A zebra estava solta no Cam­pe­onato Paulista de futebol deste ano. Já na primeira fase do torneio, disputado por 20 equipes, aconteceu a primeira surpresa. O poderoso Corinthians, time de maior torcida do Estado, não conseguiu avançar para as etapas finais. Nas quartas, quem caiu foi o São Paulo, ao perder nos pênaltis para o desconhecido Penapolense, da pequena Penápolis, de pouco mais de 55 mil habitantes. Mas a zebra mostrou sua cara com força na fase final. Com duas vitórias sobre o Palmeiras e sobre o Santos, que liderou quase todo o campeonato, o modesto Ituano, com sede em Itu, cidade de 150 mil habitantes, famosa pelo exagero e pelo gigantismo de tudo o que existe por lá, conquistou o título e desbancou os grandes clubes. 

 

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Juninho, o vencedor do paulistão: “Não tínhamos nada. Pegamos o clube do zero,

investimos R$ 3 milhões e fomos longe” 

 

O feito se torna mais espetacular quando se vê o orçamento da equipe. A folha salarial do Ituano é de, aproximadamente, R$ 400 mil por mês. A título de comparação, o Timão gasta, mensalmente, cerca de R$ 8 milhões com seu plantel – apenas o jogador Emerson Sheik, que estava na reserva e foi repassado ao Botafogo do Rio de Janeiro, embolsava um salário de R$ 500 mil. Se houvesse alguma lógica no futebol, a taça deste ano, certamente, não ficaria em Itu. Os números impressionam. Levando em consideração a folha salarial, para cada uma de suas dez vitórias, o Ituano desembolsou cerca de R$ 140 mil. Seu adversário na final, o alvinegro praiano, gastou mais de quatro vezes esse valor. 

 

Já o eliminado Corinthians teve de investir nada menos do que R$ 3,5 milhões em cada uma das sete partidas que venceu. A conquista da equipe, no entanto, não foi um mero golpe de sorte. O que levou o clube a contrariar as estatísticas e desbancar oponentes muito superiores financeiramente foi uma fórmula bem conhecida no mundo dos negócios: a união entre uma boa gestão e a formação de talentos. Capitaneada pelo ex-atacante Juninho Paulista, campeão mundial com a Seleção em 2002 e com passagens por grandes clubes do Brasil e da Inglaterra, a equipe de Itu driblou as limitações orçamentárias com medidas simples e criativas, que acabaram se refletindo no desempenho dos jogadores. 

 

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Superação: cada uma das dez vitórias do Ituano no Paulistão custou R$ 140 mil,

quatro vezes menos que o valor pago pelo Santos 

 

“O título foi a premiação de uma administração segura feita por Juninho”, afirma o consultor esportivo Amir Somoggi. Nascido na capital, mas revelado pelo clube de Itu, Juninho, que na pia batismal recebeu o nome de Osvaldo Giroldo Jr., conseguiu, com um trabalho bem feito de marketing, revitalizar a ligação da população local com o time. Resultado: estádios lotados e muita pressão para cima dos adversários. “Não tínhamos nada. Pegamos o clube do zero, investimos R$ 3 milhões e fomos longe”, diz Juninho Paulista à DINHEIRO. Com o apoio da torcida, veio também o patrocínio de empresas locais. Só na final, o Ituano estampou sete marcas em sua camisa, como a da companhia de bebidas Brasil Kirin (ex-Schincariol), que possui fábrica em Itu, e a da empresa de segurança Gocil. 

 

Com elas, o time levantou, em um jogo, mais de R$ 2 milhões para reforçar o caixa. No último balanço divulgado, de 2012, o Ituano registrou faturamento de R$ 5,2 milhões, R$ 600 mil a menos do que gastou naquele ano. A paulista Kanxa, fornecedora de materiais esportivos, é uma das principais apoiadoras do time paulista. A parceria começou em 2009, justamente com a chegada de Juninho à presidência do clube. “Não queremos apenas patrocinar, mas criar parceria com os clubes com os quais trabalhamos”, afirma Sérgio Grer, gerente de marketing. 

 

A marca também apoia outras equipes menores, como o Bragantino, de Bragança Paulista (SP), e até uma equipe da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, o Criciúma (SC). Depois da festa e da ressaca pela conquista do título, o Ituano iniciará a preparação para a quarta divisão do campeonato brasileiro. Para conseguir uma vaga na série C de 2015, o time terá que superar o principal problema das equipes menores do futebol: manter o plantel. “Será a hora do Ituano provar que tem mesmo planejamento”, diz Pedro Daniel, consultor de esportes da BDO Brazil. “Ele voltará para a realidade de pouca mídia e disputas menores.” O desafio é grande, mas o baixinho Juninho já demonstrou, dentro e fora de campo, que, no futebol, tamanho não é documento. 

 

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Agradecimento: Brechó Minha Avó Tinha (cartola)