, a empresa foi comprada pela gigante coreana Samsung e passou a atuar como uma subsidiária independente.

A negociação foi conduzida pela matriz da Samsung, em Seul. O acordo – de valor não revelado – envolveu a aquisição de 100% da operação. Até então, a Simpress tinha como maior acionista, com 43% de participação, um fundo de investimento gerido pela Gávea Investimentos, que tem como acionista o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. “Com a Samsung, vamos elevar nosso grau de competitividade”, diz Vittorio Danesi, presidente e fundador da Simpress. Por seu desempenho atual e pelas perspectivas que se abrem com a aquisição, a Simpress foi escolhida A Empresa do Ano em 2015 pelo anuário AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, prêmio criado pela DINHEIRO para homenagear as companhias de médio porte no País.

Na terceira edição do prêmio, as empresas médias – foram consideradas aquelas com receita líquida entre R$ 70 milhões e R$ 500 milhões em 2014 – ressaltam todo o seu poderio econômico e mostram por que são fortes candidatas a gigantes do futuro. As 500 maiores empresas do middle market apuraram uma receita líquida total de R$ 155 bilhões em 2014, o que representou uma expansão de 9,4% sobre o ano anterior. Para se ter uma ideia da força desse segmento, o crescimento foi de 94 vezes o Produto Interno Bruto do ano passado, de 0,1%. Os números trazem à tona um setor que insiste em crescer num país tão desafiador como o Brasil.

“Esse é o segmento mais relevante, inovador e gerador de empregos da economia brasileira”, diz Osvaldo Roberto Nieto, presidente da consultoria Baker Tilly Brasil, parceira da DINHEIRO na elaboração de AS MELHORES DO MIDDLE MARKET. Para selecionar as melhores, os consultores Miguel Ângelo Arab e Anderson Martins, da Rentsoft, avaliaram os indicadores de 800 empresas de porte médio, pontuando o desempenho conforme a taxa de crescimento, a geração de caixa, o lucro e a qualidade da gestão empresarial. Foram utilizados questionários preenchidos pelas companhias candidatas ao prêmio e os balanços publicados pelas empresas, conforme as bases de dados da Boa Vista Serviços e da Economática, também parceiras da DINHEIRO (Confira a metodologia completa aqui).

Ao final, foram selecionadas dentre as empresas inscritas aquelas com as melhores práticas de gestão. Além de Empresa do Ano, a Simpress foi a campeã em Gestão Empresarial e a Truckvan, em Gestão Financeira. As vencedoras de 30 setores foram escolhidas com base em seus balanços financeiros. Para Nieto, os dados revelam outros destaques. Ele cita avanços em indicadores como gestão, produtividade e crescimento da média salarial. “A lista inclui muitas companhias com enorme potencial para serem grandes empresas nos próximos anos”, diz Nieto.

Campeã de AS MELHORES DO MIDDLE MARKET em 2014, a Ser Educacional é uma das empresas que cruzou essa barreira. No primeiro semestre de 2015, o grupo reportou uma receita líquida de R$ 542,6 milhões, alta de 64,4% sobre igual período, um ano antes. O reforço da liderança nas regiões Norte e Nordeste foi uma das estratégias que apoiaram esse desempenho. Em junho, a empresa adquiriu, por R$ 6 milhões, a Faculdade Talles de Mileto (FAMIL), e incorporou duas unidades em Fortaleza (CE) e Parnamirim (RN). Um novo financiamento de R$ 120 milhões com a International Finance Corporation (IFC) é uma das bases para essa expansão.

“Nesse momento de instabilidade econômica, quem estiver bem capitalizado tem muitas oportunidades para manter e até expandir seu ritmo de crescimento”, diz Nieto. É o caso da Simpress. O acordo com a Samsung é um dos trunfos da companhia para atravessar sem sustos os desafios da economia e do seu próprio segmento. Como parte do amadurecimento do mercado, as margens do setor de terceirização de impressão estão mais restritas. Ao mesmo tempo, o modelo exige investimentos intensivos em equipamentos na largada dos projetos.

