O Brasil vive a pior recessão econômica desde o crash da Bolsa de Nova York, em 1929. Não é pouca coisa. A inflação voltou aos 10% e o desemprego caminha rapidamente para o mesmo patamar. O próprio governo federal reconhece que o PIB deve encolher 1,9% no ano que vem, após o tombo de 3,1% em 2015. A consequência natural é a queda da arrecadação, piorando ainda mais a grave situação fiscal do País. Num contexto em que a crise política contamina as manchetes econômicas e a prisão de políticos e empresários deixa Brasília em pânico, fica adubado um terreno fértil para pacotes milagrosos e pretensamente genais que teriam a capacidade de tirar a economia da lama.

São, na verdade, idéias sabidamente fracassadas e que já foram testadas no Brasil e em diversos países. Os arautos do nonsense econômico orbitam os diversos ramos do pensamento, da esquerda desenvolvimentista à direita ortodoxa. Do primeiro grupo, fazem parte economistas que acreditam no ressurgimento da chamada nova matriz econômica. Trata-se de um conjunto de medidas que predominaram no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff e que atribuem à expansão do crédito e ao aumento dos gastos públicos a fórmula milagrosa do crescimento econômico.

Por uma questão de justiça intelectual, é importante reconhecer que esse modelo foi bem utilizado no auge da crise internacional, no biênio 2008-2009, blindando o País dos grandes transtornos causados pelo tsunami financeiro. Portanto, questionam os esquerdistas de plantão, se a fórmula deu certo lá trás por que não daria agora? A resposta é simples: o quadro fiscal mudou drasticamente. Um erro crasso na análise das finanças públicas é imaginar que o governo é muito diferente de uma família. Na verdade, a diferença se restringe à origem das receitas – impostos, no caso do governo, e renda, no caso das famílias. 

Mas a responsabilidade fiscal deveria ser igual. Do mesmo jeito que um rombo no orçamento doméstico não deve ser tapado com cheque especial, as contas públicas no vermelho precisam ser tratadas com mais seriedade. Recomendar ao governo que aumente os gastos para estimular a economia é tão estapafúrdio quanto orientar uma pessoa física a comprar mais uma geladeira sem ter quitado a anterior. Da mesma forma, turbinar o crédito agora é piorar a situação financeira de parte da população já inadimplente. As duas medidas poderiam até gerar um vôo de galinha no curto prazo, mas certamente deixariam um legado inflacionário danoso à sociedade.

Os direitistas de plantão, admiradores da cartilha ortodoxa do Fundo Monetário Internacional (FMI), também se mostram cegos diante da realidade. Pregam aos quatro cantos um ajuste fiscal recessivo, sem nenhum plano concreto de crescimento. Repetem à exaustão o fracasso da política fiscal imposta pela Alemanha à Grécia. Lá, gastos públicos foram congelados, salários do funcionalismo, cortados, e impostos, elevados. A recessão piorou e, obviamente, a insolvência fiscal ficou ainda mais evidente.

O Brasil precisa de um ajuste fiscal crível, com redução da máquina pública e reformas impopulares, como a adoção de uma idade mínima para a aposentadoria. É pré-condição para a retomada do crescimento. O pacote fiscal defendido pelo governo, no entanto, apresenta corte em obras de infraestrutura, redução da verba do Bolsa Família e a recriação da CPMF. Definitivamente não são as melhores soluções para a crise. No auge do desespero, só falta alguém dar ouvido às sandices defendidas pelos radicais de esquerda e de direita.

Em tempo: diante da grave recessão e da inflação elevada, o Banco Central manteve, na quarta-feira 25, a taxa Selic em 14,25% ao ano. O curioso é que dois integrantes, Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon, votaram por uma alta de 0,5 ponto percentual. Eles acham mesmo que os juros terão efeito sobre a gasolina, a energia e o preço do tomate?