19/12/2012 - 21:00
Ao longo de 2012, a petroleira anglo-holandesa Shell viu sua posição de a maior produtora privada de petróleo do Brasil desafiada por concorrentes daqui e do Exterior. A lista inclui a novata OGX, do empresário carioca Eike Batista, além da britânica BP Energy. Mas foi a norueguesa Statoil – que opera o Campo de Peregrino, na Bacia de Campos, em parceria com a chinesa Sinochem – que conseguiu realmente ameaçar sua liderança. Desde meados do ano, Shell e Statoil vêm alternando posições no ranking da Agência Nacional de Petróleo (ANP). No último levantamento, em outubro, os noruegueses levaram a melhor com a extração de 68,3 mil barris de gás natural e óleo equivalente por dia.
Ao mar: petroleiras investiram R$ 22,3 bilhões, em 2012, para ampliar a produção
nas plataformas marítimas brasileiras
A Shell aparece na sequência, com 57,2 mil barris. O sucesso da Statoil se deve ao fato de eles possuírem o nono poço mais produtivo do País no período. Mas a direção da Shell se prepara para dar o troco. Para isso, possui dois trunfos. O primeiro deles é a verba de US$ 2 bilhões para ser investida no período 2012-2013. O outro é a adoção da tecnologia batizada de Sísmica 4D em suas novas prospecções no Brasil. “O sistema vai garantir uma perfuração mais eficiente e ainda reduzir os custos”, diz André Araújo, presidente da Shell Brasil. “Com ele será possível definir o local exato para fazer cada prospecção.” O grande trunfo da Shell, de acordo com Araújo, será o uso dessa tecnologia em todas as fases do processo, até o final da vida útil dos poços.
A decisão levou em conta as características da região onde será feita a exploração da fase 2 do campo de Parque das Conchas, no litoral do Espírito Santo, onde a pressão é considerada baixa. O sistema em 4D é composto por uma série de sensores e cabos colocados no leito do oceano. Eles ficarão a uma profundidade de 1,8 mil metros (a maior já operada pela empresa com esse sistema no mundo), espalhados em uma área de 100 quilômetros. Isso permitirá monitorar, em tempo real, o comportamento de todos os reservatórios, checando sua capacidade de produção. Para especialistas, trata-se de uma importante vantagem competitiva para a Shell.
Araújo, da Shell Brasil: país é vital na estratégia de crescimento
global da empresa
Para avançar em cada etapa no setor do petróleo, é necessário desembolsar um volume expressivo de recursos, sem qualquer garantia de sucesso. “Saber onde perfurar, além da quantidade de água que deve ser injetada para retirar o petróleo, representa um importante diferencial”, diz Rodolfo Landim, sócio da Maré Investimentos e ex-presidente da BR Distribuidora. Somente com o aluguel das duas sondas usadas na perfuração de até 13 novos poços no parque, a Shell irá desembolsar R$ 1 milhão por dia. Os trabalhos começam formalmente em janeiro de 2013 e a extração do primeiro barril de óleo é esperada para até dezembro. O presidente da Shell não menciona metas de produção.
Os poços contemplados com a tecnologia de Sísmica 4D serão interligados ao navio-plataforma FPSO Espírito Santo, com capacidade para produzir diariamente 100 mil barris de petróleo. A estratégia da Shell, de apostar fortemente na produtividade, é vista por especialistas também como uma forma de compensar a falta de novas áreas para exploração. O último leilão de concessões foi realizado pela ANP em dezembro de 2008. A retomada, de acordo com o Ministério das Minas e Energia, está prevista para março de 2013. “A interrupção dos leilões pode ter efeitos negativos no setor”, afirma o consultor Nelson Narciso Filho, presidente da NNF Energy e ex-diretor da agência. “O maior deles é a redução ou postergação dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.” Neste ano, o setor investiu um total de R$ 22,3 bilhões.
John Lennon contra o gás de xisto
Por Rodrigo Caetano
O eterno beatle John Lennon, assassinado em 1980, em Nova York, pode barrar a exploração da segunda maior reserva de gás natural do mundo. É que a canção Imagine, uma de suas mais célebres criações, está sendo usada em uma campanha contra a exploração do chamado gás de xisto nos Estados Unidos. Na segunda-feira 10, um anúncio publicado no jornal The New York Times estampava a frase “Imagine there’s no fracking” (Imagine que não há fraturamento), uma alusão à música de Lennon e também à técnica utilizada para retirar o xisto da rocha, a chamada fratura hidráulica, alvo de críticas de ambientalistas. A obra publicitária encomendada por um grupo de 200 personalidades, entre eles a cantora Lady Gaga, o ator Robert De Niro e a artista plástica Yoko Ono, viúva de Lennon, tenta convencer o governador de Nova York, Andrew Cuomo, a não permitir o uso da tal técnica.
Seu Estado, um dos mais populosos dos EUA, está sobre um depósito de rocha sedimentar, também chamado de xisto argiloso, conhecido como Marcellus. É nele que se encontra a reserva. Estima-se que a quantidade de gás natural presente nessas rochas é capaz de garantir aos americanos a autossuficiência até 2035. O problema é que, segundo ambientalistas, não há garantias de que não ocorrerão vazamentos durante a exploração, realizada a uma profundidade de 1,5 quilômetro, o que pode contaminar a água dos rios e lagos da região. Em fevereiro, Cuomo deve decidir se permite ou não esse tipo de atividade. O fato já está provocando uma verdadeira febre do ouro entre as empresas petroleiras. Resta saber o que agrada mais ao governador de Nova York, as belas canções dos Beatles ou o tilintar das moedas da indústria de petróleo.
Guerrilha: anúncio alerta sobre os riscos da exploração do gás de xisto