As relações diplomáticas brasileiras com Cuba têm sido calorosas desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Palácio do Planalto em 2003. Lula foi quatro vezes à ilha governada, até 2008, por Fidel Castro, e anunciou linhas de crédito e parcerias. A agenda comercial entre os dois países, porém, pouco evoluiu de fato. Agora, ao estabelecer a economia como o tema central durante sua visita de dois dias a Cuba na semana passada, a presidenta Dilma Rousseff quer levar a relação para um nível mais pragmático. Antevendo que Havana, hoje sob o comando de Raúl Castro, o irmão mais novo de Fidel, aprofundará a abertura de sua economia e buscará uma aproximação com os Estados Unidos, o governo brasileiro tenta se posicionar como parceiro preferencial da economia socialista. 

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Comitiva: Dilma, o governador da Bahia, Jaques Wagner (de branco), e o ministro
Fernando Pimentel (à dir.) em cerimônia em Havana.

As oportunidades num país que pouco modernizou sua estrutura produtiva nas últimas décadas são enormes. “A grande contribuição que o Brasil pode dar é no processo de desenvolvimento econômico”, disse Dilma, na terça-feira 30, pouco depois de desembarcar no aeroporto José Martí, em Havana. À parte a visita protocolar a Fidel e a Raúl, o roteiro da viagem de Dilma deixou claras as intenções do governo. Seu principal destino foi a obra do Porto de Mariel, a 50 quilômetros da capital. O projeto de US$ 957 milhões – dos quais US$ 682 milhões financiados pelo Brasil – é tocado por uma subsidiária da empreiteira Odebrecht, que tem a estatal cubana Quality como parceira. Ao lado de Raúl, a presidenta seguiu para um mirante, de onde observou as obras do porto que terá capacidade para movimentar até um milhão de contêineres por ano a partir de 2014. 

Somando as obras de acesso – uma ferrovia de 13 quilômetros e uma rodovia de 18 –, trata-se do maior projeto em curso em Cuba. Ao todo, serão criados oito mil empregos privados num país onde, até as recentes reformas econômicas, o Estado era praticamente o único empregador.O governo brasileiro aposta, porém, que uma onda maior de investimentos ainda está por vir, patrocinada principalmente pelo setor privado. Durante a visita de Dilma, a Odebrecht anunciou que assinará um contrato de dez anos com a estatal Azcuba para produzir açúcar na Usina 5 de Septiembre. Desde 1970, a produção açucareira cubana despencou de oito milhões de toneladas por ano para 1,2 milhão. A Odebrecht planeja produzir etanol e energia a partir de biomassa na ilha. Já a fabricante paulista de vidros Fanavid deve construir uma unidade industrial na ilha, voltada à exportação. 

 

Outra empresa brasileira interessada em tirar proveito das oportunidades geradas pelo capitalismo cubano é a TendTudo, quinta maior rede varejista de material de construção do Brasil. O grupo abrirá uma filial em Cuba no mês de abril, oferecendo uma variedade de 1,5 mil itens. Nada mal para uma população que até o ano passado não tinha o direito de comprar seus imóveis. Para Thiago de Aragão, cientista político da consultoria Arko Advice, de Brasília, essa estratégia pode favorecer o Brasil numa eventual revogação do embargo dos Estados Unidos a Cuba, em vigor desde 1962. “É a oportunidade de sermos um parceiro mais sofisticado, para construir hotéis e cooperar em projetos entre os governos”, disse à DINHEIRO. Postular a condição de aliado estratégico, porém, é uma aposta de longo prazo num país onde há muito terreno para ser conquistado. 

 

Com uma exportação de US$ 550,1 milhões para Cuba, em 2011, um crescimento de 32,6% sobre o ano anterior, o Brasil é o quarto maior parceiro da ilha. À frente estão Venezuela, China e Espanha, que respondem por quase 55% do que Cuba importa e já conseguiram se inserir na infraestrutura hoteleira, caso da Espanha e, na frota de transporte público, caso da China. O Brasil, por sua vez, vinha atuando mais como financiador e parceiro em projetos. O BNDES, por exemplo, já liberou US$ 329,6 milhões à ilha desde 1998. Mas 70% desse valor corresponde ao financiamento da construção do Porto de Mariel, iniciada em 2010. A Petrobras firmou um acordo, em 2008, com a estatal cubana Cupet, mas os negócios não prosperaram. A companhia brasileira deixou o projeto após concluir estudos geológicos na região. 

 

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 Negócios na ilha:

 - A Odebrecht assinará um contrato de dez anos para produzir açúcar e etanol

– A TendTudo vai abrir uma loja de material de construção

– A Fanavid deve construir uma fábrica de vidros

– O BNDES vai aumentar o volume de financiamentos em Cuba