26/08/2016 - 12:00
O Brasil enfrenta epidemias de dengue há décadas. Apesar disso, até o início do ano passado, apenas 6% da população tinha o costume de usar repelentes de insetos, segundo a S.C. Johnson, fabricante americana de inseticidas e produtos de limpeza, dona da marca Off. “A penetração é bem baixa em comparação aos Estados Unidos e até à Argentina”, afirma Stephane Reverdy, presidente da companhia no Brasil. Nesses países, o percentual é de cerca de 30%. Mas, nos últimos doze meses, a parcela de brasileiros comprando esse tipo de afasta mosquito subiu para 10%, graças às epidemias de zika e chikungunya que assolaram o País. “Nossas vendas quase triplicaram”, diz Reverdy.
Números da consultoria Nielsen mostram que o salto foi realmente grande e rápido. No acumulado de 2015, as vendas de repelentes, em unidades, subiram 32,5%, para 14,7 milhões de frascos. Apenas no último trimestre do ano, a alta foi de 55%. No mês de dezembro, o crescimento chegou a 115%. Em faturamento, o mercado teve uma alta de 49,5% no ano, para R$ 217,4 milhões. “Adicionamos dois turnos na nossa fábrica, em Manaus”, diz o executivo.
A dificuldade para a S.C. Johnson, uma empresa familiar, fundada em 1886 e com receita estimada em US$ 9,6 bilhões, é convencer os brasileiros a se protegerem ao longo do ano, e não apenas durante as ondas de contaminação. “O ponto principal desse mercado é a educação”, diz Reverdy. “Por isso que resolvemos apoiar os Jogos Olímpicos.” O Off é a marca oficial de repelente dos Jogos. Mais de 200 mil amostras do produto estão sendo distribuídas no Rio de Janeiro. Alguns atletas acabaram fazendo propaganda gratuita da empresa. Caso da goleira americana Hope Solo, que publicou uma foto nas redes sociais com a mala cheia de frascos do produto.
Ainda que se encerre a histeria – injustificada – provocada pelo zika na Olimpíada, o clima, em especial o aquecimento global, deve impulsionar esse mercado por um bom tempo. Segundo Amin Alkhatib, analista da consultoria Euromonitor, as temperaturas mais altas dos últimos cinco anos geraram um aumento nas populações de insetos. A expectativa é de que essa situação persista, abrindo uma janela de oportunidade para a indústria de inseticidas e repelentes. Agora, a pergunta que ninguém se arrisca a responder na S.C. Johnson é: para que servem os mosquitos? “Nós entendemos de repelentes, não de mosquitos”, afirma o executivo.