24/05/2013 - 21:00
Na manhã da quarta-feira 22, dois eventos relacionados à insegurança pública aconteceram no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo. No Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin anunciou mais um pacote de medidas para tentar reduzir a criminalidade. A apenas 2,5 quilômetros de distância, uma mulher era assaltada por dois jovens em seu carro, na avenida Giovanni Gronchi. A via, que dá acesso à favela de Paraisópolis e ao estádio do São PauloFC,é famosa pelos frequentes roubos e até assassinatos, embora esteja supostamente “protegida” por uma delegacia de polícia civil e por uma base da polícia militar.
Mais um pacote: o secretário Grella e o governador Alckmin anunciam medidas
contra a violência, na quarta-feira 22
A rotina de violência não é privilégio dessa região da cidade e, como se pode notar, a proximidade com a sede do governo paulista é solenemente ignorada pela bandidagem. Diante da escalada da violência urbana no primeiro trimestre – o latrocínio, por exemplo, cresceu 82% na capital (veja quadro ao lado) –, o lançamento do programa “São Paulo Contra o Crime” corre o risco de transformar-se em apenas mais uma ação midiática do governo tucano. Entre as medidas anunciadas estão a contratação de 2,8 mil policiais civis e a adoção de um bônus para os agentes da leique reduzirem as taxas de criminalidade.
A ideia não é nova – já tinha sido mencionada duas vezes pelo governo de São Paulo nos últimos dez meses – e eventuais frutos só serão colhidos no ano que vem, quando estiver implementada. “Queremos metas bem objetivas para atingir tanto os crimes contra a vida, homicídio, latrocínio, quanto os crimes ao patrimônio, e com o auxílio da sociedade civil”, afirmou Alckmin, na cerimônia. Até agora, no entanto, nem mesmo o valor do bônus foi definido. Antes do anúncio, o próprio governador havia dito que cada policial receberia R$ 4 mil, podendo chegar a R$ 10 mil em um semestre. Depois, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, informou que as metas e os valores serão definidos após um levantamento do Instituto Sou da Paz, parceiro do governo no programa.
Bônus por mérito: policiais militares poderão ser remunerados por produtividade
“A meritocracia é uma boa iniciativa que também é adotada em Nova York”, diz o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, especialista em segurança pública. “Porém, o correto é pagar um bônus por metas coletivas de cada batalhão, pelotão ou companhia, e não individuais.” Há o temor de que ocorram manipulações ou subnotificações das ocorrências, mas o Instituto Sou da Paz promete criar mecanismos de controle das metas e das estatísticas. Enquanto aguardam medidas efetivas e urgentes do governo, os comerciantes são obrigados a abrir mão de parte dos seus ganhos para investir em segurança privada.
“Há estabelecimentos que separam até 3% do faturamento para isso”, afirma Percival Maricato, diretor jurídico da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). “Parece pouco, mas isso corrói o lucro do proprietário.” Desde janeiro, já foram registrados 17 arrastões em bares e restaurantes na capital paulista, vários em áreas nobres. “Gasta-se uma verdadeira fortuna com segurança privada”, diz Celso Neves Cavallini, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Portal do Morumbi. Gasta-se mesmo. O mercado de sistemas eletrônicos de segurança no Brasil gerou R$ 4,2 bilhões no ano passado e deve crescer 11% neste ano, segundo a Abese, associação que representa o setor.
A blindagem de veículos movimenta entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões por ano, colocando o País no topo do ranking mundial de blindagem, com uma frota estimada em 120 mil veículos. As maiores cifras, no entanto, envolvem as companhias de segurança privada, que faturam cerca de R$ 11 bilhões por ano, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Vigilância (Abrevis). São Paulo, é claro, tem a maior fatia disso tudo, mas os crimes, como as explosões de caixas eletrônicos, não se restringem à capital. O que nenhuma associação consegue mensurar – nem mesmo o governo – é quanto a maior cidade do País perde em negócios por causa da insegurança, incluindo o turismo.