No domingo 6, a empresária Arianna Huffington foi pela primeira vez ao Super Bowl, a badalada final do campeonato de futebol americano. Embora sua visita não tenha sido motivada por questões esportivas, Arianna também estava lá para fazer o seu touchdown, a principal jogada desse esporte adorado pelos americanos – é o equivalente ao gol no nosso futebol. 

Foi lá que ela se encontrou com Timothy Armstrong, o presidente da AOL, para fechar um grande negócio: a venda de seu site, o Huffington Post, uma estrela em ascensão na internet, para aquela que um dia foi a mais poderosa companhia do mercado digital do mundo e que há anos está definhando. 

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Arianna Huffington: com foco em política, o site da empresária é responsável

por uma audiência mensal de 25 milhões de visitantes únicos 

O negócio foi selado por US$ 315 milhões. Com a venda, Arianna se tornou a presidente e editora-chefe da empresa criada com a transação, a The Huffington Post Media Group, que vai unificar o conteúdo jornalístico da AOL e do Huffington Post.  

Se para Arianna a transação milionária elevou o Huffington Post a uma nova condição, para a combalida AOL trata-se da jogada mais ousada nos últimos tempos na tentativa de se salvar. 

Nos seus anos dourados, a AOL abalou o mundo ao comprar a Time Warner, em 2000, por US$ 184 bilhões, na maior operação do gênero na história do capitalismo.  Com a quebra da bolsa eletrônica Nasdaq, logo em seguida, dias tenebrosos vieram e culminaram, em 2002, na perda de US$ 54 bilhões, fruto da redução no valor de mercado da Time Warner. Em 2009, as duas empresas se separaram.

Foi por essa época que Armstrong chegou à AOL. A batalha tem sido dura desde então. A empresa registrou lucro líquido de US$ 66,2 milhões no quarto trimestre fiscal de 2010, encerrado em dezembro. 

 

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Trata-se de uma melhora se comparado a igual período de 2009, quando o ganho foi de US$ 1,4 milhão. Mas o problema é que o desempenho só foi alcançado graças a um corte de custos de US$ 259,3 milhões. 

A receita, por sua vez, foi de US$ 596 milhões no quarto trimestre de 2010, uma queda de 26%. Para todos os efeitos, o discurso de Armstrong para a torcida é de que o resultado não foi tão ruim porque a empresa passa por uma reestruturação.   

A reformulação a que ele se refere consiste, além da redução de custos, na mudança do perfil da AOL. A partir da chegada de Armstrong, em 2009, a empresa deixou de privilegiar a oferta de serviços para investir em marcas  de nichos. 

No mês passado, por exemplo, o portal adquiriu, por US$ 96 milhões, a plataforma de vídeos online GoViral. O negócio foi fechado poucos meses depois da compra do site de tecnologia TechCrunch. Já fazem parte do grupo AOL os sites Engadget, também de tecnologia, e o Patch.com, que tem cobertura local feita pelos internautas. 

Segundo afirmou Armstrong ao jornal Financial Times, as pessoas pensam no Google quando o assunto é  busca na internet e na Amazon para comércio eletrônico. “Elas vão se lembrar da AOL ao pensar em conteúdo”, disse. 

A compra do Huffington Post é o ápice dessa estratégia. Com 25 milhões de visitantes únicos por mês, o site  começou a brilhar nos EUA ao fazer oposição ao governo de  George W.Bush. 

“O foco do Huffington Post não é o noticiário informativo, mas sim a opinião e a análise”, afirma Elisabeth Saad, professora da Universidade de São Paulo. “A AOL demonstra que seu foco na atualidade é o conteúdo especializado e voltado para a reflexão”. 

A empresa recém-adquirida também reforça a AOL em um ponto no qual o portal não tem tradição. “O Huffington Post tem grande know-how na utilização das redes sociais, o que favorece a propagação de conteúdo”, diz Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getulio Vargas e pesquisador de comunicação digital.