O executivo Ron Laursen comandou por 12 anos o Scotiabank, o terceiro maior banco privado do Canadá, com US$ 743 bilhões em ativos. Fundada em 1831, a instituição financeira desembarcou de vez no Brasil em 2011 com a compra da operação do Dresdner Bank. Para Laursen, que se dedica à sua consultoria Mullas Management Consulting, o Brasil perdeu o brilho nos últimos anos, com o crescimento econômico inferior ao de seus pares da América Latina.

Qual é a imagem do Brasil junto aos investidores estrangeiros?
Durante minha passagem pelo Scotiabank, o Brasil era visto como um país estratégico. É um mercado que, em essência, oferece um potencial de crescimento acima da média. Mas, sem crescimento, o Brasil é menos atrativo que outros lugares da América Latina.

O que mudou nos últimos anos?
Como a perspectiva de crescimento é um dos fatores para a tomada de decisão de investimentos, neste momento, o Scotiabank concentrou suas aquisições latino-americanas no Chile, na Colômbia e no Peru. Essa decisão tem relação com o nível de conforto do banco com o panorama político e legislativo nesses países.

Como lidar com a nova trajetória de crescimento mundial?
É necessário realizar mudanças na estratégia dos negócios para se adaptar e obter sucesso em momentos de transição econômica. Mas é importante que o processo de planejamento estratégico não mude.

Como o Canadá conseguiu ser pouco afetado pela crise de 2008?
Nas décadas anteriores à crise, a diversificação da economia foi encorajada por políticas econômicas, incluindo o foco em setores como farmacêutico e de tecnologia. Outra característica foi a habilidade de medir, acompanhar e compreender sinais de risco embrionários, como os que relacionam dívida e poupança, e acessibilidade à casa própria.

Quais são as semelhanças entre Brasil e Canadá?
O Canadá e o Brasil compartilham uma economia baseada em agricultura e energia, além de competirem entre si, em setores como o da indústria aeronáutica. A economia canadense pode ser caracterizada como mais desenvolvida e de menor risco, mas sem o potencial de crescimento brasileiro. Já a perspectiva de altas taxas de crescimento do Brasil é um ótimo atrativo para o capital estrangeiro, mas com maior risco.

Os países também compartilham um lado negativo?
Sim, nas intervenções governamentais. Ambos têm sido vantajosos para as empresas locais no curto prazo, mas podem não ser sustentáveis em períodos mais longos.

O sr. é um defensor do planejamento estratégico. Qual é sua avaliação sobre o empresário Eike Batista?
O fator “X”, criado por Eike Batista, era demasiadamente ilusório e não foi construído com base em um modelo sólido de negócio. Uma análise apropriada identificaria facilmente lacunas entre os resultados esperados e os modelos de negócio em implementação.

O que é esse “fator X”?
Imagine duas companhias com o mesmo lucro líquido anual de US$ 3 milhões. Só que uma vale US$ 10 milhões, enquanto a outra vale US$ 30 milhões. Se ambas possuem o mesmo perfil de risco, e fazem parte da mesma indústria, podemos deduzir que a inteira diferença de US$ 20 milhões é atribuída ao fator “X”, que compreende atributos como marca, competência em gestão e grau de inovação.

Estratégia de gestão e saúde financeira precisam estar alinhadas?
Para unir estratégia e finanças, uma organização necessita garantir a conexão em cada passo do processo estratégico. Isso requer o desenvolvimento de conhecimento e habilidades estratégicas, colaboração organizacional e análise disciplinada.

Os empresários, em geral, fazem planejamento estratégico?
Aqueles que pensam no sucesso do negócio, sim. Usam o tempo para vislumbrar todo o cenário de negócios. Não consideram como algo a mais a ser feito e, sim, como fonte de todas as atividades.