22/08/2014 - 20:00
Nos últimos 40 dias, duas prioridades vêm dominando a agenda de Thierry Fournier, recém-empossado presidente da subsidiária da francesa Saint-Gobain: aprender português e visitar o maior número possível de cidades. “Quando não se fala o idioma é quase impossível mergulhar na cultura local”, diz o executivo. A situação da economia, considerada preocupante por altos executivos de diversas empresas, também está na agenda de Fournier, que ingressou na empresa há dez anos e já acumula passagens por mercados desafiadores como a Rússia, onde comandou a filial local por seis anos.
Afinal, Fournier desembarca no Brasil com a missão de levar adiante a meta do antecessor, Benoit d’Iribarne: aumentar as receitas em 10% em relação aos R$ 9 bilhões obtidos em 2013. “Apesar das dificuldades pontuais, especialmente no campo econômico, o cenário é favorável a médio e longo prazo”, afirma. O otimismo leva em conta o ritmo aquecido das obras de saneamento básico e de construção civil, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Foi isso que fez com que os franceses mantivessem inalterados os planos de investir R$ 400 milhões entre Brasil, Argentina e Chile, países sob o guarda-chuva de Fournier.
“Para sermos competitivos precisamos crescer de forma contínua para atender às necessidades dos clientes”, diz. A lista de projetos em andamento não é pequena. Inclui desde a recém-inaugurada fábrica de argamassa em Itaboraí (RJ) até as duas de placas de gesso, em Feira de Santana (BA) e em Planaltina de Goiás (GO), e o Centro de Distribuição no Complexo Portuário de Suape (PE). A aposta mais portentosa é na unidade de embalagens de vidro em Estância (SE), na qual estão sendo gastos R$ 200 milhões e cuja inauguração está prevista para o final de 2015.
Um dos principais trunfos do executivo francês, graduado em engenharia, é o fato de o grupo ter uma atuação diversificada e um portfólio recheado de marcas fortes, como Quartzolit, Brasilit, Verallia, de embalagens de vidro, e seu braço varejista, a rede Telha Norte, de materiais de construção e decoração. Esta última colabora com metade das vendas anuais. A diversificação, de acordo com o presidente da Saint-Gobain, garante maior flexibilidade e possibilita equilibrar eventuais quedas na demanda de algum segmento. “Neste ano, o setor industrial, especialmente o automotivo, deverá ter uma participação menor em nosso faturamento”, diz.
“Mas a queda será compensada pelo desempenho do varejo.” Mesmo para um executivo globetrotter, que passou 22 de seus 42 anos fora da sua terra natal e já visitou 50 países, as peculiaridades de mercados como o nosso impressionam. Uma delas é a entrega de moradias aqui ser feita sem itens de acabamento, como o piso. Este fenômeno embute oportunidades e desvantagens. No primeiro caso, faz com que a demanda no varejo por materiais de construção e de decoração seja crescente. Por outro lado dificulta a introdução de técnicas construtivas mais sofisticadas, já que o nível de autoconstrução é muito elevado.
Um exemplo é o consumo anual de dry wall, uma espécie de parede pronta, que atinge 8 m² per capita nos Estados Unidos e 6 m², na França, ante 0,6 m² no Brasil. “O conservadorismo em matéria de técnicas construtivas é um traço comum em muitos países, afirma. “Mas acredito que será possível quebrar barreiras também por aqui.” Para isso, Fournier pretende intensificar as ações de marketing junto a arquitetos e empreiteiros, incluindo treinamento e divulgação dos benefícios propiciados por produtos com essas características. Em termos globais, 21% do faturamento é obtido com os chamados materiais inovadores, cuja divisão global passou a ser comandada por D’Iribarne, seu antecessor.
Além de arregaçar as mangas para manter a subsidiária na rota ascendente, o executivo vem encontrando tempo para se dedicar ao lazer. Nos momentos de folga, ele gosta de jogar squash e treinar para provas de médio percurso como a Corrida de São Silvestre, em São Paulo, e a meia maratona do Rio de Janeiro, das quais pretende participar em 2015. No convívio com a mulher e a filha, o destaque serão as viagens de final de semana para cidades brasileiras. “A partir de setembro, pretendemos conhecer uma cidade por mês”, diz com um português pronunciado com fluência, mas ainda entremeado por francês, inglês e russo.