O retorno desses aportes só acontece no decorrer dos contratos, que, em média, duram de três a cinco anos. Os pagamentos são mensais e a prestação de serviços envolve 100% das demandas de impressão dos clientes, da gestão à manutenção das máquinas. “Passamos a ter um cobertor maior com a Samsung”, diz Danesi. As longas distâncias também são um traço marcante na história do empresário italiano. Danesi desembarcou no Brasil na década de 1970, ainda adolescente, na esteira de mais uma transferência do pai, executivo de uma multinacional. A vida profissional do patriarca já tinha levado o menino nascido em Gênova a morar em países como França e México.

Mas foi no Brasil que a família encontrou, enfim, um porto seguro e definitivo. No País, formou-se em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e colecionou passagens como executivo em mais de 20 anos no setor de tecnologia. Antes da Simpress, ele fundou a TCE, que fabricava e vendia produtos como monitores, fax e scanners, em 1994. A empresa fechou as portas em 2000, diante da dificuldade de competir com as multinacionais que começavam a reforçar seus investimentos no País. Entre elas, a própria Samsung. O reencontro com a empresa coreana é justificado por uma série de fatores. O principal é a desaceleração das vendas de impressoras.

O mercado brasileiro registrou uma queda de 11,9% nas vendas em 2014, segundo a consultoria americana de tecnologia IDC. Uma das alternativas de fabricantes como a Samsung foi fortalecer a oferta de terceirização de impressão. Em 2014, esse setor movimentou US$ 837,3 milhões no Brasil, de acordo com a IDC. “Os fabricantes estão olhando cada vez mais para essa vertente, pois é onde efetivamente se ganha dinheiro nesse mercado”, diz Diego Silva, analista da IDC Brasil. A capilaridade e a eficiência logística da Simpress chamou a atenção da Samsung, mais conhecida por suas ofertas para consumidores.

“Eles entenderam que nossa plataforma era robusta e quiseram levar esse conhecimento para dentro de casa”, diz Danesi. A Simpress possui 12 filiais, além de 650 revendas especializadas em impressão. A empresa atende diretamente 80% dos clientes. Seus técnicos estão divididos entre os que atuam dentro dos clientes e os volantes, que ficam em campo. Os contratos mensais variam de R$ 20 mil até R$ 800 mil. Com a tendência de digitalização dos processos em papel, a Simpress vem investindo em outras frentes. A empresa possui soluções de captura e gestão de conteúdo, seja ele impresso ou eletrônico.

Um dos exemplos são os serviços que digitalizam todo o fluxo da abertura de uma conta em um banco, desde a captura dos documentos em uma impressora instalada nas agências. O equipamento, por sua vez, está conectado com os sistemas centrais da instituição. Com essa abordagem, o processo pode ser concluído em minutos. A busca por produtividade é outro ponto forte. A Simpress desenvolveu softwares para monitorar remotamente os equipamentos instalados nos clientes. Com essa solução, é possível prever a troca de toners e o desgaste de peças. Hoje, 60% das cerca de 100 mil máquinas distribuídas no País já são monitoradas.

Uma das prioridades agora é usar essa base instalada para testar soluções desenvolvidas pela Samsung na Coreia do Sul. Um dos exemplos em fase de piloto é uma solução que conecta as impressoras ao smartphones dos técnicos. As máquinas enviam uma base de dados com todos os itens e peças que necessitam de reparos ou trocas, em uma sequência de prioridade. A ideia é ampliar a assertividade na manutenção, ganhando tempo e reduzindo custos. “Vamos integrar cada vez mais a mobilidade ao mundo da impressão”, diz Danesi. O plano da Simpress é estender essa solução a todos os seus técnicos até 2016.

—–

Confira as demais matérias do Especial As Melhores do Middle Market 2015

Confira também o ranking das 500 melhores empresas