31/10/2012 - 21:00
Desde que começou a produzir no Brasil aparelhos com tela de LCD, a coreana Samsung sempre importou da matriz os displays utilizados em televisores, monitores de computador, celulares e tablets. Há três anos, metade desses componentes começou a ser trazida da China, fatia que agora alcança 60%. O exemplo da Samsung, segunda maior importadora brasileira, depois da Petrobras, com um volume de US$ 2,8 bilhões entre janeiro e setembro, ilustra bem a relação comercial da China com o Brasil. O gigante asiático, que já era o principal destino de exportações brasileiras, tornou-se, desde julho, o maior fornecedor do País, desbancando os Estados Unidos.
O ex-dono da bola: o presidente americano lamenta a transferência de empregos
industriais para o país asiático
No acumulado até setembro, o Brasil comprou US$ 25 bilhões dos chineses e US$ 23,8 bilhões dos americanos. “Boa parte da produção da Samsung foi transferida para a China”, diz Benjamin Sicsú, vice-presidente de novos negócios da Samsung no Brasil. “O mesmo aconteceu com nossos fornecedores.” Mas não são apenas as grandes empresas que estão comprando de companhias chinesas. O empresário brasileiro Renato Castro, diretor da Baumann Consultancy Network, com sede em Pequim, está organizando clubes de compras de empresas brasileiras, especialmente varejistas. “Os chineses se adaptaram vendendo em quantidades menores, e as empresas de pequeno porte se deram conta de que podem comprar sem intermediários”, afirma Castro.
A adequação ao mercado brasileiro fez a China ampliar sua presença no País, tirando espaço, inclusive, de tradicionais exportadores como EUA, Japão e Alemanha, com um diferencial imbatível. “Os guindastes, que antes eram comprados da Alemanha e do Japão, chegam da China pela metade do preço”, diz o consultor Welber Barral, ex-secretário do comércio exterior do Desenvolvimento. A movimentação na balança brasileira reflete as escolhas de modelo econômico feitas, no passado, pelas duas maiores potências do globo. Para reduzir custos, os fabricantes americanos terceirizaram a produção para o mercado asiático – a China, por sua vez, fortaleceu a manufatura em seu território. Hoje, em meio à crise, os Estados Unidos lamentam a perda dos empregos industriais, tema este que o presidente Barack Obama, que disputa a reeleição, vem tentando explicar.
Deixa que eu chuto: Xi Jinping, futuro líder do PC chinês,
herdará um país que exportou US$ 25 bilhões
ao Brasil este ano, até setembro
Na China, o vice-presidente Xi Jinping, que em duas semanas deve ser oficializado como novo líder do Partido Comunista, vai herdar um país que, embora em desaceleração, cresceu 7,4% no terceiro trimestre, destacando-se em meio à crise global. Não por acaso, a China passou os EUA e assumiu a liderança entre os destinos de investimentos estrangeiros no primeiro semestre – US$ 59,1 bilhões, contra US$ 57,4 bilhões. “O capital mudou de lugar”, diz Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getulio Vargas. “O capitalismo corre atrás do dinheiro e está indo para a China.” A indústria brasileira, no entanto, teme que, depois de tomar o espaço das fábricas dos Estados Unidos, a China faça o mesmo com o Brasil.
“Parte dessa importação substitui a produção brasileira”, diz Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “O que assusta é a velocidade do crescimento.” Gianetti Fonseca lembra que o déficit da balança comercial de manufaturados disparou desde 2006, de US$ 3 bilhões para US$ 90 bilhões. Enquanto isso, o Brasil não consegue diversificar sua pauta com a China. No ano passado, com a venda de commodities – minério de ferro, soja e petróleo –, o País conseguiu um superávit de US$ 11,5 bilhões, o dobro do ano anterior. Mas a queda nas cotações internacionais deve reduzir o saldo deste ano.