Se não for diretor ou gerente de tecnologia de uma instituição financeira, é pouco provável que você já tenha ouvido falar da BRQ Soluções em Informática. Fundada em 1993, com cerca de 3.500 colaboradores e tendo faturado R$ 426 milhões em 2015, a BRQ atua apenas no mercado corporativo e é praticamente desconhecida do grande público. Mesmo pouco visível, ela pode pode ser considerada uma das maiores do setor de tecnologia: nove em cada dez companhias do setor fatura menos de R$ 50 milhões, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Sortware (Abes).

Nos próximos três anos, porém, Benjamin Quadros, fundador e principal executivo da BRQ vai inserir em sua carregada agenda a tarefa de tornar a BRQ um nome familiar aos investidores. Ela anunciou sua listagem no Bovespa Mais, segmento de acesso do mercado acionário, na manhã da terça-feira 5. “Pretendemos captar dinheiro vendendo ações daqui a três anos, e vamos aproveitar esse período para nos apresentar ao mercado”, diz Quadros. A meta é aumentar a visibilidade para baratear o acesso ao capital, de olho em aquisições. “O mercado é muito fragmentado, e há diversas oportunidades”, diz ele.

O investidor pode aproveitar essa onda. O setor está barato, tendo caído mais do que a média do mercado ao longo dos últimos anos. Considerando-se um período de 36 meses findo em 31 de março, o Índice Bovespa recuou 5%. Na média, com exceção da Linx, que valorizou-se cerca de 60%, as empresas de tecnologia da informação caíram de 20% a 25%. “Os preços do setor estão muito descontados, especialmente após o Brasil perder o grau de investimento”, diz Bernardo Gomes, principal executivo da Sênior Solution. Esse desempenho, porém, não reflete uma realidade de mercado: diferentemente de outros setores, as companhias de TI possuem uma demanda cativa.

Apenas os bancos compraram R$ 21,5 bilhões em equipamentos, software e serviços em 2015, e essa cifra vem crescendo sistematicamente ao redor de 5% ao ano. Segundo Denis Arcieri, principal executivo no Brasil da empresa de pesquisa de mercado em tecnologia IDC, os investimentos no Brasil ainda têm espaço para crescer. “Na média, o investimento em tecnologia no Brasil corresponde a 2,6% do Produto Interno Bruto”, diz ele. Eram apenas 1,6% em 2010, apenas cinco anos atrás, e há espaço para mais.

“Em países maduros, como os Estados Unidos, o percentual é de 4%, e no Chile chegou a 3,1% em 2015.” A tese de Arcieri é que ainda há um razoável segmento da economia brasileira que é mais analógico do que seus concorrentes internacionais, e essas empresas representam uma oportunidade de negócio para os vendedores de equipamentos, software e consultoria. Os concorrentes da BRQ concordam. “Empresas de muitos setores usam tecnologia para ampliar as vendas de seus produtos mas, no caso do bancos e das seguradoras, é a tecnologia que permite a existência do produto”, diz Gomes.

A Sênior trilhou um caminho que começa agora a ser seguido pela BRQ: registrou suas ações no Bovespa Mais, tornou-se conhecida no mercado e captou recursos há cerca de três anos. Gomes diz estar otimista, mas recomenda um grão de cautela. “Esse setor vive de vender projetos para os clientes, e nos últimos tempos tem sido mais difícil fechar contratos”, diz ele. “Em vez de contratar um projeto de R$ 6 milhões, os clientes têm preferido negociar seis contratos de R$ 1 milhão cada, e fechar negócio à medida que o dinheiro entra no caixa.”